Programa inédito mostra-se eficiente na prevenção da síndrome do esgotamento profissional
A síndrome de esgotamento profissional, descrita na língua inglesa como síndrome de “Burnout”, é caracterizada pela exaustão emocional e perda de entusiasmo pelo trabalho além da redução da empatia com as pessoas com uma tendência de tratá-las como objetos, fenômeno chamado de despersonalização. Estudos demonstram que um em cada três médicos sofre da síndrome de esgotamento em algum período da sua vida profissional, e apesar de ser um transtorno tão prevalente e relevante, são poucas as pesquisas que estudaram intervenções que possam ajudar. Mais raras ainda são as evidências de intervenções organizacionais, pois a maioria dos estudos foi realizada com pequeno número de participantes.
Pesquisadores da Universidade de Rochester nos Estados Unidos demonstraram de forma inédita que um programa de 52 horas distribuídas no período de um ano com o objetivo de melhorar o bem-estar do médico foi capaz de reduzir o risco da síndrome de esgotamento profissional e de transtornos do humor, além de melhora do grau de empatia com os pacientes. O programa foi oferecido a 70 médicos e incluía a prática de meditação para estimular a capacidade de estar mentalmente presente e com atenção nas atividades do dia-dia, além de uma dinâmica em grupo de troca de experiências com outros médicos. A pesquisa acaba de ser publicada pelo Journal of the American Medical Association.
Já é bem reconhecido que a síndrome de esgotamento profissional no médico está associada a uma piora da qualidade do atendimento oferecido aos pacientes e abandono da carreira, mas também a inúmeras repercussões pessoais como maior risco de acidentes, abuso de substâncias psicoativas, idéias de suicídio, doenças físicas relacionadas ao estresse e dificuldade nas relações familiares. O presente estudo abre caminhos para intervenções preventivas para um sério problema de saúde e de grandes custos sociais que não é restrito ao médico, mas afeta diversas classes profissionais.
13 Comentários
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Por Ricardo Teixeira
Bem vindo à RHS!
O tema deste seu post vem sendo intensamente discutido em nossa rede colaborativa, mas não só por aqui e não apenas restrito ao profissional médico. O assunto está mesmo na ordem do dia e o "esgotamento" (burn-out) dos vários profissionais de saúde se tornou, nos últimos anos, um problema de saúde pública em escala global.
Destaco alguns posts publicados na RHS, apenas nos últimos dias, que me parecem estreitamente relacionados ao tema, como Desumanização da prática médica: um obstáculo à compreensão da dor e, especialmente, os resultados de uma pesquisa divulgada pelo nosso colega de Campinas, Gustavo Nunes: “Por que médico não fica?”
Mas temos discutido muito esta questão, há muito tempo, e uma boa parte desta produção pode ser conhecida, visitando as tags trabalho em saúde e saúde do trabalhador.
A Política Nacional de Humanização tem como um de seus princípios norteadores a valorização do trabaho e dos trabalhadores da saúde, apoiando "programas de qualidade de vida e saúde para os trabalhadores da saúde" e oferecendo vários dispositivos facilitadores como o "Programa de Formação em Saúde e Trabalho". De fato, é difícil se imaginar qualquer proposta de "humanização das práticas de saúde" que não passe também por aí…
Bem, tudo isso é para dizer que sua contribuição é extremamente pertinente neste espaço e que compartilhamos uma ampla margem de interesses comuns. Com o intuito de aprofundarmos esta conversa, gostaria de levantar algumas questões e conhecer suas reflexões a respeito…
Não tive acesso ao JAMA e desconheço detalhes da pesquisa que você divulga. Aparentemente, ela combina "a prática de meditação para estimular a capacidade de estar mentalmente presente e com atenção nas atividades do dia-dia" com "uma dinâmica em grupo de troca de experiências com outros médicos". Esta última estratégia pode, talvez, se aproximar de uma das estratégias especialmente valorizadas pela PNH e que chamamos de "método da roda". É claro que não é qualquer "dinâmica de grupo" que possui a potência do "método da roda" e, por isso, lançamos mão de outros métodos combinados como o chamado "método da tríplice inclusão", que visa ampliar a capacidade de análise dos trabalhadores de seus próprios meios e condições de trabalho, incluindo na roda (1) os diferentes sujeitos, (2) a dimensão coletiva e (3) os conflitos, que operam como "analisadores" das práticas em questão.
Em suma, consideramos que as "intervenções preventivas", diante deste sério problema do "esgotamento" dos trabalhadores da saúde, passam necessariamente pela ampliação da capacidade de análise por parte dos trabalhadores dos processos de trabalho em saúde, com vistas a ampliar sua potência de transformá-los. Em outras palavras, reconhecemos que a dimensão mais determinante do "adoecimento" dos trabalhadores da saúde está dada nos modos de organização do processo de trabalho em saúde e que sem enfrentar esta questão (política), muitas intervenções acabam sendo meramente paliativas ou cosméticas.
Gostaria muito de saber se a referida pesquisa vai nessa direção e qual sua opinião a respeito!
Grande abraço,
Ricardo Teixeira
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Por Cláudia Matthes
é preciso falar sobre o que causa tanto sofrimento a tantas pessoas que produzem saúde no pais.
Se você incluir a tag: links interessantes estará divulgando teu blog e aumentando a rede de cuidados da saúde do trabalhador de saúde.
Um grande abraço
do sul
Cláudia-Peju
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Ricardos
Beleza de tema para conversarmos mais em nossa rede. Aliás, ela é um fator anti-burn-out para quem dela participa.
Estou lendo um texto chamado "Dar forma a nós mesmos: sobre a filosofia da arte de viver em Nietszche" de Wilhelm Schmid ( na revista Verve, do NU-SOL, núcleo de sociabilidade libertária da PUC ) e me deparo com o seguinte:
"Devemos entender por arte de viver a capacidade de conduzir a própria vida; ela abrange um elenco de práticas, técnicas e tecnologias, uma ascética e uma estilística. E ESTÁ LIGADA AO TRABALHO: "Temos que trabalhar, senão por gosto, então ao menos por desespero, pois tudo bem pesado, trabalhar é menos tedioso do que se distrair"( Nietszche ).
O TRABALHO, como uma importante dimensão do trabalho estético que fazemos sobre nós mesmos, não deveria ser fonte de diminuição de nossas potências. Ao contrário," pois como diz Nietszche, o homem está ‘ainda inesgotado para as maiores possibilidades’.
Iza
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Por Ricardo Teixeira
Iza,
Sua capacidade de relançar qualquer coisa que a gente diga num patamar mais e mais sublime, seja agregando poesia ou filosofia, é absolutamente maravilhoso! É a sua marca!
Como te disse nosso companheiro Edu Passos, recentemente, é um privilégio muito grande merecer teu olhar…
Beijo grande,
Ricardo
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Por Ana Rita Trajano
Como pesquisadora deste campo da Saúde do Trabalhador e Humanização do SUS, acompanhando processos de análise coletiva de conflitos, em roda, favorecendo a inclusão dos diferentes sujeitos e movimentos/redes, vamos construindo novos espaços de encontro entre os trabalhadores, gestores e usuários do SUS, em busca de humanização das relações entre os sujeitos produtores de saúde. É isso companheiros, também gostaria de conhecer mais o Projeto/pesquisa, vamos conversando, abraços, Ana Rita
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Por Ricardo Teixeira
Acho que simplifiquei muito na descrição do dois métodos, apenas com o intuito de fazer a "roda rodar", como costumamos dizer.
Você bem que poderia produzir um post nos trazendo sua leitura/interpretação, baseada nesta sua rica experiência, desse "modo de fazer" da PNH, para que pudéssemos ampliar nossa compreensão coletiva. Criaria uma "zona de debate" (que são sempre "zonas de comunidade", de construção de "comum") muito interessante!
Navegando na RHS, neste feriadão, fiquei impressionado com o acervo de conhecimentos que estamos construindo coletivamente…
Se o fizer, não se esqueça de por as tags "método da roda" e "método da tríplice inclusão"!
Bjs,
Ricardo
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Por Ana Rita Trajano
Companheiro Ricardo, você é nosso mestre nestas discussões e experimentações com as rodas e redes, vamos trocando …
Muito interessante o que está acontecendo. Deparei-me com este post e sua resposta, enquanto me preparava para uma atividade, proposta pelo Comitê de Humanização da SES-MG, que me pediram para abordar o tema "Método da Roda/Roda de Conversa" ( interesse despertado pelo nosso 2º Seminário), em reunião do Grupo Estadual de Política de Humanização (GIPH)/SES-MG, que é um Fórum estadual , em que participam trabalhadores e gestores de várias instâncias/serviços do SUS/MG, além de Conselhos, e ás vezes até Sindicatos. è um espaço aberto à participação de todos interessados.
Propus então trabalhar com a técnica do "Aquário", que aprendi nesses encontros da PNH, em especial, naquele em que vc nos apresentou esta Redehuamanizasus. Nesse processo de preparação, busquei seu texto que fala das redes de conversações e produção de afetos, também o que nos ensina Prof. Gastão, além de outros materiais da PNH. Aconteceu ontem o encontro e foi muito bom, todos saíram mais contagiados com o Método da Roda, como um método de gestão, de apoio à cogestão. E agora vc me propõe este desafio de fazer um post abordando experiências/reflexões sobre esta temática. Vou tentar, vai me ajudar na elaboração da Memória do encontro, e assim vamos criando esta "zona de debates".
Bjos,
Ana Rita
o problema atinge diversos profissionais, não somente os da saúde. tenho mais de 20 anos na area de assistencia social e tive que aceitar que precisava de tratamento psiquiátrico, terapia com psicanalista. faço uso de psicotrópicos. as preocupações com o atendimento aos usuários, com a resolutividade de seus problemas, a insuficiência de recursos, me angustiam muito. é muito comum ver colegas assistentes sociais, psicologos, enfermeiros, ate atendentes angustiados.
Achei super interessante este tema e ampliando a politica de humanização voltada aos trabalhadores de sáude, organizei uma palestra no hospital que trabalho com o tema "Estresse"(manifestaçãoes físicas e comportamentais) ministrada por um médico psquiatra para todos os funcionários nos dias 09 e 10 de novembro. Despertou um intereese em todos pois estes fatores ocorrem no dia a dia e muitas vezes os funcionários não sabem lidar com estas situações.
Rafaela Carreira
Bom dia!!!!
Sou academica de enfermagem e sempre visito o site Humaniza Sus, onde acho muito importante a humanizacao na saude e por mera concidencia estou fazendo minha monografia e preciso de assuntos sobre a Humanizacao na Unidade de Terapia Intensiva, ficarei muito grata se poderem ajudar.
Rafaela Carreira
Por Ricardo Afonso Teixeira
Sou neurologista clínico pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), onde também conclui meu doutoramento. Sou membro titular da Academia Brasileira de Neurologia, entre outras sociedades científicas, e membro titular de uma das 40 cadeiras da Academia de Medicina de Brasília. Atualmente, dirijo o Instituto do Cérebro de Brasília (ICB) e sou o titular do Blog Consciência no Dia-a-Dia, projeto que tem como missão a ampliação da consciência pública da ciência em saúde. Escrevo todas as segundas-feiras no Correio Braziliense e moro em Brasília com minha mulher e dois filhos.