POST REPETIDO— O paciente de saúde mental como usuário do SUS
Por meio de uma pesquisa, realizada na ala de emergência de três hospitais gerais de Porto Alegre, visando tomar conhecimento dos métodos de acolhimento realizados em casos de crise em saúde mental, observa-se a enorme barreira a transpor para que se ratifique a reforma psiquiátrica no nosso tão jovem Sistema Único de Saúde.
A pesquisa sugere um discrepância entre as duas propostas visíveis no atendimento aos usuários do SUS na emergência atual. Uma delas é caracterizada por um vínculo com o paciente baseado em processos protocolados, de forma hierarquizada, esse modelo é baseado na Resolução do Conselho Federal de Medicina número 1.451, de 1995, com uma abordagem mais pratica, potencializando a efetividade e economizando tempo e recursos materiais, classificando e encaminhando de forma rápida as demandas do usuário. Já o modelo proposto pelo Programa Nacional de Humanização, no qual deve haver uma associação do acolhimento com a classificação de risco, visa o atendimento aos usuários do SUS, há humanização, na qual o objetivo é criar um vínculo do usuário com a equipe de saúde, melhorando a qualidade do atendimento, aliando a classificação da demanda com o acolhimento, enquanto na outra tem
A emergencia, lida com situações que não estão previstas, que colocam em risco a vida do paciente, porém a forma como o profissional foca, primeiramente, no tratamento da demanda que trouxe o usuário ao SUS. Esta maneira de encarar e classificar quando uma emergência não deixa espaço para o acolhimento. Sendo assim, este mesmo profissional focado em avaliar e classificar os aspectos fisiológicos do indivíduo, pode não estar apto para atender as necessidades do paciente em situação de crise em saúde mental, pois a crise em saúde mental no usuário, ainda é vista como “alguém fora de si”, “fora de controle“, ou “que pode machucar a si mesmo ou a outros”, causando medo e distanciamento daquelas pessoas encarregadas de lhe acolher, de avaliar e tratar do seu sofrimento.
Para garantir o atendimento adequando, sem deixar de realizar o que é prioritário para tratar e cuidar do paciente, é necessário romper a associação comumente realizada entre crise e periculosidade.
Os casos de pacientes com queixas em crises mentais, que buscam atendimento no SUS, são descritos inicialmente como escassos, mas basta um olhar mais apurado para que a realidade venha à tona. Muitos pacientes se encaminham ao SUS e relatam problemas clínicos aos profissionais da saúde, que por estarem focados no modelo de classificação e atendimento rápido, acabam por deixar passar despercebidos o real motivo que trouxe o paciente ao SUS.
O sofrimento que não é demostrado, que não é visível no corpo, não é dado a mesma importância de uma emergência, pelo fato do profissional não ter capacitação para lidar com esse tipo de situação e estar focado apenas nos sintomas aparentes do corpo, gera a ideia de que é necessário um lugar apropriado, com equipamento e formação especifica para lidar com o paciente com sofrimento psíquico, ideia que vai na contra mão da reforma psiquiátrica.
Esse quadro retirado de uma amostra de três emergências, nos dá um panorama onde observa-se o contraste entre o procedimento utilizado pelos clínicos, abordando apenas os aspectos físicos dos pacientes, a desinformação de despreparo dos trabalhadores de saúde para lidar com os pacientes de saúde mental, a invisibilidade desses casos, fruto de toda uma conceitualização, classificação e tratamento de emergência onde aborda-se apenas os sintomas aparentes.
Resenha do artigo “O tempo o invisível e o julgamento: Notas sobre o acolhimento a crise em saúde mental em emergências de hospitais gerais”, de Simone Mainieri Paloné,Alice Grasiela Cardoso Resende Chaves,André Luis Leite de Figueiredo Sales,Carolina EidelWein,Cassio Streb Nogueira,Débora Leal,Diego Drescher,Eduardo Eggres,Liana Cristina Della Vechia,Mário Francis Petry Londero,REnata Flores Trepte, com a finalidade avaliativa da disciplina de Introdução à Psicologia da Saúde – 4º semestre/noturno – da Faculdade Integrada de Santa Maria (FISMA) e realizada por Fabio de Oliveira e Grazieli Bairros.