AGENTE COMUNITÁRIO POR UM DIA OU COMO COLOCAR-SE NO LUGAR DO OUTRO
Realizar uma ação de apoio matricial para um profissional de uma formação diferente da sua não é tarefa simples. Mesmo que isso ocorra de médico para médico. Como especialista, não posso esperar que meus conhecimentos possam ser aplicados da mesma forma na prática do médico de família por exemplo. Os conhecimentos que tenho de psicanálise não poderiam se aplicar da mesma maneira na realidade do clínico.
Diante de uma solicitação de apoio da agente comunitária Débora ("o que fazer a mais?"), me percebi numa situação onde tudo que eu pudesse dizer seria baseado naquilo que eu imaginava como o trabalho da agente. Acompanhá-la em seu trabalho, por si só já alteraria o cenário. Uma agente junto com o médico é diferente de uma agente com outro agente. E a solução foi essa. Me vesti como agente, me apresentei como agente, trabalhei como agente.
"O que fazer a mais?"
O "a mais" já estava sendo feito,,,
13 Comentários
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Por Marcelo Dias
Obrigado pelas reflexões.
Ontem mesmo ouvi um comentário durante um encontro de matriciamento que definia a humanização da seguinte forma: "humanização pra mim significa HUMANO + AÇÃO". É isso!
Abração, Marcelo.
Por patrinutri
Também traduzo a palavra humanização como inclusão, onde se possibilita a participação efetiva dos sujeitos envolvidos no processo de gestão e atenção da saúde.
Parabéns pelo trabalho!
Patricia
Por Debora Stahelin
O que fazer a mais? Essas e outras questões estão presentes no cotidiano do ACS, e como ajudar a buscar esta resposta sem vivenciar uma visita domiciliar?
Trabalho como Agente Comunitária de Saúde e participar dessa experiência juntamente com o Marcelo foi importante para compreender que muitas vezes esse "a mais" já foi feito, ou pode ser feito, mas para isso é preciso estar atento, ouvir, levantar as necessidades do usuário e também compartilhar esse cuidado com a equipe.
Essa iniciativa proporcionou uma troca de saberes importante!
Obrigada fazer parte deste momento Marcelo
Por Marcelo Dias
foi ótimo poder compartilhar contigo dessa experiência. Obrigado você!
E parabéns também pelo seu movimento visando a humanização na sua unidade de saúde.
Abraço, Marcelo.
Por Nelson Curica
Viver a vida com arte é tecer artimanhas e compreensões de como poderíamos ser outros.
O trabalho do servidor é impregnado de desafios como esse, onde o lugar do outro é sempre significativo e rico em falsas certezas.
Só nos resta viver e interpretar?
Grande sacada!
Forte abraço do,
Nelson Curica.
Por Sérgio Aragaki
O exercício de desprendimento daquilo que acreditamos que somos, dos modos em que nos relacionamos e das maneiras em que fazemos como defensores do SUS, entre outras possibilidades, nos permite a criação do novo, o entendimento de algo de maneira diferente, a experimentação de outros sentimentos, sensações e pensamentos… Não estar preso a si mesmo, mas perceber que a cada momento podemos ser nós mesmos, mas de um jeito um pouco diferente, com mais aprendizados e menos medos, compondo movimentos com outras pessoas e colaborando para que elas também se percebam nessa contínua diferença, juntos produzindo uma nova realidade, bem mais alinhada ao SUS que desejamos.
Parabéns para vcs que tornam mais ricas as experimentações de outras maneiras de ser trabalhador da saúde e de realizar o trabalho da saúde.
Abraço,
Sérgio Aragaki
Por Marcelo Dias
obrigado pelas palavras. Gostei muito das suas palavras, principalmente da sua primeira frase. Atuar de forma humanizada não é se desprender daquilo que somos, mas daquilo que ACREDITAMOS que somos.
Grande abraço, Marcelo.
Por Luciane Régio
Marcelo, seu trabalho é grande, muito sensível e comprometido, é mesmo uma alegria conhecer uma experiência em equipe assim, ainda mais, trocando papéis, aberto a outras formas de perceber o cotidiano do território.
A competência ético-política em ação!
AbraSUS,
Lu
Por Marcelo Dias
obrigado pelas considerações, elas são um incentivo para continuar nesse movimento de busca pelo saber e usando sim, aquilo que há de arte em nosso fazer.
Abração, Marcelo.
Por Luciane Régio
Pois é, Marcelo, depois de fazer esse comentário lembrei de um local onde trabalhei com a humanização da atenção e gestão do SUS, com o dispositivo GTH, trazendo a cogestão, ainda no curso de formação da PNH. Havia uma equipe de ESF que não aceitava os Agentes Comunitários de Saúde na reunião semanal, por entender que "equipe" eram técnicos de nível superior e no máximo, técnicos de enfermagem… Surreal, não? Eu estava ali para tocar também a questão da importância de criar os conselhos locais de saúde, imagina, sentar com a comunidade em roda! O médico me respondeu que a população só reclamaria, e as normas e rotinas existiam… Normas e rotinas para quem? Não é mesmo?
Então, esse seu dia foi um diferencial sim, tenha certeza.
AbraSUS!!!
Por deboraligieri
Querido Marcelo.
Que maneira linda de mais do que oferecer, ser apoio a profissionais de saúde com formação e atuação diversa da sua! Fiquei pensando aqui que esta também pode ser uma forma de contato não só entre profissionais de saúde, mas também entre profissionais e usuários da saúde. Dia desses, acompanhando como ouvinte uma aula de Introdução à Saúde Coletiva do Professor Ricardo Teixeira, conversei com uma residente sobre como identificar o projeto de felicidade dxs pacientes, ela tinha dúvidas de como obter essa informação para adaptar o atendimento e eventual tratamento a cada pessoa. Fiquei pensando que, se x profissional de saúde me perguntasse (como se fosse uma anamnese) qual é o meu projeto de felicidade, talvez nem soubesse responder. Mas se me perguntasse como é meu quotidiano, o que faço no dia a dia, talvez ambxs pudéssemos descobrir juntxs o meu atual projeto de felicidade, porque de tempos em tempos trocamos de pele (ou melhor, de planos). De certa forma, acompanhar o cotidiano dx outrx, pessoalmente ou através de relatos, é vestir a pele delx sem perder a própria.
Parabéns pelo lindo trabalho! E se acaso "trocar de pele" com pacientes, por favor nos relate aqui também.
Abraços,
Débora
Por Marcelo Dias
demorei um tempo pra escrever diante do impacto produzido pela sua resposta.
O que somos dentro dessa pele que habitamos? O que queremos? Muitas vezes, não queremos aquilo que nossa pele deixa transparecer.
No trabalho de apoio, não sei se o mais difícil é estar em outra pele ou se é abrir mão da sua, daquela que te mantém cheio de valor diante do olhar do outro.
Sobre os projetos de felicidade, concordo contigo e desconfio mesmo dessa tal felicidade a qual muitas vezes parece tratar-se somente de mais uma pele que não condiz com aquilo que você é.
Sobre trocar de pele com pacientes, não acho que precise esperar pelo meu relato. Suas postagens (veja por exemplo a de 23/5/15) já estão falando disso,,,,
Abraços, Marcelo.
Por patrinutri
Que ideia boa amigo. A melhor forma de experimentar é experimentando…
Mas ainda assim em uma posição diferente, pois cada um a seu modo se coloca na vida, no lugar, no estar…
Você aqui neste ato traz a tona uma questão super importante que é até que ponto me neutralizo, até que ponto me coloco?
Matriciar é mesmo um desafio, assim como é também atuar sobre a saúde do outro.
Nosso conhecimento nos autoriza numa medida, ao mesmo tempo que se atravessa na situação em si.
Excelente experiência! Obrigada por compartilhá-la conosco!
Bjs Pat