O antissemita seria um doente? E o racista?
Telmo Kiguel
Médico psiquiatra
Psicoterapeuta
O nosso último texto “Não temos previsão de avançar no combate ao racismo” provocou alguns comentários pessoais.
Os que mais repercutiram dentro de mim iam no sentido do pessimismo à falta de sugestões / alternativas / propostas.
Mais práticas, imediatas, palpáveis.
Alguns dias depois leio a publicação sobre o antissemitismo: “Uma doença sem cura” do escritor português e doutor em ciências políticas João Pereira Coutinho.
Ela pode ser vista com seus comentários no link abaixo .
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/joaopereiracoutinho/2014/06/1471253-uma-doenca-sem-cura.shtml
E sua repercussão com muitas outras publicações caso o leitor se disponha a procurar na internet.
É o tipo da ideia / publicação que pode ajudar a inibir a conduta discriminatória.
Certamente muitos dos conteúdos expostos com a finalidade de inibir o antissemitismo poderiam ser veiculados em matérias para inibir os racistas em sua ações discriminatórias.
Muitos negros (e seus simpatizantes) poderiam descrever sofrimentos por atos de racistas, sempre acompanhada de sua percepção em relação às características emocionais dos racistas.
E estes sentimentos talvez sejam semelhantes aos dos judeus em relação aos antissemitas.
Numa perspectiva otimista, se mais grupos discriminados passassem a divulgar esses mesmos tipos de idéias, “definindo” seus discriminadores como doentes mentais, provavelmente outros segmentos da sociedade poderiam se sensibilizar e ajudar a pressionar a ciência a definir o discriminador como agente causador de sofrimento mental.
Para que essa idéia/possibilidade não pareça algo fantasioso/utópico vamos a um exemplo de fato real entre um grupo discriminado e a ciência.
Até os anos 70 o homossexual era definido pela ciência médica como doente mental.
Na época em que essa questão ia ser revista pelos responsáveis pela Classificação Internacional das Doenças, grupos de homossexuais pressionaram, concretamente e presencialmente, para que esta definição fosse modificada.
E conseguiram.
Portanto, nessas questões, a participação de todos segmentos da sociedade pode ser decisivo.
Reproduzido do https://saudepublicada.sul21.com.br/
onde foi publicado em 27/06/2014