“Há que se cuidar da vida, há que se cuidar do mundo”

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Queridos da RHS,
Hoje, a RHS será apresentada à turma da disciplina Saúde e Cidadania da UFRN. Depois de tanto tempo distante, procurei ajuda dos editores. Sugestões que recebi: “mostre o vídeo do Tuto”, “escute o programa de rádio da PNH”, “fale com o coração, conte o que viveu na RHS (como se estivesse na Tenda do Conto)”. 
Sigo as sugestões. No percurso, ocorreu-me que, escrevendo este post, os alunos poderiam se sentir aqui contemplados. Apresento-lhes, então, as turmas do PET Saúde – saúde e cidadania I e II: são jovens estudantes dos cursos de odontologia, nutrição, enfermagem, fonoaudiologia, medicina, educação física, Serviço Social, entre outros. Jovens, ávidos por conhecerem como “funciona” o trabalho em saúde na Atenção Básica. 
Observar os movimentos da Unidade, explorar o território, mergulhar nas relações, refletir, analisar, escutar e expressar os pontos de vista junto aos alunos, tem tornado o convívio a cada dia mais envolvente e instigante para equipes, usuários, preceptores, tutores, gestores.
Dentre os movimentos, saltam aqueles que nos tocam com intensidade e rompem o cronograma previsto: numa manhã de terça-feira, um jovem é assassinado na porta da escola estadual (localizada ao lado da unidade de saúde). A tristeza e a dor de ver mais uma vida ceifada de modo brutal nos moveram a questionar no dia seguinte: como a saúde está enfrentando o problema? Como tem se articulado com outros setores? Em que direções o cuidado está sendo produzido? Estamos realmente, defendendo e apostando que cada vida vale a pena ser vivida?
Visitamos a escola.   Jovens de idades diversas, multidão de risos e corpos transbordantes de  vontades e desejos. Acompanhados pelo diretor, entramos nas salas. Nos corredores, fomos abordados sobre vacinas, preservativos, medicamentos, consultas. Vida pulsante em cada canto, cada porta, em cada escrito, rabisco ou desenho nas paredes.

Entramos na sala de música. Projeto “mais cultura”: o professor Carlos Zens, recém-chegado à escola, flautista, compositor, descreve-nos como acontece sua aula. Pedaços de canos PVC sobre a mesa, tesouras desmontadas e uma serra. Instrumentos de trabalho utilizados para a fabricação de outros instrumentos: as flautas.
Sob os nossos olhares curiosos, segue fabricando uma flauta, traçando e fazendo os furos que darão as notas, ajustando com a serra enquanto conta um pouco da sua história de vida. Menino nascido no bairro das Rocas em Natal, quando criança, causava aflição na mãe ao transformar as panelas em bateria. Enfatiza com o seu encantador jeitinho “Zen”: minha música não atende aos anseios do mercado. De cinquenta desses alunos, talvez, dois ou três sigam a carreira musical. Quem sabe…Isso é muito bom!”

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Flauta pronta, ele toca Bolero de Ravel. Reencanta-nos. A música invadindo a escola, penetrando nossos ouvidos e seduzindo nossos corpos leva-nos a crer que é possível ousar, inventar, criar, apostar na vida. A música de Carlos Zens que “não toca no mercado” tocou profundamente nossas almas e nossos corações de estudantes.

“A música pode ser o exemplo único do que poderia ter sido se não tivesse havido a invenção da linguagem, a formação das palavras, a análise das ideias – a comunicação das almas” (Proust)