COMO MEDIR CIÊNCIA?

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z-avaliacao.jpgA resposta tem fomentado discussões entre pesquisadores e a comunidade científica do mundo todo. Neste sentido, o pesquisador do Lappis e professor associado do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IMS/Uerj), Kenneth Camargo, tem promovido debates críticos e reflexivos sobre as formas de avaliar os trabalhos científicos. No artigo “Produção Cientifica: avaliação da qualidade ou ficção contábil?”, publicado na edição de setembro da Revista Cadernos de Saúde, Kenneth questionou o atual modelo utilizado na avaliação das produções científicas no Brasil, que, segundo ele, é baseado quase que exclusivamente na utilização de indicadores bibliométricos quantitativos, tendo como principais critérios a hierarquização dos veículos, o número de publicações e a repercussão do trabalho através das citações recebidas.

Kenneth Camargo reconhece a utilidade desses indicadores e da necessidade de avaliação, mas critica o peso excessivo que as agências brasileiras de fomento à pesquisa dão a esses fatores puramente quantitativos, em detrimento de fatores qualitativos. Para ele, a quantificação das publicações científicas e das citações como fator determinante de avaliação é falha e estimula a produção em série de artigos sem inovação e qualidade. "O aumento do número de artigos não tem necessariamente como contrapartida um acréscimo, ou mesmo manutenção, da qualidade geral dos mesmos. É razoável, portanto, supor que a adoção de critérios de avaliação que estimulam a produção de quantidades cada vez maiores de títulos publicados contribua para a deterioração da relação sinal-ruído na comunicação científica. Esses indicadores são, num certo sentido, números sem maior significado, sem correspondência relevante com os processos efetivos de produção científica e menos ainda de estabelecimento de sua qualidade. Neste caso, a objetividade dos números é ilusória”, analisa.

kenn.jpgSegundo o pesquisador, as consequências negativas frente à proliferação de textos, ainda que basicamente corretos, são: o aumento de autores nas publicações sema adequada mensuração de sua contribuição para a pesquisa; a distribuição de conteúdos em diversas publicações, conhecidos como “publicação salame”; e a criação de clubes de citações mútua. “Os critérios da avaliação quantitativos, pressionam os pesquisadores a publicarem cada vez mais, causando danos à produção científica, quer por estimular subterfúgios eticamente discutíveis, quer pela inibição da ousadia e da inventividade dos pesquisadores. Amultiplicação do número de autores para cada texto são fenômenos há muito conhecidos na literatura mundial e que começam a se manifestar em nosso meio. A adoção dessas medidas são contraprodutivas a médio e longo prazo, se o que se deseja é ciência de qualidade, e não simplesmente número de títulos publicados”, ressalta.

A criação de um mercado maleável para a indústria farmacêutica é outro fator preocupante apontado por Kenneth. “Financiar programas de pesquisa e produzir conhecimento científico, de acordo com seus interesses, passou a ser uma estratégia fundamental da indústria farmacêutica, que transforma o processo de legitimação científica em estratégia de marketing, comprometendo a credibilidade do processo de construção do conhecimento e incentivando distorções nos critérios de avaliação de qualidade dos artigos científicos”, alerta.

Para quebrar esse ciclo, de acordo com Kenneth, é preciso adotar formas mais inovadoras de avaliação baseadas em uma abordagem qualitativa. Para isso, propõe a adoção de um pequeno conjunto de produtos ligados ao projeto ou programa que possam ser examinados, para que a elusiva qualidade da produção seja de fato considerada nas avaliações. “Essas medidas já são adotadas porpaíses como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido. Nesses lugares, eles estão querendo de fato ver o que está sendo publicado, analisando as publicações de forma qualitativa. Para isso, pedem que o candidato escolha, num determinado período, as cinco produções que julgue mais importante. Após a opção, o material é analisado, pela coerência, pela existência de uma linha de pesquisa, pela inovação do tema ou da metodologia empregada e pela repercussão adicional fora da área”, esclarece. O pesquisar ainda salienta que “estáhavendo uma pressão internacional crescente para a revisão do uso exclusivo da lógica quantitativa. Estão chegando a conclusão de que esses critérios estão produzindo efeitos que não são desejados e que em última análise não está avaliando o que se propôs a ser avaliado”.