O Preço de Morrer em Paz
Apesar do desenvolvimento dos cuidados paliativos no hemisfério norte, ainda existem muitas resistências. Uma delas diz respeito ao equívoco de se achar que práticas holísticas impactam fortemente nos custos de atendimento.
A Dra. Deborah Cook, da Universidade de McMaster (EUA), demonstrou em pesquisa recente que isso não condiz com a realidade. Ela coordena um projeto que visa dignificar a morte dos pacientes a partir da ideia de monitorar e realizar seus últimos desejos. Os mais relatados envolveriam 5 áreas:
1) humanizar o ambiente, trazendo coisas como flores favoritas e objetos queridos;
2) prestar tributos pessoais, na forma de uma comemoração ou do plantio de uma árvore em homenagem ao paciente;
3) reconexões familiares, localizando e trazendo um parente sem contato há muito tempo;
4) rituais, como preces ou renovação de votos matrimoniais;
5) viabilizar a realização de doações por parte do paciente, na forma de recursos para instituições de caridade ou doação de órgãos.
A realização desses desejos implica na produção de uma morte mais tranquila e vivências intensas e positivas até o final da vida.
Mas para muitos isso produziria custos financeiros elevados. Um aviso aos tecnocratas de plantão. A Dra Deborah mediu objetivamente o custo dessas finitudes com desejos realizados. O custo ficou entre 0 e 200 dólares por paciente, algo decididamente muito mais barato do que encarcerar pacientes em UTIs e realizar exames invasivos, desconfortáveis e desnecessários.
Mais detalhes no link abaixo.
https://www.reuters.com/article/2015/07/16/us-health-terminalcare-idUSKCN0PQ1VT20150716
Por Emilia Alves de Sousa
Ações que não têm grande ônus material, e têm um elevado valor subjetivo.
Quando comecei a trabalhar no HILP, há duas décadas e meia, era comum nas enfermarias do hospital, o pedido de alguns pais/acompanhantes, para colocarem vela acesa, crucifixo, alho, e outros objetos simbólicos, na mão da criança em sua fase terminal, ou até mesmo, realizarem batismo e extrema-unção com a presença de um padre, dos ditos “pagões” (não batizados). Alguns profissionais ficavam incomodados com os pedidos, mas mesmo assim, eram atendidos. Era perceptível o grande conforto e esperança que essas práticas produziam nos familiares. Era também uma espécie de rito de passagem para o além. Com o decorrer do tempo, essas práticas foram desaparecendo, dando passagem a outras, como colocação de fotos dos familiares, imagens, desenhos, brinquedos de estimação, flores nas mesinhas de cabeceira… Percebemos que isto mantém os laços afetivos entre a criança e o lar, humaniza o espaço, produz subjetividades, e colabora no tratamento.
Muito pertinente a sua reflexão Erasmo!
Bjs!
Emília