A mudança na forma de intervenção
A precariedade dos hospitais psiquiátricos ainda é uma realidade nos dias de hoje. Pacientes ainda são tratados de forma desumana, vivendo como mendigos e utilizando altas doses de medicação, tornando-os inconscientes e alienados da realidade.
A reforma psiquiátrica no mundo, e principalmente no Brasil, teve como objetivo mudar esse cenário da saúde mental proporcionando ao sujeito, que sofre psiquicamente, um olhar mais humanizado, mudando o modo de cuidar e produzir saúde para essas pessoas. Várias medidas foram e estão sendo tomadas para a mudança dessa realidade, mas, infelizmente, em passos muito lentos.
Ainda encontram-se autoridades municipais que investem pesado contra os dependentes químicos, internando compulsoriamente esses indivíduos com o objetivo de tratamento, apoiados por donos de clínicas de reabilitação e comunidades terapêuticas que com certeza obterão lucros financeiros deixando totalmente de lado o sofrimento do internado.
Essa realidade de internações faz com o sujeito perca sua autonomia, tornando-o um objeto, “mais um” que esta sendo tirado da droga, mas sendo enclausurado em um ambiente que o deixa ainda mais adoecido.
Um processo de mudança é de suma importância nessas instituições, devendo ser observada com maior atenção a liberdade dessas pessoas, dando maior ênfase na escuta e na necessidade do paciente. Profissionais dessa área devem ser mais bem preparados e apoiados para que essa mudança aconteça, focando não na doença, mas na saúde, desconstruindo o modo “automático” e indiferente de lidar com o sofrimento do outro.
Ações de acolhimento, bem como consultórios de rua são iniciativas ousadas, mas escassas, frente ao tamanho do problema. Muito precisa ser feito para que se vislumbre um novo modus operandi que mude o foco da doença para o ser humano.
Tratar o usuário em liberdade significa antes de tudo, aceitar a sua realidade como parte do tratamento, e utilizar esta liberdade para, a partir dela, desenvolver o ser humano em sua integralidade, na família e na comunidade.
Se é na vida cotidiana que o sofrimento psíquico se manifesta, é exatamente nesse ambiente que o cuidado precisa ser desenvolvido. Este trabalho precisa ser realizado de forma ética, buscando preservar a autonomia e a capacidade produtiva como parte do crescimento e desenvolvimento pessoal.
Tal mudança será possível a partir do momento que a transformação ocorrer dentro das instituições. Gestores e funcionários, precisam necessariamente falar a mesma linguagem. Isso não significa deixar de ter autonomia, mas sim serem capacitados para, em primeiro lugar, compreender as novas possibilidades, participando de capacitações, e de forma conjunta, colaborar no planejamento das ações voltadas para o auxilio ao sujeito com sofrimento psíquico, e em segundo lugar, de forma consciente e engajados no projeto, colocar em prática, no dia a dia das instituições, acolhendo e prestando um trabalho digno, eficiente e humanizado a estes usuários.
Texto escrito por Fernanda Torres e Elias Isaias Rossdeutscher, com base no artigo "Entre o Cárcere e a Liberdade: Apostas na produção cotidiana de modos diferentes de cuidar". (Silvio Yasui)
Por Rômulo Soares
Muito bom Elias e Fernanda. É preciso mesmo tratar o ser humano como tal, e talvez isso só será possível quando deixarem de tratá-lo como mercadoria, e sua saúde comprometida como fonte de lucro. Bem colocado no texto que a equipe deve falar a mesma linguagem, pois assim o trabalho terá mais foco e as ações em conjunto possibilitarão um melhor atendimento ao paciente. O ser humano com transtornos psíquicos não deve ser simplesmente jogado em um asilo e esperar que se cure apenas por tomar os remédios no horário certo. Há muito mais que deve ser feito, e ao menos estamos andando, ainda que a passos lentos.