CTHMobSUS: rede quente no trabalho em saúde no MT
Realizamos na sexta-feira o 5a. encontro da CTHMobSUS – Câmara Técnica e Mobilização em Defesa do SUS. Neste último encontro deste ano de 2013 conduzimos o trabalho da PNH no estado MT, comemorando o crescente número de participantes. A cada reunião temos incluído novos atores da Saúde. A qualidade das trocas efetuadas tem nos tocado de tal modo que a CTH vem se efetivando como um espaço potente de por em ato esta tecnologia de encontro. Nesse tempo temos aprendido a fomentar a rede de conversa, um modo de “estar com”, “próximo de”, pelo compromisso corresponsável firmado pelo coletivo de “envolver-se com” o outro cuja diferença costuma trazer perturbações no modo instituído dos processos de trabalho.
Por isso, no dia anterior realizamos reunião com alguns usuários e seus representantes – Conselho Estadual de Saúde/CES, Conselho Municipal de Saúde de Cuiabá/CMS, alguns Conselhos Gestores de Unidades Básicas de Saúde e ANESP – quando apresentamos os objetivos da CTHMobSUS e formalizamos o convite à participação e, assim, passarmos a contar com o olhar daquele que se beneficia do serviços de Saúde sobre o modo como operamos o trabalho.
Neste espaço da CTHMobSUS conversamos sobre o Acolhimento e a Classificação de Risco, considerando nosso aprendizado no trabalho do apoio institucional a serviços que vem implementando a Diretriz e um de seus Dispositivos associados. Alguns pontos de reflexão foram trazidos pelos participantes: 1) a distância entre dois nós da rede (nível central e o serviços) tem produzido uma rede fria. “Prescrevemos o que fazer sem ouvir aqueles (trabalhadores e usuários) que lidam com a realidade da saúde cuja velocidade da urgência impera o cotidiano de trabalho nas unidades. Partimos de um ideal, pois não estamos com o nosso objeto de trabalho a nossa frente”; 2) a PNH tem nos provocado a sair de uma rotina instituída de não incluir o que pensa e sente nossos usuários. Saímos do nível central com ideias pré-concebidas sobre o que vamos fazer no encontro com este diferente; 3) falta conversa, um fazer junto, um “fiar com” o usuário que, na maioria das vezes, desconhece seus direitos e deveres de como participar e corresponsabilizar-se pela gestão da saúde por meio da efetivação de Colegiado Gestor Local, Ouvidoria, Visita Aberta, Reuniões com acompanhantes, dentre outros. “Estamos aqui desde ontem pensando em como incluir os usuários nas atividades que estamos conduzindo. Fomos acostumado a delegar. Os usuários, a família e comunidade desconhecem estes dispositivos”; 4) há temor que os grupos condutores de redes façam uma rede fria. E, a própria CTHMobSUS também precisa cuidar para que nosso trabalho não sucumbe a este risco, pois sabemos que o instituído nos espreita; 5) “Sempre que ouço a PNH sinto um incômodo”. A correria, a verticalização, os condicionamentos que somos submetidos nos joga numa rede fria; 6) “estamos sendo formados por profissionais desencorajados, desestimulados quanto a possibilidade em fazer diferente. Vamos reproduzir a linguagem equivocada?” E nos perguntam as estudantes do último ano de enfermagem: “Como fazer com que a PNH atinja as faculdades de saúde para formarem melhor os acadêmicos?”
Ao final do dia pactuamos a realização de dois encontros (pré-CIR) das maternidades que já iniciaram a discussão sobre o Acolhimento com as que ainda estão distante dessas conversas, identificando o gargalo que vem sendo produzido na RC. O fortalecimento das discussões dos NAQH com os GCRUE estadual e municipal foi reafirmado e identifica-se necessidade de avançar no processo de articulação dos trabalhadores e gestores com os usuários para que a mobilização em defesa do SUS se efetive.
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
Relato muito bem-vindo, Beth!
Esperamos que funcione como inspiração para o aparecimento de outros estados do país nesta roda virtual.
Poder explicitar a dimensão das dificuldades que vivemos por tentar mudar as formatações mais tradicionais da gestão e cuidado não é pouca coisa.
A RHS agradece a "coragem da verdade" que comparece no relato e que potencializa a emergência de outras palavras, única via de acesso para a produção e o acolhimento de diferenças em qualquer lugar.