AS EXPERIÊNCIAS DAS CIRANDAS DA VIDA SÃO OBJETO DE TESE NO DOUTORADO EM EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – UFC

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A médica e educadora popular Vera Dantas fará Sexta-Feira (30), às nove horas, no Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim (Rua Dr. Fernando Augusto, 609 – Bom Jardim), a defesa da Tese DIALOGISMO E ARTE NA GESTÃO DE SAÚDE: a perspectivia popular nas Cirandas da Vida em Fortaleza-CE. Trata-se de uma construção coletiva de todos que integram o projeto, todavia com o olhar e a experiência histórica da autora que recolheu, pesquisou e sistematizou a experiência.

Vera Dantas, que coordenou as Cirandas até o mês de Abril de 2009 é a atual assesora pedagógica e componente da equipe pedagógica do Sistema Municipal de Saúde Escola. Ela dá mais informações:” teremos uma banca muito especial. Daqui de Fortaleza, além da minha orientadora , Angela Linhares, essa artista maravilhosa, grande educadora popular, Ercília Braga, caririense, educadora popular, estudiosa do Freire e vinculada, como a Ângela aos movimentos sociais. O Odorico Monteiro que estará por via skype, do Canadá e nossos queridos José Ivo Pedrosa e Beth Smeke. Apresentaremos a tese com os cirandeiros, na sede do primeiro movimento popular a me acolher no Ceará, o Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim. Ousaremos romper com o formalismo acadêmico construindo a apresentação com cenopoesia incluindo todos os cirandeiros”.
O estudo é fruto da caminhada dos atores e atrizes populares que protagonizam as Cirandas da Vida em Fortaleza- CE, e insere-se no contexto de uma gestão pública municipal, buscando fazer o movimento dialético de desvelar o mundo, com base na ação-reflexão-ação. Dessa forma, o trabalho propõe-se a apreender como se expressam o dialogismo e a arte, na gestão em saúde, buscando a perspectiva popular;  capturar o modo como a população expressa sua história deluta,  mediante as linguagens da arte e ainda analisar como os atores populares se inserem na formulação de políticas de saúde, a partir dessas rodas, além de compreender como os diferentes grupos geracionais expressam suas leituras da realidade, no dialogismo vivido no contexto da gestão em saúde. A autora, juntamente com os integrantes das Cirandas da Vida fizeram uso da pesquisa-ação como percurso metodológico para construir uma proposta que traz o nome de “Ciranda de Aprendizagem e Pesquisa” em cuja abordagem multirreferencial, envolve atores populares – os cirandeiros – que constituíram o grupo sujeito do estudo, protagonistas da produção do conhecimento nessa vivência de práxis grupal. O estudo traz como categorias-chaves, as situações-limite apontadas pela população, bem como os atos-limite para os enfrentamentos do princípio de comunidade e a esfera institucional.
As “sete sinfonias para uma ciranda da cidade” constituem a base do estudo sobre cada tema ou trilhas temáticas construídas nos processos dos territórios. No dizer da autora elas trazem harmonias e contrapontos, como espaço polifônico do dizer das culturas humanas e também revelam desafios. Um deles é o de se constituir na gestão em saúde um caminho de intersetorialidade, capaz de comportar a perspectiva popular onde a arte se apresenta como potência e devir social. As dimensões pedagógicas da experiência das Cirandas da Vida traçam saberes e possibilidades que revelam, no dialogismo da gestão, o desejo dos artistas populares, de se dizer como sujeitos históricos das ações de promoção da saúde. Por seu lado, a “cenopoesia”, como linguagem da arte trabalhada pelo movimento
popular, nos impulsiona para as possibilidades do diálogo entre as diversas linguagens da arte. As ações de gênero referendam a corresponsabilização coletiva articulando dimensões subjetivas e políticas. A experiência com ações de economia solidária e saúde parece nos apontar caminhos do dialogismo entre o princípio de
comunidade e o princípio de mercado, revelando-nos o valor da solidariedade e o compartilhamento das experiências na luta pelo acesso, não só ao sistema de saúde local, mas também às políticas sociais de maneira mais geral. O arcabouço burocrático do Estado tem-se feito barreira à inclusão das organizações populares na efetivação de políticas públicas. A inclusão das Cirandas como roda da educação popular na Teia de Cogestão da Secretaria Municipal de Saúde e, consequentemente, no espaço de tomada de decisão política, revela potencialidades e desafios como espaço instituinte onde o princípio de comunidade busca efetivar transformações reais, ao realizar, “movimentos em potência para exercer o seu protagonismo” como modo também de contribuir para a formulação de políticas.
Resta conferir ainda, a forma inovadora de defesa da tese, quando a banca se realizará fora do ambiente acadêmico, em espaço comunitário e de extensão. E a autora e os có-autores cirandeiros estão preparando um espetáculo cenopoético que trará para constituir uma roda de diálogo, junto da banca, as figuras de Paulo Freire, Buber, M. Bakhtin e Spinoza. Vale agora conferir!