AS CONFERÊNCIAS
Hoje o correio colocou uma carta e há tempo que não recebia uma carta pelo correio.
É de uma amiga de anos de lutas militante em prol de uma saúde.
Enviou uma foto já gasta pelo tempo mas deu para ver 1986 e o tempo passou.
As conferências sempre tiveram sua história ao tempo:
No Brasil de 1986, a tônica era a saúde. Conhecida afetuosamente pelos militantes da reforma sanitária pela alcunha de “oitava”, aquela conferência reuniu em Brasília mais de quatro mil delegados de todas as regiões e classes sociais, em jornadas que avançavam pela madrugada e chegavam a se prolongar por até 14 horas. O que meses antes parecia mais uma das “loucuras” – é assim que os mortais comuns vêem as idéias dos idealistas – de Arouca se tornara realidade: a CNS conseguia pela primeira vez em quase 45 anos de história ser verdadeiramente popular. Sim, porque da primeira (em 1941) à sétima (em 1980), os debates se restringiam às ações governamentais, com a participação exclusiva de deputados, senadores e autoridades do setor. A intenção de Arouca era a de abrir mesmo, e assim ouvir as incontáveis experiências na área que existiam Brasil afora. Reunir brasileiros para saber e discutir como vivem esses brasileiros, quais as suas condições de saúde, que melhorias almejam. Deixar de contar a saúde pelos números e passar a enxergar cidadãos.
Presidente da Fiocruz – cargo que assumiu em 1985 –, Arouca já mostrara as suas credenciais dando à Fundação um sopro de renovação, pondo-a novamente em movimento (acelerado, diga-se). Liderando a instituição, militante histórico da saúde pública, seu nome apresentara-se quase que naturalmente como de consenso para presidir a 8ª CNS. O fato de ser comunista de carteirinha também não o atrapalhou, mostrando que o Brasil, finalmente, vivia dias mais tolerantes. Ao assumir e decidir que a conferência deveria refletir o momento efervescente pelo qual o país passava, Arouca roda o país acompanhando as conferências estaduais, preparatórias da Nacional. Ele esteve em todas elas, participando ativamente das discussões – sem abdicar de suas funções como presidente da Fiocruz. Foram essas conferências, juntamente com as municipais, que disseminaram pelo país o debate sobre a reforma sanitária e a importância de se ter uma CNS popular
Por patrinutri
Cara Angela, que linda memória!
Fiquei muito emocionada com seu post, pois nos lembra que estamos a todo o momento escrevendo a história, com nossas vidas.
Não sabemos se no futuro serão promovidas aos livros históricos, mas sabemos que de algum modo nossas atitudes, nossa militância ou ausência dela se for o caso, escreve a história pois com certeza interfere nos acontecimentos.
Não existe neutralidade, viver é um ato político!
Fiquei muito curiosa para ver a foto que sua amiga lhe enviou por carta. Será que consegues escanear e postar por aqui?
Enquanto isso, e para dar o destaque merecido a sua publicação especial, inclui algumas fotos da 8 Conferência Nacional de Saúde.
Grata por esta memória!
Seguimos militantes, com a certeza que faremos uma bonita história na saúde, no SUS.
Grande abraço,
Patrícia S C Silva
Coletivo de Editores da RedeHumanizasus