ARRANJOS DA LOUCURA, HOJE
No artigo- A Psiquiatrização da Vida: arranjos da loucura, hoje – as autoras Tania Mara Galli da Fonseca e Regina Longaray Jaeger abordam um Política de Humanização da Atenção e da Gestão (PNH) em um plano transversalizado conectando produção de saúde ao campo de gestão. E aborda uma problemática reflexiva: Como o que se denomina saúde mental é tratada na rede HumanizaSUS? Essa pergunta coloca em discussão todo o histórico da Reforma psiquiátrica e os arranjos da loucura hoje.
A superação da saúde mental centrada no manicômio abriu portas para práticas sociais ampliadoras de comunicação permitindo transformações no modo de cuidar da saúde Humana. A construção do SUS propôs então, práticas que fossem capazes de criar um novo modo de ser, de sentir, intervindo nos modos de gestão de saúde no campo da loucura. Com um bom propósito, uma equipe multidisciplinar, a autonomia, corresponsabilidade e o protagonismo de todos os atores envolvidos o SUS, porém, não conseguiu contemplar toda a demanda de saúde mental que começou a surgir de um novo modo de gestão da vida. Surge novas problemáticas: É o SUS que não é bom o suficiente ou é nosso modo de gestão da vida que está falho? Porque aumentou tanto a demanda de doenças mentais? Como dar conta de tanta demanda? Qual a influência do modo de gestão da vida no surgimento de doenças mentais?
Um olhar ampliado para a saúde fez com que surgissem novos campos que compõe a integralidade do Ser Humano e com isso fez surgir novos campos, também, passíveis para desenvolvimento de transtornos mentais. Todo esse contexto, criou demanda a partir da ideia de que todo aquele que não se encaixa a um funcionamento social esperado, uma “normalidade”, caracterizamos como louco. Ampliou-se a gestão da saúde através do SUS, da criação de CAPS, políticas de saúde mental para todos…porém, ampliou-se exponencialmente um novo espectro da loucura. Entendemos e caracterizamos qualquer dor de cabeça, dor muscular, enjoo, esquecimento como um tipo de transtorno metal. Esse novo arranjo da loucura vem com um rótulo social, de humanizada e menos estigmatizada.
A intenção de promover autonomia acabou gerando mais dependência no momento em que o usuário só se sente bem e acolhido nos espaços para atendimento de doenças mentais.
Minha crítica recai não no Sistema de Saúde, mas em como nós estamos vendo a saúde. Tentamos enquadrar e categorizar todo e qualquer sintoma a um transtorno, por mais básico que seja. É a sociedade? É a mídia? Mudamos o nosso modo de ver a doença mental? Talvez esteja sendo lucrativo para alguém, ou talvez seja uma boa forma de controle social- excludente! A Reforma Psiquiátrica mudou muito as Instituições de atendimento a saúde mental, mas acredito que o Sistema excludente de manicômio, a centralização da psiquiatria e a política de higienização mental, tenham deixado heranças no nosso modo de pensar e de gestão da vida. Deixemos tratar de pessoas que realmente possuem transtorno mental para atender toda e qualquer conduta de forma geral que possa a ser visibilizada e sentida como anormalidade.
Texto elaborado para a disciplina de Introdução à Psicologia da Saúde, ministrada pelo Profº Msc. Douglas Casaroto, no Curso de Psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria – FISMA.
Por Elias
Muito bom teu texto Bruna Farias, realmente o questionamento que você fez em torno do que é entendido como doença mental e como nós tratamos esses “doentes”, ainda precisa de um amplo debate com a sociedade como um todo, o desafio é grande, mas estamos no caminho, abração e parabéns!!!