Libras – brasileiros nascidos no Brasil com língua diferente
Por Walquerley Ribeiro
O Portal En(Cena), entrevista e conta a história de um mineiro, simples torneiro mecânico, que decidiu investir no aprendizado da língua de sinais para ajudar na comunicação de seu filho que, nasceu surdo.
Jacob Augusto Ferreira, 47, Tradutor/Interprete de Libras/LP do CEULP/ULBRA, Pós graduado em tradução/interpretação e docência em libras pela Unintese. Tudo começou quando seu filho, Rangel Barbosa Ferreira, nasceu no ano de 1990, logo dois anos depois, Jacob Augusto, descobriu que seu filho Rangel, tinha limitação sensorial.
Nessa época, as escolas públicas e privadas não aceitavam alunos com essas limitações do tipo surdez, sendo encaminhados para a Associação de Pais eAmigos dos Excepcionais – APAE, frequentando lá por vários anos. Aos 08 anos de idade, o torneiro mecânico percebeu que seu filho não desenvolvia e nem mesmo sabia ler e escrever. “Meu filho fazia tudo como as outras crianças, só não se comunicava como elas”, foi aí que, Jacob Augusto, conheceu a língua de sinais no ano de 1997, através de informações de uma caríssima amiga. Sua amiga, vendo seu desespero resolveu lhe ajudar. “Quando conheci língua de libras, em uma semana tive um resultado positivo com meu filho que não tive em 07 anos”, afirma.
En(Cena) – O que o motivou a trabalhar com Libras?
Jacob Augusto – Meu filho, que hoje tem 24 anos, Rangel, que nasceu surdo devido à sua mãe ter contraído Rubéola em sua gravidez.
En(Cena) – Qual a história que mais o comoveu durante sua experiência de trabalho com Libras?
Jacob Augusto – Todas as histórias vividas por mim juntamente com surdos me comoveram e me comovem até hoje. Porém, vou me referir a uma mais recente: uma garota surda de 20 anos que veio prestar o vestibular do CEULP/ULBRA ano passado, fui chamado para ser seu intérprete, chegando à sala percebi que além de não saber a língua de sinais, também não dominava o português escrito, aliás, esta garota por mais absurdo que seja, não sabia que era surda, a família não lhe permitia isso. Resumindo, após 20 minutos na minha frente ela (garota), em prantos balbuciou que não sabia ler, o que pude fazer foi chorar com ela, literalmente. Muitos me condenam por eu dizer quem são os culpados de tais fatos ainda acontecerem, mas, o governo não conhece esta garota pessoalmente, o MEC só a conhece pelos relatórios enviados pela escola. Então digo, os culpados são os professores e a própria escola!
En(Cena) – A discriminação por parte da sociedade é uma falta de conhecimento sobre os surdos?
Jacob Augusto – Na realidade o que assusta as pessoas é muito simples, nós temos um desejo enorme de nos comunicar, a falta de comunicação afasta as pessoas. Com relação aos surdos, além das pessoas não saberem Libras, tratam os surdos como doentes mentais, a discriminação é exatamente por causa da falta de conhecimento do que é uma pessoa surda, do que é a cultura surda, a identidade surda etc.
En(Cena) – Na sua visão, os nascidos surdos, qual explicação espiritual para essa diferença e limitação dos sentidos?
Jacob Augusto – Digo apenas que, nem todos serão professores, juízes, promotores, delegados, advogados, administradores, empresários… é indispensável também que hajam, as domésticas, os motoristas, os garis, os taxistas etc… Infelizmente os surdos sempre estão relacionados a alguma religião. Portanto, os egípcios os tinham como deuses, Aristóteles dizia que não possuíam almas, os católicos diziam que não poderiam ir para os céus pois, não ouviam a palavra de Deus, os evangélicos querem expulsar os demônios surdos que existem dentro deles. Só posso dizer que, hoje, graças a Deus, rsrs… não sigo nenhuma denominação religiosa, o que posso dizer é que, tudo que acontece neste mundo existe um propósito, e para as especulações que os ditos cristãos fazem sobre os surdos cito: Êxodo 4:10 e 11: e disse Deus a Moisés: "não foi eu quem fez o surdo? o cego?"… quem quiser saber mais confira.