“Esse filho da p____ não usa EPI !”

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Esta foi a expressão que o técnico de segurança do trabalho utilizou em relação a um trabalhador que não estava usando o protetor auricular – equipamento de proteção individual (EPI) necessário para proteger o aparelho auditivo da pessoa em relação a níveis excessivos de ruídos de máquinas e equipamentos.
Pois bem, estávamos fazendo uma inspeção numa indústria e ao adentrarmos no barracão onde era ensacado o produto final (farinha de osso) avistamos vários trabalhadores em volta de uma máquina muito barulhenta, sendo que dois deles não estavam utilizando o protetor auricular. O ruído da máquina era tão intenso que eu, através de gestos, questionei o técnico de segurança que nos acompanhava sobre a irregularidade e ele, gesticulando nervosamente, proferiu a frase título do texto, que eu só pude decifrar através de leitura labial:
“-Esse filho da p____ não usa EPI ! Olha lá aquele armário ao lado da máquina cheio de protetores auriculares, mas eles não gostam de usar! É só a gente virar as costas e eles tiram!”.
De longe sinalizei através de gestos para que os dois trabalhadores “fdp” (na linguagem do técnico!) retirassem os protetores do armário e os colocassem.
“Você vai ver…..! Quando a gente retornar aqui eles não estarão usando o protetor!” – assegurou o técnico.
Continuamos a inspeção nas outras dependências da indústria e após finalizar resolvi checar a informação do técnico. Voltei ao barracão da máquina barulhenta, mas encontrei a mesma desligada: os trabalhadores haviam terminado o serviço! Frustração…..
Mesmo assim, para aproveitar a ocasião, resolvi chamar os trabalhadores para uma conversa. Não podia acreditar que uma pessoa, de maneira consciente, pudesse se submeter àquela condição de nível de ruído, com o risco iminente de surdez.
Identifiquei os dois trabalhadores “relapsos” e coloquei para eles a importância do uso da proteção para evitar prejuízos auditivos.  Relatei que a perda auditiva iria afetar toda a vida futura deles…. Convívio familiar, social e trabalho…
“-Doutor”, falou um deles, procurando explicar a situação. “Nós dois não usamos o protetor porque nós trabalhamos carregando a sacaria de farinha de osso na cabeça e este modelo que a gente enfia na orelha leva farinha para dentro do ouvido….! Este outro modelo tipo “tiara”, que passa por cima da cabeça, também não dá para usar porque com o peso da sacaria machuca nossa cabeça! Mas este outro modelo (disse apontando para outro colega) dá pra usar!
“-Como assim?, perguntei.
“- Este modelo “tipo concha com haste atrás da nuca”, não machuca! Se tivesse mais protetores deste modelo a gente usaria!”
Imediatamente levei esta informação para a direção da empresa que encomendou o modelo solicitado pelo trabalhador.
Um grande problema de saúde do trabalhador solucionado com apenas uma conversa! Este episódio verídico nos mostra a importância da escuta dos trabalhadores….

Obs.: Em tempo: A proteção dos trabalhadores não deve se limitar ao uso de “EPIs”, outras medidas podem ser implantadas como o uso de máquinas menos ruidosas, isolamento acústico da máquina, etc., que são medidas mais eficazes./sites/default/files/paulofigueiredo/uso_obrigatorio_de_protetor_auricular.jpg