É o crack que mata?
O Ministério da Saúde acaba de lançar uma campanha sobre o uso de crack. Triste, muito triste. Uma campanha que amplia o preconceito, o estigma, que traz informações mentirosas. Uma campanha que faz parte do problema, e não da solução.
É gentes… Temos muito o que fazer mesmo. Precisamos levar os princípios da PNH, não apenas para dentro de serviços de saúde, mas para setores do próprio Ministério da Saúde. A área de técnica de álcool e outras drogas da Coordenação Nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, é uma delas.
E pensar que neste mesmo governo, nós tivemos uma campanha maravilhosa, disparada pelo Programa Nacional de DST e Aids, na qual a frase mestra era: "Drogas alteram seus sentidos, mas nada altera seus direitos nos serviços de saúde". Quanta diferença!!!
Agora, vem o mesmo Ministério, nos dizer que o crack mata. Mentira! Quem conhece a realidade da ponta (o que exclui os burocratas que elaboraram a campanha), sabe bem: o que mata não é o crack, mas a violência agregada à realidade proibicionista na qual o fenômeno do crack se constitui.O que mata não é crack, mas tiros! Na França, por exemplo, as pessoas que usam crack duram anos. Muitos anos. É o crack que mata?
A campanha do Ministério é mais um elo na poderosa rede de inimigos que precisamos enfrentar, para podermos cuidar destas pessoas com a dignidade que elas merecem. Como diz o dito popular: se não ajudam, que pelo menos não atrapalhem. O Ministério da Saúde, que vem tratando o tema de forma ridícula, agora resolve que vai atrapalhar quem está tentando fazer alguma coisa.
Triste. Muito triste.
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Por Dênis Petuco
Camaradas:
Posto abaixo alguns comentários de outras pessoas sobre a triste iniciativa do Ministério da Saúde, postadas no grupo de debates virtuais "Em Defesa da Reforma Psiquiátrica":
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[…]
“A informação é a arma mais importante e poderosa que temos (…)"
Com certeza, né? Uma arma poderosíssima, ajudando a acertar alguns alvos muito importantes; alvos em comum com aqueles/as que lutam contra o ideário do SUS, da Reforma… ABP e demais vão economizar bastante munição, agora que os apelos publicitários contra o SUS e a Saúde Coletiva vão ser pagos com verba governamental. Investir no hospitalocentrismo sempre foi retorno político garantido. Tá certo gente,afinal de contas, isso é o que qualquer outra pessoa faria pra sobreviver no mercado, né?
Rafael Gil – Redutor de danos – Rio Grande do Sul
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Sou nova aqui neste grupo, mas essa polêmica sobre a questão da "epidemia do crack" é uma discussão que muito me inquieta e vou arriscar me colocar…
Acredito que o crack está sendo colocado, mais uma vez, como o protagonista de uma história que se repete em nosso Brasil. Sempre se encontra um responsável, externo, para responsabilizar a precariedade de vida de muitos brasileiros. Isso já aconteceu com a maconha, com a cocaína entre outras drogas.
Não paramos pra pensar porque as consequencias ou a forma intensa de consumo aqui no Brasil são tão devastadoras. Será que estamos morrendo mesmo por causa do crack???? Ou será que o crack surge, mais uma vez, como o responsável para esconder a miséria brasileira ou até a forma proibicionista que encaramos o consumo de drogas no nosso país. As pessoas estão morrendo pelo uso do crack ou por causas externas, que permeiam esse uso como a violência, a fome, a miséria e o tráfico de drogas????
Não estou com isso afirmando que não existe complicações clínicas graves com a dependência do crack nem muito menos desconsiderando o poder que esta droga tem de tornar as pessoas dependentes de forma muito rápida, mas temo que caiamos, mais uma vez, na caça aos usuários de crack, agindo de forma repressiva sem discutirmos os reais motivos que estão levando as pessoas a se relacionarem com as drogas de forma tão prejudicial. Hoje é o crack e amanhã o que será…
Trabalhos na França, por exemplo,nos mostra que usuários de crack consomem essa droga por anos sem tantas mortes ou consequencias tão desastrosas como aqui no Brasil. Mas se pensarmos, nossos usuários de crack estão morrendo pelo uso ou por balas perdidas????
Enfim, acredito que campanhas educativas sempre são válidas, mas espero que o MS também se preocupe com as questões sociais que permeiam esse consumo de crack e não caia, mais uma vez, no fracasso da política de "guerra as drogas" para justificar o fracasso e a desigualdade social e das políticas públicas de nosso Brasil
Precisamos ouvir estes usuários, precisamos de uma maior participação da sociedade civil, precisamos discutir a nossa atual política sobre drogas, nossos serviços, nossas redes… Os CAPSad não vão dar conta de tamanha complexidade, pois não estamos falando só de dependência química, mas de um comportamento social que é reflexo de muita miséria e desigualdade social.
Acho que é isso…
Renata Almeida – Psicóloga – Pernambuco
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