No agreste, pacientes agradecem médicos cubanos de joelhos

14 votos

 

 

medico_3.jpg

"Eles [pacientes] ficam de joelhos no chão, agradecendo a Deus. Dão beijos", afirma a médica, que atendeu 231 pessoas neste primeiro mês de trabalho dos profissionais que vieram para o Brasil pelo programa Mais Médicos, do governo federal.

O posto de saúde em que Teresa trabalha fica no distrito de São Domingos, região pobre e castigada pela seca.

Durante os últimos quatro anos, o posto não tinha o básico: médicos. Até o final de setembro, quando Teresa chegou ao distrito, quem andava quilômetros de estrada de barro até chegar à unidade de saúde sempre voltava para casa sem atendimento.

A situação se repetia a algumas ruas de lá, no posto onde o marido de Teresa, Alberto Vicente, 43, começou a trabalhar em outubro.

"Foi Deus quem mandou esse homem. Era uma dificuldade, chegou a fechar o posto por falta de médico", disse a aposentada Isabel Rocha, 80, que agora controla o diabetes sob orientação médica.

Alberto e Teresa integram um grupo de 400 cubanos que chegaram pelo Mais Médicos na primeira etapa do programa. Outros 2.000 dos seus conterrâneos começaram a trabalhar no dia 4 de novembro, 76 deles em São Paulo.

Uma terceira leva de 3.000 médicos da ilha chegou esta semana a cinco capitais. A previsão é que eles comecem a trabalhar em dezembro.

Eles têm alimentação  e moradia fornecidas pelas prefeituras e recebem por mês entre R$ 800 e R$ 900 do governo federal. O restante da bolsa de R$ 10 mil mensais é distribuído entre parentes dos médicos e o governo cubano.

ATENDIMENTO

Alheia à polêmica salarial, a população lota os postos que há um mês estavam vazios, já que não havia médicos.

A agricultora Maria Inácia Silva, 69, havia visto um médico pela última vez em 2005.

Ela se disse impressionada pela forma como foi atendida pelo cubano Nelson Lopez, 44, novo médico do povoado de Capivara, em Frei Miguelinho (PE).

A diferença no atendimento está desde a organização dos móveis: a cadeira do paciente fica ao lado da mesa do médico, para que o móvel não seja uma barreira entre eles.

"Gostamos de examinar o paciente, dedicar um tempo a ele, considerá-lo gente", disse Lopez.

As filas e as consultas são longas. Ainda estava escuro quando Maria Inácia Silva chegou ao posto e ela só foi atendida na hora do almoço.
Passou cerca de meia hora no consultório e finalmente soube que as dores que sente se devem ao reumatismo.

"Ele é ótimo médico, apesar de estrangeiro. Em 69 anos, nunca vi um médico tão bom", disse Maria Inácia.

Folha de São Paulo
10.11.13