Médicos Estrangeiros e Ato Mercenário
Os médicos brasileiros têm motivos para ter medo. Não têm medo somente que médicos estrangeiros trabalhem melhor e demonstrem que alguns lugares que eles consideram muito ruins, não sejam tão ruins assim. Têm medo que a grande corrupção médica de não cumprir horários e trabalhar em dois ou três empregos de 40hs semanais (cada um com salário de dez mil reais) seja explicitada. Estes médicos sacrificam vidas de brasileiros para obter salários impagáveis em um país em que ainda existe fome. Dez mil reais é considerado muito pouco para 40hs semanais!!! Não são todos os médicos assim, é verdade. Mas são assim muito mais do que os míseros 6000 estrangeiros que o MS planeja trazer. Porque os gestores e a população aceitam esta corrupção disseminada? Porque não têm opção. Preferem um médico fingindo que faz medicina do que nenhum. É a escolha "sensata" de todos que não têm escolha.
Repentinamente preocupados com os brasileiros que eles não querem atender ou que eles atendem muito mal, os médicos gastaram suas energias nos últimos anos para fazer tramitar no Congresso Nacional a lei do Ato Médico, que alguns preferem chamar de Ato Mercenário (o que nem sempre faz muita diferença). Uma proposta que explicita a ganância e o desinteresse da classe médica pela saúde dos brasileiros, uma vez que propõe, por um lado, que médicos só podem ser chefiados por médicos, onerando e burocratizando o Sistema Público e Privado, assim como prejudicando o trabalho de equipes multiprofissionais, que precisam ser coordenadas por quem tem habilidade para coordenar (o que independe da profissão). Por outro lado, o Ato Médico busca monopolizar o diagnóstico, de modo a limitar e submeter outras profissões de saúde ao poder médico, tentando obrigar alguém que deseja, por exemplo, consultar um Fisioterapeuta, a consultar antes um profissional médico. Como se o Fisioterapeuta, assim como outros profissionais, não fizessem seus próprios diagnósticos e não soubessem, como qualquer profissional de saúde, os seus limites.
Toda esta mobilização médica precisa servir para que o Brasil coloque a Medicina a serviço da sociedade e que os médicos aprendam que serão muito respeitados e bem remunerados quando souberam compatibilizar seus interesses com a saúde da população.
Gustavo Cunha
Por Emilia Alves de Sousa
Concordo plenamente com você Gustavo. O não cumprimento da jornada de trabalho por parte da maioria dos médicos é uma realidade em quase todos os contextos do SUS.
Hoje mesmo estávamos fazendo esta análise no nosso hospital.
Tomo por base o local onde trabalho e outros onde já trabalhei.
A maioria dos médicos além de chegar fora do horário pactuado, de acordo com a carga horária de contrato, somente permanece na unidade enquanto tem paciente na fila de espera pra atender. Se por acaso algum se atrasa, fica sem o atendimento, mesmo ainda estando dentro do horário previsto para o atendimento. O usuário pode esperar o médico, mas o médico não pode esperar o usuário. Não há um compromisso de responsabilidade com os pacientes retardatários.
Penso que, o médico, como os demais profissionais ( enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, etc. ) deveria permanecer na unidade durante toda a sua carga horária, independente de ainda ter usuário pra atender. Às vezes, algum usuário retorna logo após a sua saída , pra tirar uma dúvida, e já não encontra mais o médico. Hoje mesmo aconteceu um caso deste no nosso hospital. A mãe de uma criança atendida, logo que saiu, percebeu um erro no atestado recebido, e quando retornou pra falar com o médico, esse já havia saído, mesmo ainda estando no seu horário de trabalho. E vale ressaltar que tratava-se de uma usuária residente noutra cidade, e que não podia ficar esperando pra retornar na próxima semana, quando o médico voltará a atender. Um transtorno muito grande para essa pessoa. E exemplos iguais a este existem muitos.
Obrigada por provocar esta discussão Gustavo!
Um forte abraço!
Emília