Galera de Assis – SP no III Seminário Internacional A educação Medicalizada

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O vídeo faz um fecho da carta que a galera do Núcleo do Fórum sobre a Medicalização de Assis – SP escreveu, carinhosamente afetada pela intensidade do evento sobre a medicalização da vida.

 

Aqui publicamos a carta:

 

Texto do núcleo de Assis em homenagem a comissão organizadora do seminário

Kwame Yonatan 

 

            Somos uma minoria?

            É impressionante observar comoa diferença produz diferença.

            Nesses dias, que mais pareceram segundos na memória e décadas na intensidade .

            Nesse tempo indeterminado, sentimo-nos atravessad@s, choramos, sorrimos, aplaudimos de pé, as vezes, caímos no sono, não só pelo cansaço, nem pela qualidade das palestras (que foram excelentes), mas, como dizia Deleuze, que haviam alunos que dormiam meses a fio em suas aula e, subitamente, despertavam! Era o conceito despertador.

            Esse texto é uma ação, produzido a partir da metabolização de afetações sentidas naquele que é o território de maior disputa da indústria farmacêutica ao Estado: o corpo.           Esse pode ser o corpo em Nietzsche, o corpo pulsional da psicanálise, o corpo sem-orgãos, fica ao gosto de cada um.

            Repito o título, agora em tom afirmativo, SOMOS UM MINORIA! Explico. No budismo, e nós não somos adeptos do budismo, existe um princípio, chamado Itai Doshin que diz que mesmo pessoas diferentes, corpos diferentes, pessoas diferentes podem se unir em prol de um ideal maior. No nosso caso: uma vida com qualidade, com entradas e saídas múltiplas.

            Continuando em Deleuze, no seu livro “Sobre o teatro: um manifesto de menos”:
“A maioria não designa uma quantidade maior, mas atende, antes de tudo, o padrão em relação ao qual as outras quantidades, sejam elas quais forem, serão consideradas menores. Por exemplo. As mulheres e as crianças, os negros e os indígenas etc. serão minoritários em relação ao padrão constituído pelo Homem-branco-crisãto-macho-adulto-morador das cidades- americano ou europeu contemporâneo (Ulisses). Mas, nesse ponto, tudo se inverte. Pois, se a maioria remete a um modelo de poder – histórico, estrutural ou os dois ao mesmo tempo -, é preciso também dizer que todo mundo é minoritário, potencialmente minoritário, na medida em que se devia do modelo. (…) É que, para concluir, minoria tem dois sentidos, sem dúvida ligados, mas muito diferentes. Minoria designa, primeiro, um estado de fato, isto é, a situação de um grupo que, seja qual for o seu número, está excluído da maioria, ou está incluído, mas como uma fração subordina em relação a um padrão de medida que estabelece a lei e fixa a maioria. Pode-se dizer, neste sentido, que as mulheres, as crianças, o Sul, o terceiro mundo etc. são ainda maiorias, por mais numerosos que sejam. Esse é o primeiro sentido do termo. Mas há, imediatamente, um segundo sentido: minoria não designa mais um estado de fato, mas um devir no qual a pessoa se engaja. Devir-minoritário é um objetivo, e um objetivo que diz respeito a todo mundo, visto que todo mundo entra nesse objetivo e nesse devir, já que cada um constrói sua variação em torno da unidade de medida despótica e escapa, de um modo ou de outro, do sistema de poder que fazia dele uma parte da maioria. De acordo com este segundo sentido, é evidente que a minoria é muito mais numerosa que a maioria. Por exemplo, de acordo com o primeiro sentido, as mulheres são uma minoria, mas, pelo segundo sentido, há um devir-mulher de todo mundo, um devir-mulher que é como uma potencialidade de todo mundo e, a exemplo dos próprios homens, até mesmo as mulheres têm que ter devir-mulher. Um devir-minoritário universal. Minoria designa a potência de um devir, enquanto maioria designa o poder ou a impotência de um estado, de uma situação”

(2010, p. 59; 63-64).

Nesse sentido, de positivação da “reexistência”, trouxemos um vídeo que condensa bem isso: