Humana prece inumana.
Ao Deus Inumano, oremos:
Num universo que fizeste 15 bilhões de anos no passado, programaste a nossa casa para surgir há meros 4,6 bilhões de translações. Desde há 3,8 bilhões de órbitas em volta do sol, ela tem sido o lar de incontáveis rebentos da vida. A alma das coisas animadas vibra na essência dos saltos de luz. Os fluídos da vida se originam na viscosidade líquida das coisas que se movem no terno abraço do calor moderado desse planeta.
Não somos mais perenes que os pequenos seres unicelulares que dominam o ambiente onde quer que possamos sonhar em estar: No alto da mais gélida montanha, no interior do mais infernal dos vulcões ou nas profundezas do oceano mais escuro.
Não somos maiores, nem mais fortes do que a mais irracional de Tuas bestas feras.
Estamos aqui há apenas um instante cósmico. E somos como uma praga devastadora que vai destruindo o próprio chão em que pisa e o frágil equilíbrio da composição dos gases que respira.
Nesse instante ínfimo que nos trouxe das cavernas até o solo de nosso satélite mais brilhante, nos ocupamos em dar um significado ao nosso ser e estar no mundo. Buscamos um sentido que nos justificasse, um lugar ao Seu lado na infinita ordem das coisas. Queríamos um assento especial de filhos prediletos do Criador à sua imagem e semelhança.
Ofereceste suas muitas faces aos nossos incansáveis golpes. Não temeste nossas arrogâncias, nem nossa voracidade mecânica. Máquinas de produção de sentido, somos criaturas que se voltam sobre sua própria realidade, pensando no interior da luz e no coração das trevas.
Já estando, e sendo, no atemporal bailado das frequências da luz, olhamos o mundo no intervalo abissal das ondas de partículas luminescentes.
Se estivermos ao Teu lado, não será na distância de vermes e bactérias, vírus e pedras.
A alma do universo é una e seus estados infinitamente diversos.
Nosso espírito vaga e divaga por sobre a essência das coisas que veste e desveste, no seu cerne e, em sua epiderme.
O exclusivismo dos teus, é uma alucinação. Por que nenhum golfinho, rato ou piolho reivindicou a terra, para aplacar suas dúvidas e seu vício na verdade.
O que fizeste de nós, é justo. Não pedimos nada que já não tenhamos e nosso desejo é uma força que nos move nos desígnios incognoscíveis da realidade.
O sonho, sonhado no interior de um sonho – em que o sono profundo impede o despertar, a não ser para outro sonho ainda mais abissal – termina no despertar lúcido da morte que é Sua verdade.
Assim tem sido e assim será, como no princípio e no fim.
Glória aos intervalos, que são as portas do infinito…