Maria Rosa
“Maria, Maria é um dom, uma certa magia, uma força que nos alerta. Uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta…
… Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça, é preciso ter sonho, sempre!
Quem traz na pele essa marca, possui a estranha mania de ter fé na vida!”
Milton Nascimento
Maria Rosa, 36 anos, procurou o CAPS AD, em 10 de fevereiro de 2012, juntamente com o companheiro, pois procurava um auxílio para “sair do buraco”, e principalmente, resgatar a confiança das pessoas.
Relatou fazer uso de crack há cinco meses e consumir aproximadamente 1g da droga aos finais de semana, padrão de consumo que persiste até hoje, embora com períodos de maior e menor consumo. Na data, sua família desconhecia seu uso de crack, e ela negava qualquer prejuízo profissional decorrente do consumo, embora reconhecesse os prejuízos financeiros e morais.
Alguns dias depois, sua mãe procurou o CAPS AD, muito preocupada por ter descoberto que a filha utilizava drogas e apresentava comportamentos como ameaças de morte e chantagens para conseguir dinheiro da mãe. Na data, foi orientada a procurar o Conselho Tutelar, pela situação de vulnerabilidade em que se encontravam os filhos de Maria.
Entretanto, até maio de 2012, Maria Rosa frequentou esporadicamente o CAPS AD, principalmente através de atendimentos individuais, com vários profissionais do serviço. Em abril de 2012, iniciou acompanhamento médico psiquiátrico naquele ponto de atenção, embora não tenha aderido ao tratamento farmacoterápico. Durante o período, sua família constantemente procurou o serviço se queixando do estado e situação da paciente, além de relatar situações de vulnerabilidade, tanto dela, quanto de seus filhos.
Dois dos filhos foram residir com o pai, em outro município, por indicação do Conselho Tutelar. Foi quando ela teve conhecimento de que estava grávida novamente. Porém, ela apresentou resistência em iniciar o acompanhamento pré-natal, o qual consistia na principal orientação de tratamento das instituições que a acompanhavam no período.
No início de 2013 retornou ao CAPS AD com vistas a iniciar um novo plano terapêutico, onde tem apresentado frequência irregular, com seguidas faltas nos agendamentos realizados, sendo que a Visita Domiciliar passou a ser a estratégia para o seu acompanhamento. Tem apresentando dificuldade na organização da dinâmica familiar, principalmente após o companheiro entrar em regime de privação de liberdade junto ao Presídio local, sendo que se ausenta seguidamente, deixando os filhos sob a guarda dos demais familiares.
Recentemente foi internada em hospital, onde permaneceu por cerca de 30 dias,
tendo alta em 10/05/13. Na mesma data, a usuária ausentou-se de casa sem justificativa, retornando apenas no dia 12/05/13. Na manhã de 13/05/13, a usuária foi encontrada no banheiro de casa com quadro de violência auto infligida, sendo que o CAPS AD e a ESF foram acionados para conduta quanto à situação. Após articulação entre os serviços, o SAMU foi acionado, conduzindo a usuária até o Hospital.
Em 14/05, em função da situação de vulnerabilidade apresentada pela usuária, a mesma foi conduzida por enfermeiro do CAPS AD até o Hospital e Maternidade, onde se encontra internada desde então. O núcleo familiar da usuária é composto pelos filhos de 17, 10, 08 anos e 05 meses, além do companheiro de 26 anos. A família extensa é composta pela avó, mãe, 05 irmãos e tios da usuária, sendo que a maioria deles reside em terreno comum. Sua irmã é acompanhada no CAPS II (desde 2010 – transtorno de humor) e seu filho de 10 anos, no ASMi, desde 2008. Seu companheiro também já esteve em acompanhamento no CAPS AD (desde 2012 – uso de crack).
O Conselho Tutelar e o Ministério Público acompanham a situação da família supracitada por conta de várias queixas oriundas da escola, vizinhos e ACS. Seus filhos foram trocados de escola por conta de conflitos e seguidas ausências. A filha recém-nascida encontra-se sob a guarda da avó materna atualmente.
Desafios da atenção à usuária e Núcleo Familiar:
•• desistência da usuária em comparecer ao CAPS AD;
•• dificuldade da usuária na organização da dinâmica familiar, principalmente na responsabilização com o cuidado dos filhos;
•• redução do conflito familiar ao uso de droga da usuária por parte de familiares e instituições envolvidas.
A preocupação da equipe de referência é com o caso como um todo, não focando apenas o consumo de crack, mas oferecendo o suporte institucional possível, “costurado” cotidianamente com os outros parceiros da rede.