o grande corpo em extensão de uma rede virtual de saúde – crônica da vida cotidiana na RHS – 26/10/2014
FILE 2013 – Media Art
Margarethe Kollmer
Verdadeiramente, enganara-me, há pouco, ao crer que o corpo jamais estivesse em outro lugar, que era um aqui irremediável e que se opunha a toda utopia. Meu corpo está, de fato, sempre em outro lugar, ligado a todos os lugares do mundo e, na verdade, está em outro lugar que não o mundo. Pois, é em torno dele que as coisas estão dispostas, é em relação a ele – e em relação a ele como em relação a um soberano – que há um acima, um abaixo, uma direita, uma esquerda, um diante, um atrás, um próximo, um longínquo. O corpo é o ponto zero do mundo, lá onde os caminhos e os espaços se cruzam, o corpo está em parte alguma: ele está no coração do mundo, este pequeno fulcro utópico, a partir do qual eu sonho, falo, avanço, imagino, percebo as coisas em seu lugar e também as nego pelo poder indefinido das utopias que imagino. Meu corpo é como a Cidade do Sol, não tem lugar, mas é dele que saem e se irradiam todos os lugares possíveis, reais ou utópicos ( O Corpo Utópico, Heterotopias – Michel Foucault – n-1 edições, 2013 )
A invenção das redes virtuais aumentou exponencialmente a possibilidade de nossa condição de seres de relações. Se a literatura, o cinema, os sonhos e outras produções humanas sempre nos permitiram uma comunidade de sentimentos, pensamentos e práticas, agora é possível uma extensão das relações cuja marca distintiva é, sem dúvida, a troca e a interatividade instantânea. Com esta nova ubiquidade de nossos corpos, o céu é o limite. Para o bem e para o mal.
Experiência profundamente utópica – sem lugar – dos corpos e mentes, na RHS sonhamos. De noite e de dia. Poder criar e contagiar por novos modos de pensar e produzir uma grande outra saúde é a nossa tarefa. De todos os que habitam a rede, cadastrados ou não, daqueles que a navegam de vez em quando, pois o efeito de irradiação de idéias é inexorável e de outros que se encantam apenas por ouvir falar dela.
E o que a faz contagiar deste modo tão afirmativo? Simplesmente isto:
Um encontro de corpos do outro lado do oceano em torno da humanização.
A RHS lírica. O post-poema fala da mistura dos corpos e seu consequente efeito de ampliação da diversidade da vida.
“Toda mulher é negra” – Diário de bordo de uma viagem-intervenção – Maputo
Diário de bordo da passagem de Regina Benevides pela África e seu progressivo devir-negro em meio à mistura de corpos.
Ao final do dia, dança africana. Lulu, o professor de dança, ensaia e ensina uns passos. Eu danço com os supervisores, com os conselheiros. Faz um calor danado. O suor escorre. Agora, entretanto, há alegria. Todos rimos. Digo que quero aprender com eles. O ritmo mostra nossas raízes. Viemos todos de cá? Corpos em movimento. Corpos “encalorados” e famintos. Estranhamente eu não sinto fome.
O que podem estes corpos? ( Regina e Edu Passos )
Oficina de Mídia Tática da PNH em São Paulo oferta comunicação colaborativa
“Uma idéia na cabeça e uma câmera na mão”. A frase de Gláuber se desdobra hoje e torna cada corpo um nó da rede a incluir incessantemente outros.
Quando a cor da pele torna a diferença uma desigualdade.
https://redehumanizasus.net/87434-todo-cidadao-independente-da-sua-identidadeetnia-ou-condicao-socialtem-direito-ao-atendimento-humanizado-nos-servicos-de-s
O SUS é de todos e para todos. Mesmo que sejam corpos nômades, sem território definido.
A prevenção como forma de cuidado amoroso com os corpos de todas as mulheres.
O fato é que todos desejam um leito onde descansar o corpo e aproximar-se dos parceiros de existência ( Marco Pires ). Mais RHS lírica.
Encontro de corpos e mentes na roda.
Há muitos outros posts a corporificar nossos sonhos na rede, mas a canção tem que acabar, a crônica deve ser curta. Então, termino invocando a intensidade do acontecimento Regina/Edu, tornando a distância de além mar um mero detalhe para aqueles que vivem a experiência do encontro no ciberespaSUS.
Rio, 26 de novembro, 20:25h
Regina mulata
A viagem transatlântica inverte o movimento que um dia fizeram as caravelas. De cá para lá reinventamos o sincretismo, hibridizamos às avessas. E se estamos dispostos ao contágio, se problematizamos exatamente o contágio, é porque não vamos como colonizadores. De fato, não haveria de ser diferente, já que neste ponto a África e a América do Sul estão lado a lado no hemisfério menor. Entre nós nos ligam as aventuras trans-Atlânticas. A superfície do mar é o plano para a decolagem. Trata-se de uma viagem, e toda viagem traz germens do devir. Regina mulata. Como fazer o mapa do mar? Como cartografar esta geografia aquática da viagem? Como lidar com estas distâncias que parecem ser tantas? O capitalismo em sua máxima crueldade fez da distância uma experiência genocida: africanização se torna um nome da perversão. Mas como lidar diferentemente com a distância? Como trabalhar com o que nos distingue sem necessariamente nos separar?
sobre a foto, veja:
Por Emilia Alves de Sousa
Oi Iza,
Encantada com esta crônica de publicações fortes, que trazem uma diversidade de corpos: negros, ciganos, corpos que cuidam, que se afetam e afetam, dando um ressignificado á vida! Linda construção!
Bjs!
Emília