Roda Ampliada de Ambiência no IFF/Fiocruz/RJ
Centralidade da ambiência na instituição hospitalar em debate no IFF
Irene Kalil
Consultora da PHN/MS abordou, em roda ampliada de conversa com profissionais do Instituto, a complexidade do conceito, considerado, ao mesmo tempo, como espaço de trabalho e prestação de serviços e ambiente de relações interpessoais
Profissionais de diversos setores do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) participaram, este mês, da Roda Ampliada de Ambiência, organizada pela equipe responsável pela Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde (PNH/MS) na unidade. O diretor do IFF, Carlos Maciel, abriu o evento, no qual a arquiteta e consultora da PNH/MS Ana Paula Costa abordou o conceito de ambiência, uma das diretrizes da proposta de humanização da atenção e da gestão em saúde.
“A ambiência vem ganhando tanta importância que virou diretriz da política. O conceito abrange não somente o espaço de trabalho, mas o ambiente onde se desenvolvem relações entre colegas e entre profissionais e o seu público”, afirma Ana Paula. A necessidade de converter os espaços físicos hospitalares em ambientes mais acolhedores e saudáveis, tanto para trabalhadores quanto para usuários, tem se tornado, nos últimos anos, prioridade para muitas instituições de saúde, como o Hospital Municipal Odilon Behrens e a Maternidade Sofia Feldman, ambos em Belo Horizonte, a Maternidade e Clínicas de Mulheres Bárbara Heliodora, no Acre, e, no Rio de Janeiro, o Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ) e o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
A arquiteta destaca que um espaço saudável não pode ser pensado sem a priorização dos sujeitos que nele convivem. Para ela, todos os envolvidos no uso do espaço devem participar do grande desafio conceitual e de método: sintonizar o que fazer e o como fazer. “O projeto de construção ou intervenção precisa ser cogerido e coproduzido e requer um reposicionamento do olhar sobre esses espaços. Às vezes, pequenas alterações, que envolvem poucos ou mesmo nenhum investimento financeiro, modificam significativamente a dinâmica das pessoas no lugar”, ressalta.
Ana Paula relatou experiências de unidades hospitalares pelo Brasil que vêm trabalhando no sentido de humanizar o atendimento ao público e as relações de trabalho a partir da diretriz da ambiência, convidando, inclusive, os usuários a participarem ativamente das transformações. “A ambiência é definida como um espaço que é físico, social, profissional e de relações interpessoais e deve estar relacionado a um projeto de saúde compartilhado, confortável para todos”, salienta. Ela ressalta, ainda, que a ambiência como elemento isolado não altera os processos, mas contribui para a constituição coletiva de um ambiente de convivência mais potente.
IFF: nova sede é oportunidade de mudanças
Em relação ao projeto da nova sede do Instituto, que se encontra em fase de elaboração, a arquiteta destacou a grande oportunidade que se apresenta para a instituição. “Devemos aproveitar momentos de mudança física no espaço para refletir sobre mudanças nos modos de estar nele. No caso do IFF, que está mudando para um novo local, faz-se necessário pensar sua implantação no terreno onde está prevista a construção e as relações com o entorno. Questões como que projeto de saúde da instituição está sendo passado para a sociedade e qual a expectativa da população em relação a ele são muito importantes”, constata Ana Paula. Segundo ela, além de levar em conta as normas e resoluções de segurança referentes ao setor, que garantem a saúde do paciente e regulam o controle e gerenciamento de riscos sanitários, é preciso considerar as condições de mobilidade e acessibilidade, o conforto térmico e acústico nos ambientes, entre outros aspectos. “Trata-se de uma mudança do modelo hospitalocêntrico para uma ideia de rede de assistência à saúde. Isso inclui uma transformação na gestão da clínica, que passa a ser ampliada e compartilhada, e implica a necessidade de pensar espaços de encontro multidisciplinares para comunicação e convivência entre profissionais de várias áreas”, completa.
Ao final da palestra, Carlos Maciel falou do protagonismo do gestor nesse processo. “A concretização dessas mudanças dependem de sua sensibilidade para debater essas questões internamente e para abrir a instituição ao intercâmbio com a comunidade”. Durante o restante da manhã, os profissionais presentes ao evento integraram grupos de trabalho para realização de uma oficina de ambiência, coordenada por Ana Paula e pelas consultoras da PNH/MS no Instituto. A proposta é que as reflexões e necessidades de mudanças com relação à ambiência, ainda no atual prédio, sejam pautadas nas reuniões de colegiado das áreas e unidades de produção da atenção à saúde.
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
A idéia da co-criação coletiva da ambiência na saúde mostra mais uma dimensão de possibilidade da co-gestão. Essa diretriz ganha cada vez mais adeptos.