Presidente da Abrasco debate gestão na 15ª CNS

Olá, pessoas humanas.

Do alto da colina da perplexidade e do Gólgota do desânimo, escrevo.

Confesso que estou em um momento de grande pessimismo. Pessimismo, talvez, do cansaço do fim da vida. Olho para trás e pera o agora e estou com uma espécie de miopia de luz e de desejo do novo.

Tô meio cansado esse conversê surrado dos mesmos. Toda vez que ouço esses preciosos fico com a sensação de uma roda perpétua de dejá vu.

O SUS está aprisionado pelo discurso de alguns e seu corolário, o silêncio de muitos.

Vamos imaginar uma décima quinta conferência com mesas compostas por gentes como a Patrícia, a Débora, o Carlos Garcia, o Pedro Ivo, dizendo do SUS. Como seria?

Como seria dizer do SUS real desfetichizado, nu.

Os modelos de atenção e de gestão já estão postos. Já se sabe de há muito quais modelos há e quais as opções organizativas que estão no cardápio da instituição. Mas tudo se traveste de discurso. Esses momentos de encontro da comunidade SUS são oportunidades para o encontro, mas também para a exibição dos mesmos, dizendo o mesmo, deslocado é descolado do real.

Ja se sabe tudo isso. Agora, lá no SUS as coisas são bem diferentes. Os comandos do SUS em um Estado como o nosso, em todos os níveis federados são prisioneiros de interesses privados transformando todo o real do SUS em rebanho.

Prefiro, hoje, ler os posts da RHS.

Cansei de roupa surrada. Prefiro andar nu.

Beijo desculposo pelo pessimismo.

Carlão.

"Toda teoria deve ser feita para poder ser posta em prática, e toda prática deve obedecer a uma teoria.
Só os espíritos superficiais desligam a teoria da prática, não olhando o que a teoria não é senão uma teoria da prática, e a prática não é senão a prática de uma teoria"
Fernando Pessoa

A professora Lenir Santos termina a sua fala citando Fernando Pessoa e um cansaço também me abateu, ao assistir as palestras do prof Gastão, da Professora Lenir e do secretário de saúde de Minas, Fausto Pereira.

Professor Gastão não é apenas um teórico do SUS, teve a coragem de sair da torre de marfim da universidade e se envolveu na luta política para a implantação de um SUS humanizado, respeitando os trabalhadores e militantes da saúde. Talvez por isso é que foi penalizado, sendo impedido de voltar a atuar em cargos do governo. A própria política de Humanização surgiu de sua gestão como secretário-executivo do Ministério da Saúde no primeiro governo Lula.

Muitos dos que ocupam cargos no SUS foram seus alunos, mas que não tem a coragem de assumir a radicalidade na sua forma de pensar, ficando apenas nos discursos quando assumem cargos, ou escondidos em "papers" acadêmicos, quando encastelados nas torres de marfim, sem a coragem de enfrentar o SUS real desfetichizado, como cita.

Também me sinto cansado, mas não pelos discursos dos mesmos, mas pela falta de coragem dos novos, de assumir, de fato, aquilo que há tantos anos se fala, há tantos anos se pede.

Professor defensor do SUS <  entrevista de Gastão Wagner – O gerenciamento do SUS tem vários problemas. Alguns são decorrentes do federalismo brasileiro, da dificuldade de integração entre os municípios, os estados e a União, entre o Ministério da Saúde e as secretarias estaduais. A autonomia faz com o Ministério tenha algumas prioridades, e os estados e municípios, outras. A tradição clientelista do Estado brasileiro é outro problema sério. Os governantes dos vários níveis da federação fazem alianças com partidos, com grupos políticos, e a moeda de troca costuma ser cargos e diferentes interesses. Isso vem acontecendo no SUS, o que faz com que ele seja formado não por pessoas com capacidade para trabalhar com saúde, mas por aqueles que têm representatividade nos partidos. O terceiro problema é que não houve uma reforma administrativa importante, então as normas da administração direta do Estado brasileiro foram transportadas para o SUS sem nenhuma adaptação, sem considerar as especificidades da saúde. Isso tem emperrado e dificultado licitações, reposições, compra de produtos, contratação de pessoas. Quanto ao financiamento, há um problema grave: nós não temos recursos necessários para o conjunto de responsa-bilidades sanitárias do SUS. O que temos é um subfinanciamento crônico e não há disposição política dos vários governos de fazer um investimento maior no SUS. Assim se faz a gestão da miséria, se é obrigado a priorizar alguns programas, algumas integrações, em detrimento de outros. A sus¬tentabilidade do SUS até agora tem se dado devido a um grau muito grande de exploração dos profissionais do SUS: são mal remunerados, não têm carreira, não têm estabilidade, não têm uma política de aposentadoria adequada. Então o subfinancia¬mento tem consequências muito negativas.ele>

Oi Carlão,

Você sempre antenado com a Rede, e colaborando com a ampliação do debate neste espaço. Isto é muito legal!

Li, reli, li e reli novamente,  tentando entender a sua escrita, com as minhas, muitas, limitações. E deixa ver se eu entendi: você fala que está cansado da mesmice e dos mesmos, e do silêncio dos  novos. Se for isto, concordo, mas em parte.  Também gosto do novo, de ideias pioneiras. Entretanto, penso que não podemos desvalorizar os experientes e qualificados, abandonar as velhas propostas/ideias que ainda não foram superadas pelas novas. Principalmente no campo da saúde, quando sabemos que velhos problemas ainda persistem e têm mesmo que ser martelados, “batidos nas mesmas teclas”, até que sejam resolvidos. Penso que há espaço para todos.

Não só o velho, não só o novo.  Sou a favor da inclusão de todos!

Como que seria uma conferência de saúde com mesas compostas por gentes como a Patrícia, a Débora, o Carlos Garcia, o Pedro Ivo, dizendo do SUS? Nossa, penso que seria muito legal, principalmente agregada a outras “experiências”, tipo: você, Zé Ivo, Gastão e outros, outros, outros, porque não?

Obrigada pela sua presença sempre tão enriquecedora, neste espaço! Nos ensina muito! E espero que o seu desânimo seja passageiro! Você ainda tem muito o que contribuir para o SUS que queremos!

Bjs!

Emília

Estava em Brasília e ouvir o professor Gastão sempre me inspira, pelo enorme respeito que ele tem pelos trabalhadores do SUS e pelo seu jeito provocador, de não fugir às questões mais difíceis de organização do sistema.

E a sua fala não foi diferente do que eu esperava. A mensagem da Angela Vaz confirma este respeito que ele tem aos trabalhadores do SUS: "A sustentabilidade do SUS até agora tem se dado devido a um grau muito grande de exploração dos profissionais do SUS: são mal remunerados, não têm carreira, não têm estabilidade, não têm uma política de aposentadoria adequada."

Vejo pelo perfil de vcs que somos de pontos diferentes do país, e no entanto, mesmo com a diversidade de origens, realidades distintas de SUS , conseguimos dialogar, tentar perceber o que se passa, entender o outro, mais do que ter a razão.

Eu sou pelo SUS da alteridade de todos, e pela autoridade daqueles que o defendem não por uma vaidade pessoal, mas pelo bem-comum de todos.

Professor Gastão é uma destas raras pessoas que encontrei na vida com alteridade e autoridade misturadas para defender o SUS.

Quem sabe, um dia, ele seja o Zuckerberg de uma Rede Social do SUS, não para o enriquecimento próprio, como o dono do Facebook, mas para a valorização da vida, daqueles que lutam por um SUS de todos.

Olá Evaldo e Ângela,

Também sou uma grande admiradora do Gastão, pela sua admirável luta de construção e defesa do SUS. Tive a oportunidade de assistir uma palestra sua no 10º Congresso da ABRASCO e pude constatar o que já sabia,  o respeito e o carinho que as pessoas têm por ele. A sala do evento lotou, as pessoas ficaram se acotovelando em pé para assisti-lo. Os debates foram intensos. No final da sua fala, todos queriam tirar fotos com ele, inclusive eu.

É impossível falar em SUS sem pensar no Gastão Wagner, como uma das suas potentes referências.

É isto. Vamos em frente!

Abraços!
Emília

Olás, pessoas humanas.

Terminei minha escrita no comentário anterior pedindo desculpas pelo meu pessimismo.

Gostaria de ressaltar que não estou falando de pessoas. Respeito muitíssimo os componentes da mesa e, em especial o Gastão, que conheço desde 1977, do qual fui colega de profissão na Academia. A quem acompanhei por todas essas décadas de militância por um sistema de saúde como o SUS. Por quem guardo carinho e reconheço a importância que tem para o SUS.

O Evaldo foi na mosca da minha argumentação, na medida em que localizo a necessidade de renovação do discurso. Vejam, estou falando de discursos que, por mais brilhantes que sejam, necessitam ser apropriados pelas novas feições que o SUS tem adquirido nessa trajetória ainda recente.

Como a Lenir, no ABRASCÃO, disse (e que me levou às lágrimas): "não me arrependo de nada". Óbvio está que a voz dos "véio" como eu tem lugar. Meu cansaço se referiu ao discurso que precisa urgentemente de renovação, no meu entender. Por isso minha convocatória aos novos. Por isso minha indicação de exibir o SUS em sua nudez, como vem sendo feito aqui na RHS.

Minha posição de "veio" me obriga a auxiliar a entrada do novo e do ar límpido daqueles cujo desejo está a flor da pele e a energia flui  por todos os poros.

Lembro do papa João XXIII, lá pelos idos dos anos sessenta. Conta-se que, no momento em que reúne o sínodo para anunciar seu desejo de convocar o Concílio Vaticano XIII, ouviu a oposição do cardinalato da Igreja Romana e, pacientemente  dirigiu à janela da sala de em que estavam, abriu-a e afirmou: "Este é o meu desejo. Faz-se necessário ar". É disto que falo. Há que convocar os novos para, com os "veio", firmarem novos rumos na guerra na qual o SUS está incluído.

Beijo todos.

Carlão.