O Anjo Malvado – Psicopatia infantil?
Por Parcilene Fernandes
O Anjo Malvado foi lançado há 20 anos e sua temática atemporal mostra-se, tristemente, tão atual. O filme conta a história de Mark (Elijah Wood) e Henry (Macaulay Culkin), que iniciam uma convivência depois que ambos passam por tragédias familiares.
Cada personagem do filme parece viver sob múltiplas tensões, desde a resistência em sair da fase da negação do luto, até na distorção que fazem da realidade.
Segundo Hare (1998 apud DOLAN, 2004), a psicopatia é um transtorno de personalidade caracterizado por uma série de características afetivas, comportamentais e interpessoais. As primeiras conceituações dessa patologia sugeriam se tratar de um fenômeno unidimensional, mas estudos posteriores revelaram que as medidas de psicopatia envolvem múltiplos fatores. Mais recentemente, foi proposta uma estrutura de três fatores (COOKE & MICHIE, 2001 apud DOLAN, 2004), a saber:
1. Um estilo interpessoal enganador e arrogante, incluindo desinibição ou charme superficial, egocentrismo ou um senso grandioso de autoestima; mentira, trapaça, manipulação e enganação.
2. Experiência afetiva deficiente, com pouca capacidade de sentir remorso, culpa e empatia; uma consciência fraca, insensibilidade, afeto superficial e falha em aceitar responsabilidade pelas ações (utilizando-se de negação, desculpas etc.).
3. Um estilo de comportamento impulsivo ou irresponsável, incluindo tédio, busca contínua por emoção, falta de metas em longo prazo, impulsividade, falha em pensar antes de agir e um estilo de vida parasita (tais como, dívidas, hábitos de trabalho insatisfatórios).
O personagem do filme (Henry), apesar de ser uma criança, apresentava muitas dessas características. Fingia-se de ingênuo e querido, usava de sua inteligência e perspicácia para que os outros acreditassem nas verdades que ele criava. Fazia o mal sem um motivo aparente, provocava dor sem qualquer resquício de remorso (como os detalhes que contou do afogamento do irmão e pelas ações que fez que quase resultaram na morte da irmã). E tinha um comportamento impulsivo regido, muitas vezes, apenas pela necessidade de sair do tédio.
Atualmente, não há nenhum teste padrão para a avaliação de psicopatia em crianças, mas segundo uma matéria publicada no NY Times em 13/05/2012 (1), “um número crescente de psicólogos acredita que a psicopatia, como o autismo , é uma condição neurológica distinta – que pode ser identificada em crianças a partir dos 5 anos”.
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
Penso ser fundamental em qualquer análise, buscar entender e identificar o plano de onde surgem os enunciados sobre aquilo que se pretende compreender.
Dizer que o autismo e a psicopatia são distúrbios neurológicos é atribuir a compreensão de coisas tão complexas como essas a uma redução do pensamento que, pelo contrário, deveria buscar uma abertura de muitas possibilidades. A tendência a buscar os substratos materiais dos comportamentos hoje no funcionamento cerebral não é nova. E muito menos inocente. E muito menos científica. A não ser que por ciência se entenda o modelo hegemônico do positivismo.
Modelo que foi importado das ciências naturais e das matemáticas, e que se mostra insuficiente para as ciências humanas.
Há muito mais entre o céu e a terra do que pensa a nossa vã filosofia.