O rufar dos tambores de guerra.
Intertextos
https://brasil.elpais.com/brasil/2015/01/10/opinion/1420896908_403524.html
Essa sede pelo confronto é de origem difusa. Mas ela tende ao alinhamento. Em algum momento, algumas pessoas, agindo de forma significativa e articulada, vão equilibrar o quinhão de horror que cabe, tanto a catadores de latinhas, quanto a jornalistas que se armam com a escrita.
A longo prazo tem para todos nós. A primeira e a segunda guerra demonstram que o que quer que uma sociedade produza, ela acaba distribuindo. É só uma questão de tempo.
A grande disponibilidade de apêndices tecnológicos (que centenas de milhões de pessoas têm incorporado aos novíssimos modos de ser) tem sua contrapartida de baixo custo de produção no trabalho em condições de escravidão. Podemos ouvir cada vez mais alto o rufar dos tambores de guerra.
O fundamental não é a vida. Mas atribuir ou realizar um sentido para a existência. Poucos poderão buscar o sentido como investigadores. Também não serão muitos que vão executar o roteiro do desespero suicida, precedido pelo horror assassino.
Mas como vimos recentemente, uma meia dúzia engajada pode mobilizar todas as forças de segurança e aterrorizar milhões pela empatia do compartilhamento de uma condição precária e frágil.
O uso de algum método de assassinato em massa é intuído e esperado ansiosamente pelos cidadãos do mundo desenvolvido e emergente. Horas em frente a TV, que mantém suas câmeras apontadas para cenários comuns onde todos moramos, trabalhamos e circulamos, confirmam essa expectativa.
O equilíbrio, entre o crime organizado e as forças de segurança, tem sido mantido ao custo do sequestro das existências das pessoas comuns nas grandes cidades brasileiras.
A lei não vale em guetos, periferias e presídios porque os chefes do crime ameaçam a população em geral se algum gestor público ousar impor a lei em zonas de conflito.
O terrorismo (que viceja em zonas de disputa pelo controle de fontes de combustíveis fósseis) já é um velho conhecido das populações sitiadas pela economia paralela do tráfico de substâncias, pessoas e produtos ilegais. Só lhe falta o manto camuflado das paixões religiosas, ou o glamour da geopolítica mundial.
A verdadeira guerra é de disputa por capital simbólico. O que mobiliza o instinto de guerra é a busca por razões existenciais.
Assim, parte daqueles que vivem existências negativadas simbolicamente, vão tentar equilibrar a economia dos signos distribuindo o terror até a cerca dos castelos onde a desigualdade é produzida.