CLÍNICA AMPLIADA E COMPARTILHADA

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     Abordar plenamente um paciente significa procurar entendê-lo do ponto de vista biomédico, social e psicológico, concomitantemente. No entanto, há ainda a tendência a valorizar apenas uma dessas abordagens, produzindo-se uma visão unilateral e, portanto, incompleta. A proposta da Clínica Ampliada é a de articular e incluir diferentes enfoques e disciplinas. É possível, sim, em uma dada situação, haver a predominância de um dos setores mencionados, mas jamais deve-se  perder a noção do todo. Outro aspecto importante é o incentivo à autonomia desse sujeito-paciente, de forma a proporcionar que ele seja elemento ativo, e não mais aquela figura passiva e submissa. As pessoas não se limitam a doenças, geralmente inscritas em códigos internacionais. A função do diagnóstico, é sempre bom ressaltar, é nobre e sempre será importante. Mas somos mais do que isso. Nesse ponto entra a questão da singularidade e subjetividade, quando vemos, por exemplo, que aquele diabético possui uma família que pode estar ajudando ou atrapalhando sua recuperação ou quando problemas relativos a dificuldade financeira pode estar dificultando seu engajamento ao tratamento. A Clínica Ampliada não desvaloriza  nenhuma abordagem disciplinar. Busca, na verdade, integrar várias abordagens, propiciando uma ação mais eficaz no trabalho em saúde. Busca-se não valorizar excessivamente conhecimento algum, pois cada aspecto sempre será mais ou menos relevante em cada momento. Fortalece-se a idéia de que pessoas assistem pessoas, contrariando a máxima organizacional de que "cada um faz a sua parte". Importa acima de tudo a postura do  profissional perante o paciente. Ele está diante de uma curiosa manifestação de sintomas ou de um ser humano? E se está diante de um ser humano, por que não incentivar suas qualidades, suas potencialidades, mesmo diante de um quadro de doença nele instalada? Isso é acreditar na saúde. A cartilha mostra o exemplo de Tom Jobim, que diante de uma incômoda limitação, expandiu todo um talento artístico-musical. Ou do paciente com anemia falciforme que foi incentivado pela equipe multidisclinar a fazer cursos que permitissem uma maior participação social (nesse caso houve intercâmbio entre setores da saúde e entre estes e o poder público municipal). Práticas e sugestões são oferecidas no âmbito da Clínica Ampliada, tais como o acolhimento a toda queixa ou relato do usuário, ainda que tal relato possa se distanciar do "foco" da doença. Importa ouvir esse paciente. Saber o significado que a doença tem em sua vida, porque acha que adoeceu…Compreendendo-se tais fatores, menores se tornam as chances da enfermidade ser um problema somente do serviço de saúde. É preciso, pois, dar a oportunidade de um ser humano falar (não por acaso, o nome HumanizaSUS), refletir sobre sobre sua vida. Remédios e exames são importantes, mas são somente uma parte  do processo de reestruturação daquele que sofre e que busca ajuda. Isso leva a uma outra questão muito importante, qual seja, a pactuação com o paciente de uma proposta terapêutica, tornando-o também responsável por sua reabilitação. E quando falamos em seres humanos, abordamos também o profissional de saúde, que  também é vulnerável e está sujeito a todo tipo de adversidades e que por isso mesmo vai precisar de um suporte por parte de uma equipe, podendo ele mesmo fazer parte da mesma. Por fim, importantes ferramentas da Clínica Ampliada e Compartilhada podem ser utilizadas, como as Equipes de Referência e Apoio Matricial", que surgem como forma de superar uma gerência verticalizada, produtora de um processo de trabalho fragmentado e alienante para o trabalhador. Um exemplo de equipe de referência seria a Estratégia de Saúde da Família (ESF), comprometida que é com uma determinada população de uma determinada área física.