Prá não se acomodar!
No Caminho, com Maiakóvski (Eduardo Alves da Costa)
"Assim como a criança humildemente afaga a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro com um poeta soviético.
Lendo teus versos, aprendi a ter coragem.
Tu sabes, conheces melhor do que eu a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores, matam nosso cão,
e não dizemos nada."
Até que um dia, o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm a ninguém é dado
repousar a cabeça alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã, diante do juiz,
talvez meus lábios calem a verdade
como um foco de germes capaz de me destruir.
Por Erasmo Ruiz
Querem que eu diga a verdade
Mas de que verdade falam?
Das mentiras inscritas nos livros santos?
Das letras dos hinos nacionais
Respingadas de sangue?
Querem que eu paciente caminhe
Pelas estradas da normalidade constitucional
Quantos mortos lhe serviram de pavimento….
Quantas lágrimas salpicam suas pedras…
Querem que eu cometa o atrevimento
De prometer juras eternas
Eu que a qualquer hora me acabo
Neste mundo que a qualquer hora evapora
Não me cobrem nada além do meu presente
Não se pode pedir que as pessoas morram
De maneira bem comportada
Em filas nas calçadas.
Diante de cartões corporativos
Um AR-15 não é nada!
Por isso não me fale de "verdades"
Minha voz, minha garganta
Formam tuas aspas!
ERASMO RUIZ