Análise do hábito e da arte de criticar companheiros.
Neste texto proponho uma análise da crítica no contexto institucional. Analisaremos as fontes de informação, tanto para a crítica, quanto para a apresentação de propostas. Pensaremos as instituições com um índice de crítica mais alto do que o de propostas, comparando com situações de equilíbrio entre ocorrência de críticas e de propostas. Também veremos algumas das razões que explicam essas diferentes configurações de trabalho em equipe.
Qual a quantidade de inteligência necessária para realizar uma crítica e qual a quantidade de inteligência para fazer uma proposta?
Evidentemente que a inteligência necessária não varia numa ou noutra situação. A inteligência varia, se a tese estiver correta, mais entre os atores do que nas ações dos mesmos. No entanto, a crítica se esgota em si mesma. Não há como comprová-la. Ela muda o resultado da ação, pois fornece um novo dado que é incorporado ao processo. De modo que ao final temos um resultado que incorporou a crítica. Para o bem ou para o mal. Para o bem, se a crítica foi construtiva, e para o mal se a crítica se limita a ser destrutiva. Ou seja, se ela profetiza o fracasso e não acrescenta mais nada a ação. Nesse caso, só vale como alerta.
No caso da crítica construtiva o máximo que se consegue verificar é que houve a mudança de rumo e alteração do resultado final. O que não se pode saber é o que teria ocorrido se ela não tivesse sido proferida. É apenas se. No caso da crítica destrutiva é ainda pior. Ela não acrescenta nada ao trabalho e em geral paralisa as ações.
Na prática ela diz: se é arriscado, pare. Em alguns casos esta parece ser realmente a melhor conduta. Mas na verdade nunca é. Todos estão em movimento no jogo social. Parar significa ser um alvo fixo ou ficar para traz, sair do jogo. Nesse caso não se pode perder, mas é impossível ganhar. E ninguém cria uma instituição que consome recursos significativos para ela ficar parada. As pessoas criam instituições para movimentar-se, arriscar interferir no resultado e não serem apenas expectadoras.
Agora vamos analisar o ponto fundamental deste texto: – As instituições em que a maioria dos membros se dedica a crítica.
Consideremos que a característica principal da proposta é o trabalho de execução, enquanto que característica da crítica não implica em trabalho efetivo. Uma instituição com uma maioria de membros críticos é uma instituição de pouco trabalho. Nesta entidade se aponta uma falha e fica aguardando para ver se a falha se confirma ou não. Se a crítica for construtiva, provavelmente seu autor começará a trabalhar no ajuste para corrigir o erro. Se for destrutiva, ele vai torcer pelo fracasso.
A questão central é que as pessoas que optam pela crítica estão buscando o caminho mais fácil. Se este for um hábito de uma parte considerável do grupo, pode-se diagnosticar que as pessoas consciente ou inconscientemente percebem sua impotência para formular e efetivar propostas. Ou seja, a maioria se vê como incapaz e não conseguem trabalhar.
Não só porque é mais simples e fácil criticar, mas precisamente por que a fonte de informação da crítica destrutiva está mais acessível. A fonte da crítica destrutiva é o autoconhecimento. É a sabedoria que vem de dentro. Eu conheço a impotência, a ma fé e a incapacidade em mim mesmo. Então, basta projetar esse conhecimento no outro. Imaginar ou mais precisamente, sentir como eu agiria se estivesse no lugar do outro. Então, quanto mais incapaz pessoalmente, mais capaz se é de criticar os outros.
Evidentemente que nesse caso a pessoa não vai saber nada sobre a critica construtiva ou sobre como fazer propostas. Por que a fonte do conhecimento para criticar com responsabilidade vai além do que eu sei sobre mim mesmo. É preciso mais saber do que o que se vê quando se olha no espelho.
Para fazer uma critica qualificada o agente deve agregar conhecimento do mundo externo. Ele deve conhecer dados da realidade, técnicas, formas de proceder. É preciso estudar, ler, perseverar, ter experiência e acima de tudo ter coragem, ousadia para arriscar o erro. É um processo complexo de elaboração que exige a mobilização de inteligência coletiva.
A proposta tem o caráter de ser uma inovação. Produção de algo inexistente, de uma forma nova de fazer, de uma nova técnica ou modo de trabalho. Já a critica, se baseia no passado. Se ela é construtiva, se baseia na reconstituição histórica e em dados experimentais.
Mas, se a crítica é destrutiva ela se fundamenta apenas no autoconhecimento. A pessoa vê em si mesma a impotência e a projeta para fora.
Então, o diagnóstico de instituições em que a crítica prevalece é sinistro. Elas ficam emperradas, pois são muito eficientes na critica e impotentes para fazer propostas que as tirem da inércia.
Além disso, os que tiverem a audácia de fazer propostas irão sofrer muito. Porque na medida em que fizerem propostas, em que tentarem inovar, vão sofrer ataques de um grupo hegemônico que não aceita o risco inerente as mudanças. Veremos um grupo considerável de pessoas que não acredita em si mesmo e que vai projetar essa crença nos atores propositivos.
O recomendável para instituições saudáveis é que haja um equilíbrio entre a Inteligência que é despendida para a crítica e para a realização e efetivação de propostas. Se analisarmos uma instituição portadora de muitos elementos que se dedicam a crítica destrutiva, veremos uma instituição paralisada. Já em uma instituição onde não ocorre nenhuma crítica, veremos a marca da onipotência. Ou seja, a incapacidade de auto-avaliação.
Mas aqui o foco são as instituições em que prevalece um número considerável de membros, de pessoas que são especialistas em fazer críticas. Por que, então, concluindo:
– A crítica é mais simples, mais fácil e baseada no conhecimento de si mesmo projetado sobre o evento e sobre os indivíduos que propõe e trabalham. A proposta é mais difícil porque ela depende de um conhecimento externo, um conhecimento, da realidade que implica estudo, dedicação compromisso e responsabilidade. Mas acima de tudo a coragem. A coragem de propor o novo e de tentar fazê-lo. Arriscar-se a errar, enfim.
Isso é o que o crítico rasteiro não consegue fazer. Ele não consegue pintar um bom quadro. Não vai arriscar-se a fazer uma pintura, não vai tentar apreender. Porém vai criticar quem pinta, vai querer julgar se a obra de quem se dedicou ao trabalho tem valor ou não tem valor. Este hábito não produz boa pintura e pode dificultar o trabalho de quem deseja ser um bom pintor.
Essa é a minha avaliação sobre instituições em que prevalece o hábito da crítica sobre o trabalho de apresentar e desenvolver projetos coletivamente.
Acredito no aprimoramento dos modos de gestão a partir do uso racional da crítica e da apresentação de propostas.
O principal motivo de minha afirmação é que vejo em alguns gestores do SUS o crescimento da apresentação de propostas como forma de responder ao investimento que a população faz no sistemas de saúde.
Quando o prestígio passa a ser medido em termos valorosos como a coragem e a disposição para o trabalho e não nas críticas e fofocas que põe em julgamento a vida pessoal e íntima dos atores, a instituição se move. A entidade fica viva, seus órgãos pulsam irrigados pela circulação do conhecimento, dos saberes compartilhados e da complementaridade de cada pasta da diretoria.
É para isso que as pessoas pactuam em torno de instituições como os SUS. A segurança é um estado desejável. Mas o mundo não é um lugar seguro e por isso, para defender nossos direitos em um contexto social de incertezas e abusos é que apostamos no SUS.
Marco Pires
Assessor Político e Institucional
Adaptado de um artigo para assessoria sindical
Por Herberth Magalhães
Simplesmente Amei a leitura… Refleti muito!
Fala de uma realidade constante na área da saúde, e não somente nela como a vida!
Criticar é mais fácil… Mas o que será mais útil???