Clínica Ampliada

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Curso de Formação de Apoiadores da
Política Nacional de Humanização do SUS de Alagoas
Orientações sobre as atividades de dispersão do 6º Módulo (junho-2014)

RELATO DA PUBLICAÇÃO DA CARTILHAS CLINICA AMPLIADA
Theny Mary Viana Fireman de Araujo

Quando comecei a ler a Cartilha Clinica Ampliada e Compartilhada fiquei encantada com a possibilidade de se perceber além do aparente e além do corpo, buscando dialogar a partir do sentimento e pensamento.
Por que se falou em Clinica Ampliada? Porque era necessário ampliarmos nossa visão, não ficando apenas no biológico, no corpo, mas indo além, ou seja, é preciso ver o homem na sua singularidade, vê-lo através do corpo, dos seus sentimentos, pensamentos e da sua situação social, quando o biopsicossocial se junta ao espiritual, temos uma totalidade humana e nesse momento, nenhum aspecto é mais importante que o outro, não havendo valorização e negação de um ou de outro.
A estratégia da Clínica Ampliada é usada enquanto ferramenta para articular e incluir as pessoas que são diferentes; entretanto, tem determinados momentos da vida que há uma predominância de um aspecto sobre o outro, contudo, jamais se nega a existência dos outros aspectos. A Clínica Ampliada sugere a necessidade de que haja um compartilhamento com o outro, ou seja, ela será ampliada quando há diálogo com o usuário e nesse diálogo está a possibilidade de entendimento pelo usuário e assim, ele, por ter entendido, poderá fazer a adesão ao tratamento que o setor Saúde, através de seus profissionais indicam. Quando havia o problema de saúde requeria pouco tempo de duração era mais fácil lidar e era mais fácil de fazer a adesão.
Com a cronificação de algumas doenças, isso deixou de ocorrer, já que se os usuários não entenderem o que, por que e como será seu tratamento, eles não aderem e portanto, nós profissionais de saúde passamos a dizer e repetir que o paciente é resistente (estamos culpabilizando o paciente pelo não sucesso do procedimento). Com a Clínica Ampliada há a possibilidade de que o usuário saiba o que acontece e assim, participe. Isso muda a forma, não é a saúde atuando sobre o homem, é a saúde trabalhando com o homem. Então o maior desafio hoje da saúde é a garantia da adesão para o tratamento. Então devemos aprender que se o usuário entende o que estará acontecendo ele adere ao tratamento, e melhor, ele participa do processo.
Clinica Ampliada requer equipe de referência para que juntos possam ampliar o conhecimento da situação daquela pessoa, que naquele momento está passando por alguma dificuldade de saúde e talvez pelo medo, não consegue entender o que se passa, embora sinta que a equipe também não está conseguindo se fazer entender. Quando a equipe de referência ou outros profissionais são convocados para atuar de acordo com sua especificidade, mas fazendo as pontes com outros profissionais ampliando o entendimento daquele ser singular, amplia-se e compartilha-se saberes e olhares, além do mais, cria-se vínculos e laços.
Frei Beto diz que um ponto de vista é apenas a vista num único ponto, mas existem vários pontos a serem vistos, ampliando a compreensão dos pontos de vista daquele assunto.
Quando se fala de Clinica Ampliada tem-se a noção de que estamos visualizando o profissional médico atendendo um paciente, prescrevendo medicamento ou exames para fechamento do diagnóstico suposto. Essa imagem não é clínica ampliada, já que o usuário não é apenas corpo como já falamos acima.
O trabalho em saúde é realizado em equipe multiprofissional e multidisciplinar, portanto é realizado no sujeito, na pessoa concreta com sentimentos e pensamento e que não pode ser fragmentado, recortado e nem compartimentalizado, assim, é necessário discutir a fragmentação do trabalho em saúde, onde cada um faz sua rotina, seus procedimento e pronto. Como se pode fazer uma clínica ampliada se eu não amplio o trabalho em equipe? Como posso querer que todos os usuários sejam vistos e respeitados na sua singularidade, se eu não consigo respeitar meu colega na singularidade dele? E nem se quer consigo falar ou ter um momento realmente em equipe.
É preciso repensar nossas relações no trabalho, porque para que a gente possa ofertar a Clínica Ampliada ao usuário, precisamos ter momentos entre a equipe para ampliarmos nossa visão de homem, de mundo e de processos de trabalho. Se falamos que estamos adoecendo no trabalho talvez isso esteja ocorrendo porque nós não estamos conversando, dialogando, discutindo, ouvindo o outro e experimentando novas formas de fazer saúde. Devemos lembrar que a Clínica Ampliada busca integrar as diversas abordagens para ter um manejo eficaz e a estratégia é também que os trabalhadores tenham momentos de falar de seus sentimentos e medos, porque no senso comum, os trabalhadores da saúde são insensíveis e neutros, não se envolvem com os problemas. Isso não é verdade, não existe neutralidade, talvez eles evitem entrar em contato. Os cinco eixos da Clínica Ampliada (Compreensão ampliada do processo saúde-doença; Construção compartilhada dos diagnósticos; Ampliação do objeto de trabalho; A transformação dos “meios” ou dos instrumentos de trabalho e, Suporte para os profissionais de saúde) mostram a necessidade de entendermos que o trabalho em saúde carece de clínica ampliada entre os próprios trabalhadores.