REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL
Como a idéia da reforma psiquiática é mudar o sistema de tratamento clínico da doença mental, e eliminar a internação como forma de exclusão social; substituindo por uma rede de serviços de atenção psicossocial, visando a integração da pessoa que sofre de transtornos mentais à comunidade; acredito que essa nova forma de tratamento ainda está engatinhando. É preciso divulgar mais sobre o trabalho dos CAPS através dos meios de comunicação, porque muita gente ainda não conhece esse trabalho. Penso também que as políticas públicas de saúde mental no Brasil possam trabalhar mais sobre a saúde mental, elaborando leis para a melhoria dos serviços para essas pessoas. Do meu ponto de vista falta estrutura adequada e melhores condições de atendimento para o tratamento dessas pessoas portadoras de sofrimento mental; sem falar do sofrimento dos familiares que também deveriam ter um suporte psicológico. Fala-se muito sobre a reforma psiquiátrica, mas me parece que fica só nisso, falta mobilização por parte de pessoas ligadas a área de saúde; também.
A desinstitualização acabou devolvendo a responsabilidade do doente à sua família e a sociedade. E assim ela acaba ficando na maioria das vezes sem assistência e sem uma proposta de ressocialização/reabilitação. Nota-se a fragilidade do sistema de saúde para oferecer outro tipo de atendimento, que não seja aquele do leito hospitar.
11 Comentários
Faça login para comentar e recomendar este post a outros usuários da rede.
Por eduardodf
Eu penso que está havendo um erro muito grande de informação e que está se propagando em profissionais da saúde não médicos !
Há visivelmente uma lavagem cerebral quanto a vários paradigmas ! Sou psiquiatra, e trabalho há muitos anos no SUS em postos, nos hospitais psiquiátricos enfim em todos os lugares que alguém possa atender. Vejo que existe uma distância muito grande entre o programa de desinsti e a vida real ! Não é tudo bonito como algumas pessoas querem , Está um mundo de pessoas doentes, com doença psiquiátrica grave sem nenhum atendimento, e as pessoas com esta conversa de sofrimento psiquíco !! A minha teoria, que não é minha é que estas pessoas que negam a existência de uma doença psiquiátrica ou elas mesmas são doentes ou tem algum familiar doente mental.
Os CAPS tem que ter psiquiatra, os médicos de família, os clínico gerais não entendem nada de psiquiatria, os cubanos muito menos!
Não existe resistência de nenhum profissional médico a toda pessoa com doença psiquiátrica ter atendimento !! O que existe é uma falácia de que não existe doença. Porque só o cérebro no corpo humano não teria doença? Nós psiquiatras sabemos bem a interação do cérebro e do meio psíquico e social, nós vivemos neste mundo !!
Não existe instituto do coraçao ? não existe hospital sarah Kubscheck , não existe instituto do Câncer ? Não existe clinica da mão , da Mama etc… porqu
Por eduardodf
Eu penso que está havendo um erro muito grande de informação e que está se propagando em profissionais da saúde não médicos !
Há visivelmente uma lavagem cerebral quanto a vários paradigmas ! Sou psiquiatra, e trabalho há muitos anos no SUS em postos, nos hospitais psiquiátricos enfim em todos os lugares que alguém possa atender. Vejo que existe uma distância muito grande entre o programa de desinsti e a vida real ! Não é tudo bonito como algumas pessoas querem , Estamos na verdade num mundo de pessoas doentes, com doença psiquiátrica grave sem nenhum atendimento, e as pessoas com esta conversa de sofrimento psiquíco !! A minha teoria, que não é minha é que estas pessoas que negam a existência de uma doença psiquiátrica ou elas mesmas são doentes ou tem algum familiar doente mental.
Os CAPS tem que ter psiquiatra, os médicos de família, os clínico gerais não entendem nada de psiquiatria, os cubanos muito menos!
Não existe resistência de nenhum profissional médico a toda pessoa com doença psiquiátrica ter atendimento !! O que existe é uma falácia de que não existe doença. Porque só o cérebro no corpo humano não teria doença? Nós psiquiatras sabemos bem a interação do cérebro e do meio psíquico e social, nós vivemos neste mundo, além do que estudamos !!
Não existe instituto do coração ? Não existe hospital Sarah Kubscheck , não existe instituto do Câncer ? Não existe clinica da mão , da Mama etc… por que não pode existir algum hospital ou dentro de um hospital um serviço de alta qualidade para tratar os doentes mentais ? Porque não integrar neste serviço todo o pessoal da saúde e ter também uma rede completa ? Ou não queremos tratar doentes ? Queremos só promover saúde ? Ninguem mais bebe, não fumam? não comem carne , açucar ? não se estressam ? ninguém fica mais doente ?
Acho muito bonito falar, escrever , quero ver quem que escreve sobre serviços de saude mental e realmente trabalha no dia a dia , que atende , que vai a campo ouvir trabalhar, que vai das 8 as 6 da tarde TRABALHAR com o povo ?
Eduardo
Por Shirley Monteiro
Concordo com voce Eduardo, sobre a importância do médico Psiquiatra, e tenho a oportunidade de estar trabalhando atualmente com muitos deles, fazendo apoio matricial nos Hospitais, e nos Núcleo de Apoio a Saúde da Família; junto inclusive com os ACS's que lhe abrem o caminho pelas ruas da Comunidade.
Os profissionais das equipes de referência da Atenção Básica, contarão cada vez mais com a presença dos Psiquiatras, presentes na expansão do NASF 3. Lembrando que o medico Psiquiatra é profissional permanente e condição na constituição das equipes do NASF, assim como nos leitos de Hospital Geral, componentes da RAPS.
Além do mais, o MINISTÉRIO DA SAÚDE mudou a estratégia de Consultório de Rua, experiencia inicial, para Consultório na Rua de modo que na nova versão, estas equipes estejam vinculadas as Unidades da Atenção Básica, com o MÉDICO fazendo parte agora do trabalho CONSULTÓRIO NA RUA !
Sugiro a leitura do CAB-34 – Caderno de Atenção Básica- SAÚDE MENTAL– ( Anexo) que trás mais detalhes das diretrizes, e qualquer dúvida entre no site do DAB- MS:
https://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_consultorio_rua.php
Segue LINK para o CAB-34, que vai te trazer experiencias muito ricas e ampliadas, concretas (caso estejas aberto ao modelo de atenção mais integralizado de clínica ampliada, para um cuidado em defesa da vida, de fato):
https://dab.saude.gov.br/portaldab/biblioteca.php?conteudo=publicacoes/cab34
E vou me despedindo, por aqui. Boa Sorte !
Shirley Monteiro.
Por eduardodf
Eni a exclusão social é a que é feita hoje ! Não é deixando pessoas sem tratamento hospitalar, quando necessário, que vai excluir e sim o contrário ! Te convido a ver um plantão médico psiquiátrico para você entender !! Veja bem, muitas vezes a internação é necessária. O que temos que lutar é para não haver mais internações para sempre ou por falta de suporte social. Temos recursos médicos hoje que impedem em grande parte as internações. E muito mais recursos para evitar aquelas antigas internações em hospícios. Essas evoluções não só ocorreram na área da psiquiatria como também na área da psicologia e nos recursos em áreas sociais despendidos pelos Governos. Falta Muito ainda .
Eduardo
Por Marcelo Dias
Um comentário sobre seu último parágrafo ("A desinstitualização acabou devolvendo a responsabilidade do doente à sua família e a sociedade. E assim ela acaba ficando na maioria das vezes sem assistência e sem uma proposta de ressocialização/reabilitação. Nota-se a fragilidade do sistema de saúde para oferecer outro tipo de atendimento, que não seja aquele do leito hospitar"):
Concordo contigo. A Reforma Psiquiátrica foi somente uma "reforma", não foi uma revolução, como dizia o velho Marx. E nesse sentido, muitos CAPS se tornaram tão institucionalizadores como velhos manicômios.
Vejo que o caminho para a desinstitucionalização seja o acolhimento do portador de transtorno mental pela sociedade como um todo, por toda a rede de saúde. A doença mental existe, mas antes dela existe o sujeito.
E quem sabe mais sobre o sujeito? O psiquiatra? O psicólogo? O TO?
QUEM SABE MAIS SOBRE O SUJEITO É O PRÓPRIO SUJEITO.
Sendo assim, há que se considerar uma ética no sentido de um tratamento. Desconsiderar esse saber é desconsiderar que existem saberes, e não um único saber.
O conhecimento sim, é outra coisa. Mas isso pode ser trocado, através do apoio matricial, que é o trabalho que realizo nos últimos anos com os profissionais da rede. O grande equívoco é acharmos que o psiquiatra é que está "ensinando". Ele na realidade está aprendendo, inclusive com o usuário.
Aliás, como psiquiatra, eu seria muito onipotente em achar que só eu sei sobre quem quer que seja,,,
Por Shirley Monteiro
Sim, e como aprendemos todos com os usuários, concordo contigo !
Shirley.
Por eduardodf
Shirley , parabéns pelo teu trabalho em saúde , li teu perfil e volte logo para o Sul !
Aqui no RS não temos psiquiatra nos consultórios de rua e pelo que sei o projeto não contempla psiquiatra ?!
O NASF 3, aqui não tem psiquiatra ? Não sei se tem em algum lugar do Brasil, são muito mal pagos ! Os salários estão muito defasados da realidade profissional ! O que acontece , a maioria dos psiquiatras da rede são de má qualidade, não sabem fazer um diagnóstico psiquiátrico quanto mais medicar adequadamente, funcionam como técnico em saúde e nós gastamos muito para formá-los médicos !
Outro assunto que estou notando que está indo para um viés ideológico equivocado aqui no site/blogs , posts etc.. é quanto a internação psiquiátrica , pontos de confusão: uma internação atual não tem nada a ver com uma internação em manicômios. Os manicômios que existiam e que existem são o resultado de um contexto que está se extinguindo , ao contrário uma internação psiquiátrica atual deveria ser realizada em um ambiente hospitalar seja ele dentro de um hospital geral ou num hospital psiquiátrico , desde que se tivesse vontade política para fazer um hospital moderno, como por exemplo usando um pouco do dinheiro/orçamento gasto no programa do MS para a saúde mental , é só ter vontade política !! Não existe hospital do cancer , da mama, do coração , etc ?
Por lspanemberg
O Eduardo levantou vários pontos importantes. Como psiquiatra também observo uma grande distância entre o discurso, a propaganda e a realidade. Já trabalhei em CAPS e atualmente dou preceptoria em uma unidade de internação de Hospital Geral, e o que sinto é que temos que internar pessoas porque elas não têm onde se tratar. Os CAPS são um aparelho interessante, mas insuficiente. Faltam espaços de transição, tipo hospitais-dia. Faltam ferramentas de re-incerção. Falta atendimento individualizado, fico com a impressão que algumas vezes "joga-se" pacientes em grupos sem nenhum tipo de mediação preparada, o que gera "número" de atendimentos, mas não trata nada. Faltam profissionais e espaços de maneira geral. A conseqüência disso é a proliferação de pessoas desinstitucionalizadas mas também desassistidas, vide o crescimento exponencial de moradores de rua nas grandes cidades, muitos deles ex-moradores dos manicômios. Outra conseqüência é a proliferação de pseudo-residenciais, na maioria das vezes privados ou "pilantrópicos" e sem as mínimas condições de cuidado, onde alguns pacientes mais graves e sem suporte familiar adequado acabam sendo "depositados" e explorados. Aqui no RS fecham-se vagas de residência em psiquiatria mantidas pelo estado e multiplicam-se os doentes mentais mendigando, por exemplo, nos arredores do Pronto Socorro. Na propaganda: "tantos pacientes desinstitucionalizados, devolvidos para suas famílias, libertados…". Na prática, fecham-se os olhos para o problema, geram-se números e faz-se propaganda. Humanizar a saúde mental não é levantar uma bandeira de inclusão e fazer vista grossa para as conseqüências nefastas desse processo desorganizado de desinstitucionalização.
Eliminar a internação? Essa é uma visão utópica (ou, penso eu, cruel e alienada). Quem diz isso não conhece a realidade, não lida com casos graves, alguns deles que nem chegam nos CAPS, ou não ficam. Na maioria das vezes aqui o problema é outro, é onde encaminhar os pacientes que saem (bem) de uma internação, e que são reinternados depois por exaustão dos cuidadores, por falência do sistema, por descompensações evitáveis. E isso não é liberdade, é sofrimento e desumanização. Quando a cada um for oferecido o cuidado de acordo com sua necessidade (e não de acordo coma necessidade ideológica do gestor/ator de saúde), daí sim teremos uma reforma de verdade.
Por Shirley Monteiro
Internação sim, em leitos de hospitais gerais; em casas de acolhimento para AD; em CAPS 24 hs.
Eu aposto na Reforma psiquiátrica, que concordo está lenta como a ampliação da RAPS, mas aposto como melhor caminho.
muito rica esta roda de conversa !! Cada um apresentando sua forma singular de ver. Embora eu não concorde com todas as falas, assim como alguns não concordam com a minha, mas estarmos aqui nesse diálogo é muito proveitoso para nossas reflexões diante das complexidades e contradições que existem no nosso SUS.
Abraços,
Shirley Monteiro.
Por fabiobhalves
VIVA!!! Vida longa para a Luta Antimanicomial. Vida longa para a Reforma Psiquiátrica. Saudações de Fábio BH e até a VITÓRIA!!! ( Coordenador da PNH )
Por Shirley Monteiro
Eni , boa tarde !
Concordo que precisamos divulgar mais a RAPS, a Rede Psicossocial de serviços substitutivos que hoje ainda tem o CAPS como um dispositivo que acumulou larga experiência, mas que também tem se colocado em análise em relação a sua propria tendencia de uma leve "institucionalização".
Desse modo os CAPS hoje vem buscando portanto, maior interlocução com a rede, inclusive com a propria Estratégia Saúde da Família- ESF.
Nesse sentido também, surgem com a RAPS os novos componentes da Rede de Atenção Psicossocial: As Casas de Acolhimento, os leitos psiquiátricos em Hospital Geral ( leitos hospital geral= que são ainda limitados por uma forte resistência dos próprios profissionais de saúde, em conceberem que hoje o cuidado na área mental pode e deve ser de todos), o Consultório na Rua; sem contar com os Grupos de cuidado e os agenciamentos possíveis de se fazer com a rede de apoio social nos territórios.
No meu entendimento, 'nunca antes' como hoje, se investiu tanto nessa ampliação do cuidado em Saúde Mental. Penso que estamos em um momento precioso em que o MS investe em vários projetos simultâneos de Educação Permanente em Saúde, para transversalisar o cuidado na sua integralidade, como estratégia da atual Política Nacional de Saúde Mental, Crack Alcool e outras Drogas.
Reconheço que muitos profissionais de Saúde ainda pensam esse cuidado da loucura e do sofrimento psíquico como sendo restrito aos Psicólogos, Psiquiatras e Enfermagem especializada em Saúde Mental, mas a subjetividade está presente em qualquer sofrimento, então cuidar em saúde é cuidar também da diversidade subjetiva que cada um carrega- sugiro ler uma reflexão linda do Pablo Dias Fortes em post de hoje, aqui na RHS sobre humanização e subjetividade.
Seguindo a sugestão que trazes, compartilho contigo para divulgarmos o Projeto "CAMINHOS DO CUIDADO", coordenado pelo Ministério da Saúde, GHC, e Fiocruz:
https://www.caminhosdocuidado.org/wp-content/uploads/2014/02/Boletim_Caminhos_do_Cuidado.pdf
Para entendermos a concepção da Rede de Saúde Mental, em construção, e as diferentes concepções acerca da LOUCURA, um Vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=maftZmPWl
belo texto do PABLO que trás leveza ao nosso Sábado: https://redehumanizasus.net/84076-o-sentido-da-humanizacao
Saudações SUSistas,
Shirley Monteiro.
Psicóloga.
em NATAL- RN.