Protegendo o discriminador
Telmo Kiguel
Médico psiquiatra
Psicoterapeuta
A prefeitura de São José (SC) sugeriu cirurgia plástica para estudantes com orelha em abano.
Objetivo: combater o bullying.
Proporcionou com isso um novo e curto debate.
Formal, politicamente correto, opiniões prós e contras.
E por esse formato, passou sem maiores repercussões na imprensa.
A idéia central não foi debatida.
Para não ocorrer a discriminação modifique-se o discriminado.
Se não fosse realidade poder-se-ia pensar em ficção.
Lembrou de eugenia, nazismo, George Orwell, 1984, “loucos são os outros”…?
Embarquem nessa ficção e imagine esse tipo de proposta se alastrando.
Cirurgia para o “elefante” (orelha em abano).
Cirurgia para o “quatro olho” (quem usa óculos).
Cirurgia para o “baleia” (obeso).
E logo a seguir branqueamento de pele para os negros.
E assim poderíamos imaginar esse princípio em outras discriminações.
Para que se mantenha invisível, preservado, indefinido o discriminador.
Até quando serão protegidos pela sociedade?
Reproduzido do Blog Saúde Publica(da) ou não.
https://saudepublicada.sul21.com.br/category/discriminacao/page/2/
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
Discussão intocada… sobre o que produz tais "melhorias" conforme o padrão dominante de ser.
O que leva a se considerar que uma orelha em abano deve ser modificada? O mesmo raciocínio que padroniza socialmente o belo e o feio. Seios pequenos são desvalorizados e os grandes incentivados. Quem não os tem pode recorrer ao silicone. Narizes podem e são modificados pela cirurgia plástica.
Abandona-se a questão das diferenças em nome de uma suposta "melhoria" de caracteres. Mas a discussão dos imperativos estéticos únicos e impostos que estão por trás não é levada em conta. Triste!