Você Trabalha com Homossexuais?

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A polêmica ocorreu essa semana. Helio dos Anjos, técnico do time do Goias, estava furioso com o fato de alguns  jogadores estarem insatisfeitos com a contratação de um novo atleta para a equipe. Acusou-os de ciúmes e disse que homem ter ciúmes de homem é coisa de homossexual e que ele não trabalha com homossexuais.

 

Claro, a declaração repercutiu e muitos movimentos GLS já deram seu grito de protesto. Quero juntar-me ao coro e denunciar a impropriedade da declaração mas, ao mesmo tempo, quero caminhar numa outra direção.

 

O preconceito não é algo que desaparece da noite para o dia. Ele está consagrado pela cultura e se reproduz de forma insidiosa. O velho Einstein já expressava seu inconformismo ao dizer que vivia num mundo onde era mais fácil dividir o átomo do que quebrar os preconceitos. Ele, como judeu, sentia todo o tempo as consequências nefastas do antissemitismo.

 

Quando menos se espera ouvimos de pessoas que negam preconceito de cor sinalizarem que se sentiriam incomodadas se os filhos se casassem com parceir@s negr@s. Outras afirmam com todos as letras que não se importam em conviver com homossexuais mas teriam verdadeiro horror se os filhos seguissem essa orientação sexual. Teríamos "evoluído" para uma nova forma de preconceito, que afirma uma possibilidade de convivência social de caráter hipócrita e superficial?

 

 

 

As vezes acho que ser preconceituoso transformou-se numa quebra de regra de etiqueta, como arrotar na mesa ou por o dedo no nariz em público. Muitas pessoas omitem seu preconceito mas volta e meia, inadivertidamente, são flagradas. Existe algo de bom nisso, sem dúvida, algo parece ter mudado.

 

Não vale a pena transformar o técnico do Goias numa "Bruxa de Salém". Fazendo dessa forma estaríamos sendo meio que preconceituosos com alguém que expressa preconceito. Seguiríamos a sina de transformar em bode expiatório a diferença que não aceitamos. Claro, não podemos também seguir o caminho da indiferença, fingir que esse tipo de fala não nos toca seria assumir uma conivência pela omissão.

 

Fica o alerta! Quando lutamos dia a dia para ampliar o leque da inclusão para finalmente transformar esse país numa Repúblcia de fato, as vezes nos esquecemos que a reforma radical tem que incluir a nós mesmos. Os serviços de saúde devem incluir as situações desestabilziadoras já nos ensina o método da PNH. Quando transsexuais pedem para serem colocados em enfermarias femininas, não pdoemos simplesmente virar as costas e fingir que o problema não nos diz respeito. O SUS só será de fato solidário e humano quando for o palco da diversidade  celebrada pelo cuidado acolhedor e competente.

 

O humano possui muitos matizes e ao negarmos a expressão da humanidade do outro estamos, no fim das contas, negando a nós mesmos. Não adiantará nada lutar pela inclusão de indivídiuos e grupos se continuarmos a rir de piadas de negros e homossexuais ou pedirmos para o amigo deixar de "viadagem" quando queremos criticar posturas muito meticulosas. Existe um trabalho que talvez seja mais hercúleo: autoquestionar o preconceito que habita o coração de cada um de nós.