A arte do encontro
Humanização multidisciplinar para casos de pacientes não identificados nas unidades hospitalares de urgência e emergência
No dia 13 de janeiro, o Hospital de Urgências de Anápolis (HUAna), recebeu mais um paciente de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com quadro de perda de memória e falta de sódio, decorrente de desnutrição. Rotina normal na unidade que presta serviços em casos de média e alta complexidade, exceto, pelo fato daquele homem com idade aproximada de 45 anos estar sem documentos e não conseguir se comunicar com a equipe.
No dia 23, daquele mês o homem teve alta da UTI e foi levado para a enfermaria. Sem pistas de qual seria seu nome, ou onde estaria a família, o serviço de apoio ao usuário começou o trabalho de mobilização interdisciplinar para resgatar informações e dar ao paciente a oportunidade de voltar para sua residência.
Enfermeiras, técnicas, copeiras, assistentes sociais, policiais, médicos, capelão e assessoria de comunicação se uniram para solucionar o problema. “Todos se comoveram com o caso e tentavam ajudar a identificar de alguma forma”, contou a assistente social Ana Lídia Viegas.
Com essa ajuda, a equipe descobriu por meio de leitura labial, que o homem se chamava “João Batista da Silva” e a partir dessa informação, foi chamada a imprensa, que deu destaque ao caso em todo o estado, fotos foram divulgadas nas redes sociais e nas delegacias do interior.
Por meio do mutirão, no último domingo (1°), a família de João Batista, moradora da cidade de Maurilândia, a 200 km da unidade, chegou ao HUAna. “Recebemos fotos dele e ficamos muito aliviados, pois desde abril, ele (que tem problemas de alcoolismo), fugiu de uma clínica de recuperação em Rio Verde e perdemos contato; cheguei a pensar que ele estivesse morto”, revela a irmã, Carla Cristina Dantas.
Ela ainda ressaltou a importância da mobilização. “Se não fosse por vocês terem divulgado a foto dele, nunca teríamos encontra, nós agradecemos por cuidarem do João e não deixarem ele abandonado”, agradeceu Dantas.
Não identificados
Somente no ano passado, o HUAna recebeu 14 pacientes não identificados e 2015 já registra um relato. Casos como de João Batista são comuns e a abordagem do hospital sempre é a mesma: se valer de um trabalho humanizador para dar identidade a essas pessoas.
De acordo com a coordenadora de apoio ao usuário, Simone Perpétua, conseguir um abrigo seria a opção mais simples, porém, esse não é o procedimento da unidade, que opta por essa opção somente em casos onde existe abandono familiar. “Fazemos um trabalho de humanização, seria mais fácil optar sempre por abrigos, mas nos colocamos no lugar do paciente e percebemos a necessidade de reinseri-lo no âmbito familiar, e isso vai além de mero trabalho, envolve amor”, destaca.
Como resposta ao trabalho, ela revela ao longo dos nove anos de funcionamento do HUAna, todos os pacientes registrados na instituição como não identificados tiveram suas famílias encontradas, e puderam voltar para casa, ou foram inseridos em instituições, que lhes conferiu suporte necessário.
Sobre a história do reencontro: https://g1.globo.com/goias/bom-dia-go/videos/t/interior-de-goias/v/parentes-localizam-homem-que-estava-internado-em-hospital-de-anapolis/3934914/?filtro=anapolis