Aos médicos cubanos: Essa salsa vai dar samba!
Aos médicos cubanos: Essa salsa vai dar samba!
Prezado médico cubano:
Como você, sou profissional de saúde de um país latino americano, com todos seus limites e potencialidades.
Compartilhamos uma língua com a mesma origem, com sua característica flexível e calorosa, características que infelizmente não se aplicam à todas as pessoas de Cuba ou do Brasil.
Como você, venho trabalhando nos últimos anos na luta pela melhoria da saúde pública, de encontro com o público.
Como você, compartilho os medos, as satisfações e as angústias de trabalhar com a saúde e a doença das pessoas equilibrando-se em meio à precariedade da gestão pública e a miserabilidade social.
Diferentemente de você, vivo num país tomado pela lógica do capital, com as vantagens e as desvantagens que isso produz para nosso povo, que é diferente do seu.
Diferentemente de você, vivo num país onde historicamente a Saúde Pública não foi priorizada, nem pelos nossos governantes, nem pelas instituições de ensino.
Diferentemente de Cuba, no Brasil, a medicina preventiva, a medicina comunitária ou de Saúde da Família não chegaram nem perto de serem eleitas formações desejadas nem prioritárias pela nossa categoria médica, o que se verifica a partir das inúmeras vagas não preenchidas de residência nesse campo, bem como pela ausência de médicos em mais de 10.000 equipes de Saúde da Família de centenas de municípios.
Dadas algumas das nossas semelhanças e diferenças, quero dizer que sua chegada é muito esperada por aqueles que precisam do seu saber e que cultivam a necessidade de encontro com um profissional do cuidado. Sua chegada é festejada por qualquer médico, gestor , trabalhador ou usuário com conhecimento e responsabilidade sanitária, que conhecem as necessidades de saúde pública do Brasil e entendem que a saúde é um direito e não uma mercadoria.
Paradoxalmente, sua chegada é indesejada por parte da categoria médica brasileira, impregnada por interesses corporativos e mercantis.
As manifestações contrárias a sua vinda fazem parte do universo democrático. Os médicos brasileiros preferirem atuar nos grandes centros urbanos é uma escolha. As vaias e desrespeito com que vocês foram recebidos em Fortaleza são menos do que isso, são prova de que ter acesso a um diploma de medicina não é sinônimo de boa educação e respeito ao outro.
Esse tipo de comportamento não é representativo de todos os médicos e médicas, muito menos dos profissionais de saúde em geral. Também não é representativo do povo brasileiro, que apóia e espera ansiosamente sua chegada.
Por isso tudo quero agradecer a cada um de vocês médicos cubanos, pela disponibilidade e generosidade em se deslocar para o nosso país e trabalhar em territórios que há décadas estão descobertos sem assistência médica.
Obrigada por trazer para nosso Brasil e para nossos Postos de Saúde as contribuições da medicina Cubana, mundialmente reconhecida por seus avanços e inovações no campo da Atenção Básica. Obrigada por garantir acesso à assistência médica a parte considerável da nossa população.
Obrigada por realizar esse trabalho em mais de 60 países que os bem recebem, reconhecem e valorizam suas práticas! Precisamos disso aqui!!!
Vocês verão que o Brasil tem muito mais a mostrar do que vaias em aeroportos. Apesar da precariedade dos territórios em que irão atuar, vocês verão que as equipes de saúde Brasil à fora criaram arranjos criativos e inventivos de cuidado, que o povo brasileiro é também trabalhador, cordial, caloroso, afetivo!
Desejo que esse encontro seja potencializador tanto da sua prática quanto do nosso sistema de saúde; que a gente seja capaz de compor uma parceria potente, afirmando nossas diferenças e produzindo vida!
Certamente, nesse encontro teremos ritmos diferentes, variações de impressões, embates duros, momentos de diversão e alegria, sempre com o desejo de que seja um bom encontro! Entre pandeiros e macaras, essa Salsa vai dar Samba!
Bem vindos!!!
Sabrina Ferigato
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
De que somos capazes, os brasileiros, Sá!