SAÚDE E CULTURA: BELO ENCONTRO NESTA QUARTA, 09/04/2014, NO RJ

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Hoje, a Semana Nacional de Humanização, se deslocando no espaço e na temática, propiciou um belíssimo e promissor encontro no Rio de Janeiro. Da UERJ para o Museu da República, a saúde beija a arte e arte baila com a saúde, tingindo o cenário já belo do Museu com tons que, sem ter outro nome, só podemos denominar de vida.

 

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Saúde e Cultura se festejam, a princípio, com uma belíssima exposição de fotos de movimentos que utilizam a arte como uma outra maneira de dizer e sentir o cuidado. A arte de cuidar e o cuidado pela arte se reencontram e se discutem, já que andaram tão afastados por uma tal de técnica que, centrada em procedimentos, esqueceu que a cultura também é saúde e que a saúde e seu entendimento é uma questão de cultura que, na sua graciosa heterogeneidade, não desaparece frente à hegemonia de uma miopia que só reconhece um mundo possível, num já sintoma de esclerose, que é o que acontece quando, esquecendo sua cultura e relegando-a, um país se empobrece num monocromismo tedioso e preconceituoso.

 

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Valeu todo o esforço do Grupo de Humanização da SES que articulou todos os contatos e, numa parceria com o Ministério da Cultura, conseguiu o espaço do Museu e, apoiado pelos Consultores da PNH, concretizaram o encontro, que demonstrou ser tão potente, abrindo possibilidade de conversa e de articulações.

O Projeto Enfermarias, relatado pelo Psiquiatra Julio Verztman, do Instituto de Psiquiatria/UFRJ,  insiste numa singular atenção com a Saúde Mental, na qual o mundo daquele que precisa de cuidado é todo levado em conta, numa outra proposta de modelo de atenção que, extrapolando a humanização, radicaliza numa pergunta pela vida e pelo cuidado com esta vida e, diante disto, busca indagar sobre a importância clínica da cultura como arte do cuidado.
Jose Marmo, Coordenador da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras, nos brinda com toda a cultura dos terreiros e nos convence de como ela tem a ver com o SUS, com a Humanização, com a Saúde, nos trazendo toda a sabedoria, relegada a segundo plano pelas expressões do cuidado hegemônicas, da conexão entre o corpo, como morada dos deuses, e a importância do cuidado com este corpo, através de toda uma outra forma de entender o cuidado e a saúde como integrais.
Papion Karipuna, da Aldeia do Amapá, mas radicada no RJ, nos traz a sabedoria indígena em sua arte de cuidar em conexão com a vida. Fala do belíssimo trabalho desenvolvido, na Ilha do Governador, com as Mães da Maré, trazendo de volta o sentido da vida para aquelas que perderam seus filhos e, na Casa do Índio, o trabalho com crianças indígenas com problemas mentais, referência para os indígenas de todo o Brasil, hoje ameaçada de despejo, para a implantação de um museu de arqueologia em seu lugar.
A Rede Fito Vida, Resgate da Vida Através de Nossas Raízes, na voz de Elizabeth Martins, dá um show de metodologia coletiva para agrupar e perpetuar este saber da cura pelas plantas, valorizando um dos aspectos entre cultura e saúde.
Andréa Chiesorin, bailarina, ligada a faculdade Angel Vianna, traz a arte do corpo, no trabalho de dança com pessoas com deficiência e nos fala da cultura vista como direito social e promoção da saúde.
Por fim, Soraya Said narra a belíssima experiência dos Doutores da Alegria e do Projeto Platéias Hospitalares, mostrando que a palhaçada é bem séria quando se trata de promover a cultura como arte do cuidado.

 

 

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Enfim, um encontro de falas rápidas, apenas propiciador de trocas e de interessantes novas maneiras de perceber o cuidado, embora calcadas em antigas tradições culturais. De insistir num cuidado que, extrapolando formas rígidas e impostas por um modelo hegemônico de cuidar, deixando ao largo outras sabedorias, outras artes, outros saberes, calcados no patrimônio cultural que, excluídos pelos modelos hegemônicos, continuam inclusos na vida dos brasileiros.
Deixados à margem, eles insistem na defesa e na perpetuação de uma cultura que, longe de concorrer, permanecem ao lado, resistindo e podendo, se houver abertura para isto, modificar os modelos de gestão e de atenção do cuidado, contribuindo para a universalidade, a equidade e a integralidade da saúde conforme os princípios revolucionários do SUS.

Finalizando, penso aqui numa frase de Foucault, que neste momento não consigo precisar aonde e nem sei se textual, mas que é mais ou menos assim: que saber queremos desqualificar quando dizemos que eles não são científicos?
Acaso a ciência também não é uma arte? Um artifício de entendimento disto que transborda por todos os lados e que abarca tudo, que chamamos vida? Quem quer fazer da vida um monocromismo jamais poderá escapar de uma palheta de matizes heterogêneos que, ainda que acinzentado por pré conceitos, explode em matizes vivos de saberes que, para além dos conceitos estandardizados, vivem e comemoram a vida, com ela se perpetuando e insistindo.
Em tudo uma conversa que deixou em todos um gostinho de queremos mais…

No começo da tarde uma belíssima apresentação Instituto Grupo Teatro Novo, Um Teatro muito especial, formado por atores com deficiência mental, que deram um verdadeiro show cênico, empolgando os presentes.  O Instituo, que vive ainda sem patrocinadores, sobrevivendo de contribuições de familiares e amigos, bem mereceria um investimento para conseguir levar seu espetáculo para todo o território brasileiro. Para quem se interessar em ajudar, www.teatronovo.org.

 

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Miguel Maia