RODA DE CONVERSA NO REFEITÓRIO DO HOSPITAL
Sendo engenheiro civil responsável pela análise e aprovação de projetos na Vigilância Sanitária do meu município, recebi um projeto de reforma e ampliação da cozinha de um hospital para fazer uma pré-análise. Como também estou fazendo o curso para formação de apoiadores temáticos em Ambiência tomei a iniciativa de procurar qualificar este projeto através de uma roda de conversa. Solicitei à administração do hospital uma reunião com a presença de pelo menos duas funcionárias da higienização (limpeza) da cozinha, duas cozinheiras, nutricionista, arquiteta responsável pelo projeto e representante da gestão.
E, assim fizemos no refeitório do hospital uma discussão bastante proveitosa. Solicitei primeiramente que as cozinheiras (que também fazem a limpeza da cozinha, menos os banheiros) contassem o passo a passo do seu serviço, desde o momento em que chegam ao trabalho. De início estavam inibidas, envergonhadas, mas aos poucos foram se soltando e falaram dos esgotos que vivem entupindo e por isso não usam a área de lavagem de carrinhos (lavam os carrinhos nas copas, quando lavam os pisos!); utilizam a área de lavagem de carrinhos para porcionamento de dietas especiais porque o balcão existente é pequeno (no projeto de reforma apresentado não está prevista a ampliação do balcão, que se hoje já é pequeno, com o aumento do número de refeições ficará ainda mais prejudicado!); precisam subir numa escada de dois degraus (tipo hospitalar) para abastecer a cafeteira (risco de acidente); o sistema de água quente não funciona e ninguém deu explicações sobre o porquê do não funcionamento; as pessoas fazem as refeições e continuam sentadas no refeitório aguardando o horário de voltar ao trabalho: para resolver este problema foi projetada uma sala de convivência, porém necessita ser melhor estruturada.
As cozinheiras desconheciam o projeto e todo o seu conhecimento e saberes não haviam sido aproveitados como uma contribuição para a melhoria dos ambientes, seus fluxos e processos de trabalho.
Numa simples reuniãozinha, numa mesa de refeitório, numa simples conversa com as pessoas que colocam a mão na massa (literalmente…), quantas informações importantes para a melhoria do setor!
Bem, mas aos poucos estamos mudando a visão centralizadora dos gestores e sensibilizando os autores de projetos (arquitetos e engenheiros) para a importância da construção coletiva dos ambientes de saúde (e também dos outros ambientes) apoiada na intercessão de saberes e não somente o projetar pautado por normativas e prescrições legais.
Este pessoal tem muito a nos ensinar, basta oportunizarmos a escuta!/sites/default/files/paulofigueiredo/cam00054.jpg
Por Emilia Alves de Sousa
Uma iniciativa democrática e protagonista. Esta é a proposta de construção de ambiência humanizada defendida pela PNH. Que este modelo seja seguido por todos os engenheiros e arquitetos envolvidos nos projetos de ambiência susista!
Parabéns Paulo pelo compromisso ético-político com a saúde!
Um forte abraço!
Emília