porque do nomadismo cigano?

Oi Calon,

Obrigada por compartilhar conosco essas informações importantes sobre a forma de vida do povo cigano.

Desejo que sua mensagem chegue ao conhecimento de pessoas que possam ajudá-lo, nesse intuito de escrever a verdadeira história do seu povo, desconstruindo mitos que não fazem sentidos sobre a cultura cigana!

Um abraço!

Emília

É muito interessante podermos conhecer modos de vida diferentes daqueles assumidos pela maioria. As ditas minorias têm muito a dizer a partir destas outras experimentações.

Fazendo uma pequena pesquisa, encontrei o que segue:

" o Calon, oriundo de Portugal, que fala o dialeto caló, é tradicionalmente nômade, ligado ao comércio de cavalos, carros, correntes e artefatos imitando ouro. As mulheres praticam a quiromancia em praças públicas, exibem dentes de ouro e pintas (sinais) no rosto;"

O que eu tomei por um nome é, na verdade, uma parte do povo cigano. O que achas deste pequeno texto?

Belas palavras Calon, muito bem vindas e oportunas

Mas, em primeiro lugar, quero dizer que os Ciganos não são os únicos nômades deste mundo e que, mesmo aonde graça uma hegemônica maneira de ser sedentária, há sim, e muitos, nômades de alma que, como os ciganos, sentem na pele o corte doloroso daqueles que, sem entender, desqualificam o nomadismo como uma forma primitiva de estar em sociedade.

Nomadismo que vai não só em direção aos que não tem paradeiro fixo, mas que, irrequietos e vivos, mesmo no pensamento, mesmo no sentimento, mesmo em suas mais íntimas percepções, ciganeiam na alma nômade, por perceberem que, o fixar-se em alguma coisa, o defender com unhas e dentes um só mundo e uma maneira apenas de viver  é, no mínimo, mortificador de uma vida que baila, dança e se alegra, mas também sofre, se indigna e se quer reconhecida, como o povo cigano. Aliás, belíssimo.

Qualquer diferença, qualquer coisa que não seja aquilo que querem que sejamos de forma despoticamente programada, nos faz também ciganos. Assim, embora com singularidades outras, ganhamos se vermos  loucos,negros, homossexuais, judeus, prostitutas, drogados, índios, etc, etc, etc, como tantos outros ciganos do viver, buscando acampamento aonde qualquer terra os querem expulsar desde de que, como pedra, não se fixem a algum "padrão aceitável e respeitável" de vida que não é vida, mas, cabresto de vida, engessamento do viver.

Portanto, o nomadismo cigano, como vejo, não foi imposto porque algum suposto algoz não lhe deu oportunidades e escolhas outras. Os ciganos não são um povo que se constituíram como são por um menos, por uma imperfeição. Aceitar isto seria já começar a abandonar suas raízes ciganas e, portanto, como índice de saúde, tento lhe convencer a deixar estas ideias de lado. Elas não colaboram em nada com a causa nômade, que, como já disse, não é a somente dos ciganos.

O Cigano continua nômade como sempre foi, penso eu, não por imposição, mas por afirmação. Afirmação de uma existência que não se dobrou e que resiste a se dobrar a simples conveniências. O Cigano é cigano não por curvamento da espinha, mas por orgulho da postura ereta, com ombros e queixo erguido e mobilidade de braços e pés para que, na dança de uma alegria autêntica e viva, comemore uma alegria que não quer e não pode, sem morrer, ser obrigada a tristeza de uma vida imposta e queixosa.

Escreva como cigano sim,sinta, pense e perceba como cigano porque isto é o viver cigano que vive. 

Eu que não sou cigano, mas tenho alma cigana, quem sabe até um corpo e um sentir cigano, tenho desejos de ver você cigano voltar aqui numa afirmação incondicional da sua, da nossa e de todos os nômades, valorosa ciganidade.

Mais Calon e menos calo, porque calo é sempre um depósito de células mortas e, pelo que sei, todo cigano é vida e celebra a vida.

Bem vindo.