Dia 4, domingo à noite, chego em Brasília para participar da 16° Conferência Nacional de Saúde, a 8 +8.
Durante o percurso, pelo whatsapp, detalhes das falas de ministros e representantes iam sendo repassadas para mim.
Quem tiver interesse em saber detalhes jornalísticos pode procurar a incrível cobertura do SUS Conecta.
Mas o que quero propor é uma outra reflexão.
Desde a abertura um ruído permanecia no ar: afinal, saúde e democracia, são o quê?
O pedido de respeito pela fala do contraditório e da pluralidade de partidos e ideias era enunciado como se fosse o novo ‘questão de ordem’. Dizer que é necessário defender um SUS plural, e uma conferência plural, só pode vir de pessoas que não participam de conferências de saúde e atuam nos serviços; desde a redemocratização foram espaços plurais.
Como querendo entender o que significa manter a dinâmica das conferências de saúde 8 edições depois, quase numa tentativa de reinventar o espírito que dominou a 8° Conferência, pesquisadores de camisa verde procuravam delegados e participantes para perguntar: qual o papel da conferência e do controle social?
Acho que são a essas perguntas que todos, mesmo que de forma preliminar, querem respostas.
Na Tenda Paulo Freire, nas atividades autigestionadas, nas rodas de conversas, a vida, da inquietação, parecia existir em novos espaços.
Afinal, como gerir potência em tempos sombrios quando nossos argumentos só podem ser baseados, segundo o regimento, em destaque, supressão e questões de ordem?
É preciso criar novas formas de encontros e exposição de ideias, e a carta dos ex-ministros da saúde lida e entregue ao Conselho Nacional de Saúde do alto do carro de som do ato de 5 de agosto deu um sopro, é possível imaginar outros espaços de luta.
Se é inegável a ousadia democrática do modelo de participação popular, cuja as conferências de saúde são exemplo, feridas ancestrais parecem impedir que o povo assuma o controle social, e não seja cooptado pelo desejo de controle.
“O SUS não aceita as medicinas indígenas, elas devem ser incluídas nas PICS”, dizia um delegado.
“Ser incluída para ser colocada no banner, e a gente tirar foto?” – questionou Airton Krenak.
Essa discussão, que ocorreu na atividade autogestionada Bem Viver, traz para o cerne da questão o que Saúde e Democracia são: o viver de forma integral.
Afinal, de que adianta a inclusão das práticas de cura indígenas no SUS se o Estado ainda pressiona e continua nos processos de colonização e medicalização dessas populações?
Do que adianta a manutenção do financiamento de novos fármacos, se as patentes excluem e impedem o acesso, e medicamentos essenciais como a penicilina não são produzidos pelo baixo retorno financeiro?
Fiquei os dias acompanhando as atividades como quem com algum receio perdeu o olhar do encanto pelo processo que parecem apenas procedimentais.
Mas no momento das moções, pôs-se novamente à prova o que em toda Conferência parece tencionar, o limite da equidade.
Enquanto as moções iam sendo votadas de forma mais tranquila, um, ao ser lida, levantou os ânimos do plenário.
A moção pedia apoio ao Estatuto do Nasciturno, com a entrada de defensores com faixas e vários outros defendendo a sua rejeição. Os 30 segundos que duraram o regime de votação trouxe um clima de competição. Resultado, a moção foi rejeitada por 51,3%.
São nesses momentos que os encontros se potencializam, delegados que não se conheciam previamente, mobilizando seus ideias frente a essas políticas.
Pigatoo ao encerrar a conferência disse do nosso compromisso de voltar para nossas associações e instituições para manter vivo o debate e o projeto da Reforma Sanitária.
Parafraseando uma infeliz colocação dita na abertura do evento, nós, defensores da reforma sanitária, resistiremos, e o nosso sonho é livre!
Por patrinutri
Muito obrigada por compartilhar conosco estes momentos importantíssimos da 16 Conferência Nacional de Saúde.
Tenho certeza que vivendo estes espaços democráticos que persistem aquecemos nossas potências para fazer valer os ideias da saúde pública pautadas na reforma sanitária e nos princípios do SUS.
Assim é nossa luta no SUS, achando brechas para fazer valer ações democráticas como as políticas públicas de humanização, pics , e outras estratégias que fazem valer a integralidade, equidade e universalidade.
Seguimos na luta em favor do SUS!