SONHO E NATAL

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Mais uma vez, miguelianamente, um comentário vai virar um post, como de costume.

Desta vez, ao post do querido e instigante Erasmo Ruiz (https://redehumanizasus.net/usuario/erasmo-ruiz) faço várias inversões, desta vez até mesmo da foto (que me perdoem os autores). Mas isto porque, sem divergir, no policromatismo, acrescento novos nuances aos autores, compondo com eles.

Há um muito de ondas de ódio no ar, há um muito de desencanto e desalento em que nem todos os piscas piscas universais parecem estimular um pouco de confiança. Talvez seja porque estamos nos dando conta que a esperança, tão decantada em votos e hipocrisia, seja aquela última ‘praga’ deixada no fundo da caixa de Pandora e, sinal de crescimento, estejamos começando a nos dar conta que esperar só já não é suficiente.

Esperamos em nosso luxo confortável, nos sofás de seda e nos plasmas cada vez maiores, como se pudéssemos, peixes, viver num aquário. É mais do que hora de aprendermos que não teremos presente se matarmos o futuro em nome de um passado por demais conservador que, ganancioso, espera que esperemos enquanto, pisoteando nossos maiores sonhos com alpargatas de aço, faz do mundo seus champagnes e caviás, consumidos muitas vezes com os desvios de rios de verbas públicas que deixam de ser públicas para servirem de ostentação medíocre daqueles que, insensíveis, acham que o mundo deve ser o melhor lugar do mundo somente para eles mesmos e os seus.

Enfim, não quero ser pessimista, quero ser lúcido. A esperança vai já se tornando há muito uma ‘má consciência” e, talvez, possamos dizer, ela hoje é o ópio do povo. Não é mesmo a toa que estamos vemos a violência se espalhar. Afinal qual é o submetido que, no limite, após ver o vazio de sua potência se estender numa espécie de campo de concentração dos oprimidos disfarçado em pão e circo, não vá acabar se convencendo que não fazer nada é ser cúmplice de seu próprio assassinato, numa espécie de suicídio consentido em que o assassinado finge que sua morte é falta de sua própria capacidade de produzir vida, quando isto lhe é negado por todos os lados?

Mundo difícil, dias difíceis e tenho tudo para acreditar, os motivos mantenho comigo, que 2016 será um ano de contorções sociais violentas pelo mundo todo. Há um grito de vida espalhado pelo planeta e nascer, ou quem sabe renascer, é algo violento que se faz entre contorções, sangue e dor, até que venha o choro da vitória, quando o ar finalmente abre os pulmões da vida que se afirma.

Enfim, atenção e cuidado sempre, principalmente nos julgar os acontecimentos.

Diria, não divergindo, mas reafirmando sua intenção: que Jesus continue nascendo na manjedoura de nossas almas entorpecidas pelo luxo fácil e consumível, porque, como penso, o que nos vem de potência energética quando vivemos o Natal não é idílico, não é nostálgico, mas um impulso quase a-histórico de que toda vida ao vir á luz é pobre, frágil e desprovida de forças, mas que, amparada, pode se transformar em qualquer coisa para o bem ou para o mal.

O apocalipse não será jamais a ira de Deus, de qualquer Deus, seja lá o nome que lhe confiemos ou aprendamos a confiar, o apocalipse é coisa de homens, demasiadamente humanos que, diante da vida e de sua vida, desqualifica todas as outras e, ente Jesus e Barrabás, crucifica o amor e resolve ser, não composição, mas ladrão de potências. O mundo está cheio de falsos profetas…

Confiemos sim, mas não só na confiança da esperança, mas na do esforço de não esmorecermos frente ao cansaço de defender qualquer vida, ainda que precisemos utilizar a nossa, no limite, para que isto seja possível.
Não nos conformemos nunca, sejamos sempre combatentes e guerreiros das lutas inglórias, com prudência, atenção e cuidado extremo de não confundirmos aquilo que somos com o que todo mundo deve ser.

Renasçamos todos na manjedoura, portanto…

Nem mártir, nem avatar, apenas ínfima poeira de partícula cósmica, mas que, por ser, já é toda diferença e diferente.

Não confiemos em ninguém igual ou que promova a igualdade como extirpação de toda diferença. Para mim, germe do fundamentalismo assassino e do messianismo dos infernos.

Só acreditaria num Deus que sabe dançar…