A relevância social do Trabalho Voluntário desenvolvido por Jovens: Comitê Juvenil – Uma ideia diferente

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No inicio do século XX, no Brasil, o trabalho voluntário era desenvolvido com o objetivo de amparar os necessitados devido a grandes epidemias e doenças que acometiam a população da época. A princípio, este trabalho era desenvolvido por mulheres da alta sociedade ligadas a alguma instituição religiosa. Ao longo do tempo, o trabalho voluntário foi perdendo o caráter assistencialista e tornando-se cada dia mais organizado alinhando-se as diretrizes estratégicas da Instituição na qual atuam. Diversas empresas privadas e públicas vêm investindo em ações sociais, não só para o beneficio do próximo, mas também para se tornarem diferenciadas e competitivas em seus respectivos mercados.

Com o intuito de continuar proporcionando um atendimento mais humanizado, devido à longa permanência de nossos pacientes e acompanhantes, em decorrência de doenças crônicas e raras, o Comitê Comunitário sugeriu, em reunião realizada em 11 de novembro de 1999, ao então presidente do Condir, Prof. Dr. Yassuhiko Okay, a criação de dois projetos de voluntariado no Instituto da Criança.

Um grupo que pudesse acolher as demandas dos familiares e acompanhantes e outro que desenvolvesse atividades com as crianças. E por que não abrir espaço para adolescentes e jovens? Foi assim que surgiu o Comitê Comunitário Mirim, chamado hoje de Comitê Juvenil.

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O Comitê Juvenil do Instituto da Criança é formado por adolescentes e jovens de 14 a 30 anos, provenientes de uma parceria com o Colégio Bandeirantes. Estes jovens voluntários desenvolvem atividades lúdicas, de cultura e lazer com crianças internadas no ICr. Todo o processo de seleção e monitoramento do projeto é realizado em parceria com Coordenador do Grupo do Comitê Juvenil e a Coordenação de Humanização da instituição a qual é responsável pela atuação do grupo no ambiente hospitalar.

Ao longo dos 14 anos de implantação do Projeto percebemos que o trabalho voluntário com jovens exige não só habilidades em gestão de projetos, mas sim disponibilidade para compartilhar ideias, capacidade de negociação e de decisão e, acima de tudo, saber ouvir o que o adolescente tem a dizer, e muitas vezes, se adequar ao dia a dia de estudantes e universitários que precisam se ausentar do Projeto devido à rotina de provas e vestibulares. O trabalho do Comitê Juvenil é de extrema importância para o Hospital, pois eles auxiliam na quebra da rotina hospitalar, trazendo alegria e descontração aos pacientes que permanecem conosco por longos períodos de internação.

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O trabalho voluntário é, dentre outros trabalhos, o que mais satisfação dá a quem o executa. Jovens que desenvolvem trabalhos voluntários são mais preparados para conviver com diferenças entre as pessoas. Segundo Pedro Tito, de 23 anos, atualmente estudante de Medicina na USP, o qual fez parte do Comitê Juvenil nos anos de 2009 a 2013, contou em um breve depoimento que o voluntariado mudou a forma de pensar e sua visão de mundo, principalmente a visão de hospital que ele tinha: “Antes de me tornar um voluntário, eu imaginava o ambiente hospitalar um local pesado e sofrido, com crianças tristes e à medida que fui desenvolvendo o trabalho percebi que as crianças, apesar de estarem doentes, preservavam uma parte saudável, tinham alegria e eram felizes.”(sic). O voluntariado não foi o fator final de decisão para Pedro seguir a carreira de Medicina, mas contribui muito. “Foi um grande crescimento pessoal, além das amizades, aprendi a olhar o paciente não como doença, mas como um indivíduo que é único e especial.”(sic).

A estrutura do Comitê Juvenil ao longo do tempo foi se modificando. Hoje, para dar conta de 80 voluntários ativos, divididos em seis grupos em diferentes turnos (terças, quintas, sábados de manhã, sábados à tarde, domingos de manhã e domingos à tarde), o mesmo organiza-se em 5 departamentos (comunicação, financeiro, administrativo, marketing e eventos), além de contar com o apoio e a gestão da Humanização do Instituto da Criança. A seleção do Comitê Juvenil acontece 2 vezes ao ano, nos meses de Março e Agosto, e após sua divulgação, realizada pelo Facebook do Comitê Juvenil e também pelo site do Instituto, acontece uma seleção dos candidatos em 3 etapas. No primeiro dia é feito a apresentação do Projeto Comitê Juvenil e sua atuação no Instituto da Criança. No segundo dia ocorre uma dinâmica para conhecer e selecionar os candidatos que ficarão no projeto. No terceiro, e último dia, são apresentadas as regras e feita à divisão de grupos, onde somente os candidatos selecionados comparecem. Também há a verificação de documentos, preenchimento de ficha cadastral, assinatura do termo de adesão de trabalho voluntário do Instituto da Criança e atualização da carteira de vacinas.

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As crianças são as maiores beneficiárias desse projeto, como podemos mostrar através do depoimento de Vitor Valverde, 10 anos, que contou o quanto gosta do tempo que passa brincando com os adolescentes e jovens do Comitê. “Uno, forca, STOP e Cara a Cara” são algumas das brincadeiras das tantas que ele pode lembrar e uma das quais mais gosta. Maria Valverde, 34 anos, mãe de Vitor diz que gosta do Comitê Juvenil não somente porque eles ajudam a passar o tempo dentro do hospital, mas porque vê a felicidade estampada no rosto do filho na chegada dos laranjinhas, como são conhecidos.

Ao mesmo tempo em que o Instituto da Criança acredita que o trabalho do Comitê Juvenil auxilia significativamente na recuperação dos pacientes apoiando-o em todos os processos, a Instituição contribui de forma indireta para o desenvolvimento pessoal e profissional destes voluntários, possibilitando aos mesmos a descoberta de novas aptidões, contribuindo para o aumento do círculo de amizades destes adolescentes e jovens e despertando nos mesmos o espírito da cidadania.

Por: Jaqueline Aparecida de Lara – Coordenadora de Humanização do Instituto da Criança.
Rosali Rodrigues e Michele Yumi Hashimoto – Assistentes de Humanização.
Diego Garcia – Coordenador Comitê Juvenil