“Eu não vou conseguir dormir esta noite…”

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Esta frase, pronunciada por uma funcionária administrativa de uma Unidade Básica de Saúde de Dourados (MS), retrata, de maneira profunda, o sentimento de uma pessoa que foi reconhecida como trabalhadora e como "ser humano" (e não como uma "peça" de uma engrenagem).

Ela foi dita por ocasião do encerramento de uma roda de conversa para discussão da aplicação de recursos públicos na reforma e ampliação da unidade de saúde onde esta funcionária trabalha.

A funcionária franzina e com idade avançada estava muito feliz com o resultado da reunião em que os funcionários da unidade e usuários (pacientes) juntamente com os gestores (coordenadores) e as arquitetas responsáveis pela elaboração do projeto de reforma, conseguiram contemplar, com espaços físicos adequados, as necessidades da comunidade.

"- Nunca vieram aqui ouvir a gente!" – disse outra funcionária, satisfeita com o resultado da roda de conversa.

Outro senhor, usuário da unidade, bastante idoso e de pouco estudo, assim se expressou:

"- Eu não entendo e não enxergo nada de projeto, mas vou ficar aqui acompanhando ao lado de vocês…".

Esta frase nos faz refletir que muitos usuários e mesmo funcionários das unidades de saúde (médicos, dentistas, enfermeiros, técnicos, administrativos, vigias, etc.) não estão familiarizados com projetos de arquitetura e engenharia (plantas, cortes, fachadas,….), no entanto os seus saberes em relação ao funcionamento, fluxos, interação com pacientes, relacionamentos pessoais, materiais de uso na unidade, equipamentos, entre outros, são fundamentais para a concretização de um projeto de saúde voltado para uma atenção acolhedora, resolutiva e humana (este é o conceito de "Ambiência"). E necessitamos criar meios e condições para oportunizar a participação de todos.

E, assim, também vamos aprendendo cada vez mais com as rodas de conversa…..

Paulo Figueiredo – Engenheiro Civil – Apoiador em Ambiência.