Encerramento da Semana Nacional de Humanização no RJ – Sociodrama Público “O SUS que fazemos”
11/04/2014 – Museu da República
Sociodrama Público – “O SUS que fazemos”
Direção: Andréia Thurler
Egos-auxiliares: Juão Tavares, Fábio Alcoforado, Carlos Daniel, Ana Lúcia, Pedro Lima
Chegamos! Praça aberta, roda para delimitar o tablado, paralelepípedo, som… Aos poucos, as pessoas vão chegando: pessoas convidadas para o evento, pessoas que passavam e aquelas que frequentam a praça – idosos que de terça a domingo participam de uma seresta. O grupo presente é de idosAs! Ou seja, o grupo é feminino! Os homens ficam fora, observando, mas não participam da cena, assim como alguns trabalhadores… Temos em torno de 30 pessoas.
Com o microfone, o trabalho começa e é feita a proposta de fazermos, dramatizarmos o SUS, nossa relação com ele, com as unidades de saúde e, depois, conversarmos. O grupo aceita e começamos pelo aquecimento do grupo com jogos.
O grupo começa caminhando e fazendo alguns movimentos a partir de certos comandos e aí o grupo já coloca uma adequação – idosos no paralelepípedo com comandos de cumprimentar o colega, sorrir, rodar ao invés de pular, abaixar ou outros.
Depois, o jogo do equilíbrio de duplas até o grupo todo. Certo estranhamento no grupo com o exercício para idosos. Mas, o estranhamento não dos idosos, mas dos profissionais. Subestimamos a capacidade e possibilidade dos idosos? Porém, é importante destacar que o grupo acolheu esses limites e cuidou o tempo todo dos idosos com carinho e atenção.
Já nas duplas em equilíbrio, uma senhora se emociona, chora e fala de várias perdas recentes que teve em sua vida. O ego a acompanha até o banco e ela assiste ao trabalho. A morte já se anuncia…
E o grupo vai se equilibrando, revendo suas conexões e sentindo o limite e possibilidade do outro. Chega ao final com um certo movimento e um som: aiiiiiii, uiiiii…
A partir disso, o grupo se divide em dois que iriam pensar em uma cena de atendimento e dramatizar a cena com cada pessoa assumindo um personagem na cena. Aí, o tema protagônico que surge é a emergência e toda a sua velocidade…
1ª cena: em um pronto-atendimento, a filha traz a sua mãe que está com forte dor renal, mas a atendente diz que não tem como atender. Nisso, a paciente simula um desmaio e aí recebe o atendimento. Na recriação da cena, a equipe precisa e busca mais médicos, conversa e se reorganiza para receber e incluir a paciente, o que desmobiliza o desmaio como estratégia de inclusão.
2ª cena: também em uma emergência, chega uma paciente com forte dor no pé acompanhada pela irmã e durante o atendimento, os egos interpolam com a chegada de mais dois pacientes graves. A equipe não consegue dar conta do que chega e um paciente morre. Sensações de desespero e aflição povoam o grupo e é proposta uma recriação e convida-se alguém de fora da cena para recriá-la. Entra a enfermeira com a Classificação de Risco que é explicada para a equipe que se reorganiza a partir disso e consegue evitar o óbito.
A partir disso, explica-se para a plateia tal dispositivo e a mudança de lógica de atendimento por ordem de chegada para o atendimento à gravidade a ao risco que o paciente apresenta.
Depois dessa vivência mais local e concreta, é solicitado que cada um pense então na sua relação com o SUS hoje e faça uma postura que demonstre isso:
– alguém de joelho orando para que não venha a precisar;
– muitos usuários aguardando o atendimento e pedindo cuidados;
– uma usuária de costas, indignada;
– uma trabalhadora entra nesse momento, bate palmas para o SUS destacando seus pontos positivos, mas não continua no trabalho, apesar das marcações do grupo;
– trabalhadores arregaçando as mangas, abraçando o SUS e de prontidão para o trabalho;
Os usuários são agrupados de um lado e os trabalhadores de outro para que eles façam uma montagem e já se apresenta a discrepância entre o número de usuários e o de profissionais. Mais usuários do que profissionais…
Os usuários se montam com o pedido de cuidado cercado pelas esperas, crenças, indignação (vira de frente e entra no grupo) e dor ao redor de mão dadas.
Os trabalhadores se abraçam voltados para dentro, de costas para os usuários e se sentem mais seguros e preparados para atender os usuários.
É feita uma contagem para que esses dois grupos se relacionassem. Como seria essa relação?
Os trabalhadores caminham para os usuários e se abraçam com parte dos usuários caindo numa ponta. Isso é marcado e associado com alguns usuários que precisam mais, têm maiores necessidades, desconfiam mais do SUS e, por isso, mais afastados.
É dada mais uma contagem para que fosse feito algum movimento se o grupo quisesse. As consultoras se aproximam e levantam os dois caídos. Uma tenta ajudar mas de uma forma que se ficasse muito tempo na posição, cansaria e poderia virar usuária, precisar de cuidados. Ela, então, refaz sua posição, ficando mais agachada.
E as sensações se tornam de prazer e sustentação!
Abrimos a roda para processarmos, conversarmos sobre a vivência.
A primeira questão que se coloca é se aquelas cenas seriam surreais ou expressariam um SUS real, que tem seus problemas e desafios e muitas coisas a melhorar. O grupo caminha para a realidade das cenas e vários SUS se mostram: aquele que funciona; aquele que não funciona; o usuário que acredita; aquele que não acredita e trabalha para bancar um plano privado; a própria PNH que tem como papel fortalecer e qualificar esse SUS a partir de suas diretrizes e dispositivos.
É marcada a ausência do gestor como aquele que também é responsável por essa realidade. Mas, e o papel de gestor de cada um – o trabalhador é gestor de seu próprio trabalho? O usuário também não é responsável pelo SUS a partir da sua participação?
Usuário que pode não se colocar somente na espera, mas como aquele que paga por esse serviço e que cobra e precisa participar mais. São colocadas formas para essa participação: fóruns das regiões de saúde, ouvidorias, etc.
É destacado também o papel da família, daquele que acompanha, olhar para a gravidade do outro que precisa mais naquele momento.
Na dramatização não existe certo ou errado, mas o que há para aquele grupo, naquele momento e o papel da direção e egos é dar passagem, visibilidade e, às vezes, amplificação às forças que estão no campo.
Podemos identificar alguns indicadores do trabalho?
– idosa, ao final, indagando se teria toda semana;
– senhor que se aproximou, olhou o cartaz, assistiu o trabalho e o achou interessante;
– alegria e disponibilidade das idosas para o trabalho e a alegria em participar;
– riqueza da discussão final;
Depois, a Semana encerra com o Harmonia Enlouquece cantando suas letras tão provocadoras e contundentes frente a uma plateia que vai aumentando, chegando para a seresta habitual e se surpreendendo e gostando da novidade.
Encerramento afetivo, potente e alegre como o SUS que queremos e acreditamos!!!
Por fabiobhalves
Andreia … Parabéns.
Belíssimo trabalho.