Usuários indígenas como protagonistas de uma roda de conversa no hospital

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Ontem (30), aconteceu uma roda de conversa com os pais/acompanhantes das crianças e adolescentes internados no HILP, que contou com a presença de assistentes sociais, enfermeiros e dos indígenas José Carlos Kryt e Osmar Carcaxy (pajé) da etnia Canela, residentes na Aldeia Escalvado no município de Fernando Falcão, localizada ao sul do Maranhão.

José Carlos é pai da criança J.J.C, de 12 anos de idade que foi vítima de um acidente com fratura exposta num dos membros inferiores, tendo sido hospitalizado no HILP  para realização de um procedimento cirúrgico e recebeu alta na sexta-feira (25). Por ocasião da alta, o José Carlos compareceu ao Serviço Social para solicitar o seu deslocamento à CASAI de Teresina, oportunidade em que agradeceu o bom atendimento recebido por parte dos profissionais do hospital. Acrescentou que durante o período em que esteve com o filho hospitalizado observou a cultura dos “brancos” e percebeu por parte dos outros acompanhantes uma certa curiosidade sobre a sua cultura. Informou que estaria retornando com o filho para uma reavaliação médica e retirada dos pinos  da sua perna, no próximo mês, e que gostaria de falar da cultura do seu povo para o coletivo do hospital. Como em todas as quartas-feiras, realizamos uma roda de conversa com os pais acompanhantes, dentro da iniciativa Educando para a saúde e cidadania, com objetivo de escutar os usuários, trabalhar informações sobre saúde, políticas públicas e direitos, fizemos o convite para que participasse da reunião de ontem, tendo o indígena aceito o convite. Fizemos articulação com os gestores da CASAI, que viabilizaram o seu comparecimento e do pajé da aldeia (curandeiro), que também se encontra na cidade para tratamento  médico.

Na roda, cada participante, como é de praxe, se auto apresentou identificando o nome, procedência, e teceram alguns comentários sobre o atendimento do hospital. Na sua vez, os indígenas se levantaram e cumprimentaram os participantes, numa atitude de reverência e respeito aos não indígenas. Os dois fizeram um rico relato sobre a cultura da aldeia, em que residem, ressaltando a língua falada ( Jê e Português), os costumes, forma de liderança, saúde, diversão e ritos como o casamento. Alguns aspectos culturais nos chamaram a atenção como, os pais não poderem  abraçar e beijar os filhos, pois tais atitudes são consideradas como falta de respeito.  Todas as decisões da tribo são tomadas em assembleia, e em roda com a participação das lideranças e dos demais indígenas do sexo masculino. As mulheres não tem permissão pra participar das rodas. O casamento é monogâmico, e tanto o homem quanto a mulher só podem se casar duas vezes, e caso o casamento termine antes de dois anos, a mulher recebe uma espécie de indenização do ex companheiro. Nos casos de doenças em que o índio fique acamado, ele não deve ficar sozinho, para evitar que a morte leve o seu espírito. E por ocasiões de cirurgias, tanto o doente quanto a família não pode se alimentar de carne de galinha. Coincidentemente, no dia da cirurgia do filho do José Carlos, foi servido galinha no almoço, e ele se negou a consumir.
As doenças mais simples são tratadas pelo pajé. Somente os casos que ele não consegue tratar são encaminhados para o posto de saúde da própria aldeia, e ou para outros municípios como Barra do Corda e ou ainda para São Luis e Teresina.

Os dois indígenas além dos relatos, cantaram, dançaram, e solicitaram que cantássemos pra eles. Cantamos algumas cantigas de roda. Outro fato curioso é o gosto por aplausos. Sempre que falavam algo, eles mesmos aplaudiam, e solicitavam que as pessoas aplaudissem também. Era visível a satisfação dos dois pelo protagonismo na roda, dialogando sobre as suas vivências e tradições culturais.

Na avaliação da roda, todos os participantes enfatizaram a importância do encontro pela interação com os indígenas e pelo compartilhamento das tradições culturais. As informações compartilhadas serão relevantes para uma melhor acolhida a esses usuários no hospital.

Finalizando o encontro, foi servido um lanche com um cardápio adaptado às preferências indígenas.
 

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