“Guerra é Paz”

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Basta puxar um pouco pela memória! Quem leu "1984" de George Orwell se lembrará de um dos lemas do partido totalitário que governa um enorme país imaginário chamado de "Oceania". Não entraremos numa discussão sobre o livro. Os interessados em resumos na internet ou na obtenção de livros digitais na grande rede encontrarão a obra com extrema facilidade. Basta destacar que Orwell  nos sinaliza com o que talvez seja o maior pesadelo: uma sociedade em que as técnicas de controle chegaram a tal esmero que a possibiidade de qualquer resquício de uma vida privada ou qualquer sentido de liberdade individual são praticamente impossíveis.O que o  Nazismo e Estalinismo ensaiaram na realidade, é levado ao extremo na ficção não tão científica de Orwell

 

Digo não tão científica porque, como toda boa ficção do gênero, serve apara anunciar no presente o que já ocorre e acena com um futuro com gostinho de manhã seguinte. Vejamos, por exemplo, o lema em Questão "Guerra é Paz". Na concepção de Orwell, a Guerra travada entre a "Oceania" contra "Lestásia" e "Eurásia" não tem como objetivo levar qualquer dos oponentes à vitória mas sim manter os ânimos das populações de tais Estados em permanente ebulição, um estado de permanente mobilização física e psísquica, que neutraliza qualquer espírito crítico ao regime e canaliza todas as forças para o enfrentamento dos inimigos externos. Neste sentido, para Orwel, tanto na realiade quanto na ficção, as guerras existem tão somente para destruir os bens dos excluídos e impedi-los de retirar do poder aqueles que os governam.

 

Assim, "Guerra é Paz", mas uma paz que serve apenas e tão somente às elites que chegam ao cúmulo de literalmente inventarem um governante, o "Big Brother", um concentrador simbólico de todo poder político, e em nome do qual atos de barbárie e violência são cometidos o tempo todo. Nas últimas semanas chegamos um pouco mais próximos do mundo de Orwell, onde as ações governamentais podem ser lidas a partir do contrário do que afirmam. Por erxemplo, quando o Ministério da Fartura em Oceania divulga dados de colheitas astronômicas enquanto a maior parte da população beira a subnutrição. Claro, a vida nos ensinou de certa forma que a estátistica pode ser usada para tornar o Tietê no Jardim das Ninféias de Monet, mas, ainda assim, alguns gestos são tão grotescos que o ato de tentar iludir pode aludir a uma realidade tão bizarra quanto o ato.

 

Os jornais nos últimos dias nos falam do Prêmio Nobel para Barac Obama. Mas não de um prêmio Nobel qualquer já que Obama não é cientista ou economista, muito menos um escritor com dotes literários tão imaginativos. Trata-se de um Prêmio Nobel que tem as ilustres companhias de Madre Teresa de Calcutá ou Martin Luther King: o Prêmio Nobel da Paz! Paradoxalmente, vejamos o que Obama NÃO FEZ para receber o prêmio Nobel em questão:

 

1) Não retirou as tropas americanas do Iraque que continuam rapinando o país, matando pessoas sem saber porque estão matando, deixando uma trilha de cadáveres pelo seu caminho ao mesmo tempo que vai paulatinamente mandando os corpos de seus jovens soldados de volta aos seus pais para que sejam enterrados com honras militares.

 

2|) Não retirou nenhum soldado americano do Afeganistão, pelo contrário, tem aumentado o contingente ao mesmo tempo que a presença militar americana tem refletido na intensidade de confrontos não só no Afeganistão mas também no vizinho Paquistão. A obsessão da força aérea americana em dizimar festas de casamento confundidas com reuniões de ferozes Talebans pode nos ajudar a entender porque islâmicos obscurantistas tem aumentado sua popularidade na região.

 

3) Não tomou nenhuma providência prática para impedir a continuidade do  lento e gradual saque e massacre do povo Palestino sob sua complacência. Continuamos a ver Israel ilegalmente ocupando terras, prendendo pessoas, usando de táticas de guerras fascistas, atingindo indiscriminadamente alvos civis e militares, tudo sob a conivência do atual governo de Obama, recebendo seu suporte militar e político.

 

Assim, parece que realmente a "Guerra é Paz". Na medida em que o Nobel, um prêmio tão prestigiado, é oferecido a Obama, podemos então nos questionar se esse símbolo serve na verdade para implemerntar uma "cultura de paz" ou então a "cultura do escárnio" ao aparentemente reforçar o contrário do que afirma. O tempo vai passando e parece que as feições do Big Brother mudaram em Oceania. Mas para a maioria das pessoas o mundo não mudou…nem para nós…nem para famílias trucidadas no Afeganistão por irem a uma festa de casamento.

 

ERASMO RUIZ