Tecendo as redes da PNH: por uma saúde mais humana
O atendimento de saúde vai muito além do remédio. Ele engloba toda uma rede de ações que envolve diferentes atores. Todo tratamento já começa desde o momento de agendar a consulta e de perguntar com real interesse como o paciente se sente. Os cuidados continuam ao receber o usuário de maneira atenciosa, reconhecendo que cada caso traz consigo uma trajetória, uma personalidade, uma expectativa. O profissional envolvido não está lidando com meras senhas e códigos, mas com um ser humano que tem o direito de se colocar como sujeito ativo do seu próprio tratamento.
Para promover esse tipo de atendimento no SUS existe a PNH – Política Nacional de Humanização, lançada em 2003 pelo Ministério da Saúde para implementar essas práticas mais humanas na rede pública de saúde do Brasil. Um dos pilares de tal política é a troca de experiências entre os profissionais e o usuário, compartilhando a responsabilidade pelo tratamento. Tanto o atendido quanto os profissionais são ainda motivados a impactar os orgãos gestores do setor, participando de suas tomadas de decisão e sugerindo aprimoramentos. Desse modo, a PNH estimula todos os envolvidos a se tornarem protagonistas na produção da saúde no país – os pacientes se transformam em agentes, assim como os trabalhadores, que deixam de ser meramente seguidores de ordens. As contribuições de todos esses atores passam a ser valorizadas, e todos adquirem um papel mais autônomo.
Essa autonomia é especialmente importante para o usuário, que não deve ser encarado como um receptor genérico e sem iniciativas. Para atender alguém é preciso se empenhar em conhecê-lo, pois apenas compreendendo seus hábitos será possível prever algumas de suas reações. Exemplos desastrosos podem ilustrar o quanto esse conhecimento é importante. Programas estrangeiros de combate ao mosquito transmissor da malária distribuíram centenas de redes para cobrir as camas dos atendidos e evitar picadas noturnas. Com o passar do tempo, os contágios não diminuíam, e isso intrigava os gestores do projeto. Até que notaram que grande parte dos usuários passou a utilizar as redes para pescar, já que o inseticida impregnado nas mesmas ajudava a matar mais peixes. Muitos poderiam ironizar e criticar os atendidos, mas nesse caso a falha se deu porque os gestores não deram a devida atenção às particularidades do grupo. Em uma abordagem mais humanizada, os usuários teriam sido consultados de forma mais direta e suas opiniões seriam consideradas. Casos assim demonstram a importância de valorizar as contribuições de todas as partes envolvidas, compartilhando o protagonismo do projeto.
Quando a responsabilidade é partilhada entre os distintos protagonistas, o tratamento se torna uma empreitada coletiva. Esse trabalho em equipe fica ainda mais estimulante quando se conecta a iniciativas semelhantes, dividindo aprendizados e trocando ideias. Para incentivar essa troca, a Rede HumanizaSUS mantém um espaço bastante frutuoso em que todo cidadão pode registrar críticas e elogios, sanar dúvidas, comentar projetos, divulgar ações bem-sucedidas e se comunicar com usuários e profissionais de todo o Brasil. HumanizaSUS busca promover um espaço em que todos sejam protagonistas e tenham suas contribuições valorizadas, refletindo justamente a intenção da PNH.
Por Emilia Alves de Sousa
Olá Aline,
Seja benvinda á Rede humanizaSUS!
Você nos traz uma importante reflexão sobre o cuidado em saúde, enfatizando alguns princípios defendidos pela Política Nacional de Humanização-PNH para as mudanças dos processos de trabalho, como a autonomia, o protagonismo, a corresponsabilidade entre os sujeitos, etc.
A PNH como uma política transversal se utiliza de vários princípios e diretrizes para fortalecer redes, vínculos e compromissos de corresponsabilidades entre os sujeitos implicados na produção de saúde. Destacam-se o Acolhimento, Acolhimento Classificação de Risco e Vulnerabilidade, Gestão Participativa e Cogestão, Direitos dos usuários, Clínica Ampliada, dentre outras.
Tomando como referência essas diretrizes da PNH, que avaliação você faz da saúde pública brasileira? O que falta para a efetivação de um SUS humanizado à luz desses princípios e diretrizes?
Um abraço!
Emília