◘Cenas do cotidiano: era apenas um copo descartável!
Em seu caminho uma porta larga, aberta, passos simples, discretos e um fôlego descompassado, em meio aos muitos avisos que não avisam nas paredes ainda firmes, olhava e perdia o olhar, ao longe na esquina, minha íris captou e caminhei silenciosamente sobre aquele gesto, daquela pessoa, dizem usuário, que não consegue usar a contento. Caminhei meus olhos ao encontro da atitude daquele ser humanescido, achegou defronte de uma mesa pequena e lá, do outro lado da mesinha, os soberanos, a pessoa então com voz embargada, disse uns ruídos! Os soberanos bradaram: DIGA!
Cabisbaixo, aquele ser que eu acompanhava com as meninas que brincavam em meus olhos, replicou: Gostaria de saber se…[pausa]
Os soberanos, desumanizados salivaram mais palavras, altivas e agora ásperas: Qual o seu endereço? [dispararam] Fora de área só tem direito a quatro vagas, faz uma ficha avulsa [pensamento avulso] e depois tem que procurar uma unidade mais próxima de sua casa! A pessoa humanescente baixou sua cabeça, salivou e deu um gole de emoção e diante da saraivada e dos trovões, inclinou-se, dando meia volta para partir.
Captando aquela atitude, fui inquietado a interferir, mas numa pausa cessei e a pessoa humanescente retornou dizendo: _ Eu só queria saber se tem um copo descartável, eu estou com muita sede, mas de qualquer forma obrigada e tenham um bom dia. Meu corpo ficou dolorido, meus olhos choveram, um silêncio ecoou, a pessoa que dizem usuária, que dizem fora de área, não deu um fora, deu uma lição, e fora da área ficaram os soberanos, inertes com aquela cena que refletiu o quão ainda somos humanos puramente desumanizados. Ela se foi e logo a frente encontrou aquele que escreve, ele estava com uma garrafa de água e um copo descartável e sem qualquer barulho, somente com os silêncios, a sede foi saciada. Era apenas um copo descartável, apenas um copo cheio de água, de vida!
Texto: Djairo Alves