O que podemos saber?

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Nossos sentimentos são compreensíveis. Mas infelizmente intraduzíveis. 

Podemos imaginar, quase saber, como os outros sentem saudades, ódio, amor, desespero, alegria e prazer.


Mas nosso acesso ao sentimento dos outros é por analogia e reflexo. Aceitamos o pressuposto de que é como nós, que os demais sentem. Então, por que na mente podemos nos ver de uma perspectiva externa, acreditamos poder conhecer os semelhantes como imaginamos conhecer a nós mesmos.

Porém, também temos que admitir que os sentimentos são confusos, contraditórios e opostos. É como amar alguém e odiar o caminho que ele segue.

É certo que há zelo em desprezar a atitude e amar aquele que age. Ser um pai responsável tem muito a ver com essa interação de amor e ódio. No entanto, é difícil não confundir o que fazemos com o que somos. Por isso, somente o amor aos familiares parece fazer sentido quanto ao entrelaçamento constante entre amor e ódio.

Entretanto, na maior parte do tempo não sabemos harmonizar as contradições do conjunto dos nossos afetos. E se para nós mesmos somos indecifráveis, como ter fé na impressão que temos a respeito dos outros?

Podemos observar como é comum manifestarmos convicções tão intensas sobre como são e como pessoas e grupos deveriam agir. Mesmo que saibamos muito pouco a respeito de seus ódios.

 
Por outro lado, também temos que reconhecer que é comum que sejamos sempre assombrados pela perspectiva de que nossos amados e amadas deixem de gostar de nós.

E essa incerteza fundamental sobre o que é tão importante em nossas vidas, indica que somos céticos a respeito de nossa impressão sobre os sentimentos alheios. E por analogia, denuncia o quanto, em muitos aspectos, somos estranhos e surpreendentes até para nós mesmos.

A impressão intermitente de que sabemos quem são os outros depende do eu não ser uma ilusão. E não sendo uma ilusão, poder ainda assim diluir-se sem se confundir com tudo mais que existe.