Boaventura prega valorização dos saberes populares

Querida Emília, sou muito fã dele!! E, sua lembrança, justo agora, acabou de me inspirar na dissertação… beijão, obrigada 

Oi, Emília e demais pessoas humanas.

A fala dele é o reconhecimento da falência do esforço civilizatório promovido desde a modernidade pela elite burguesa que assumiu os destinos da maioria esmagadora dos humanos. Quais seriam os sinais dessa falência?

1) O aprofundamento das desigualdades econômicas e sociais;

2) A descreça na equação fundante desses nossos valores que associa a razão com a virtude e a felicidade;

3) A ausência de diálogo político nas instituições e mesmo nas sociedades com a inclusão, não diria dos derrotados, mas dos desqualificados pelas elites movidas a Capital e a Mercado;

4) A grande crise mundial da democracia, não apenas da democracia representativa. Hoje existe uma espécie de banalização dos atos não democráticos. Le Pen é um dos exemplos disso;

5) A falta de uma elite estadista que se permita ouvir a maioria das pessoas;

6) E, por último, talvez mais importante, a absorção do discurso individualizante, privatizante e personalizante da burguesia pela parcela daqueles que o Boaventura denomina de vencidos.

Penso que esses vencidos só se tornam tais quando procedem a mencionada absorção e a transformam em valor. Boa parte desses sujeitos aspiram nada mais do que "ter" aos moldes da assertiva burguesa.

Exemplos há inúmeros, mas dou um só. Qual a atitude dos movimentos sindicais com relação à defesa do SUS? Percebo indiferença e negação. Para mim tal atitude revela adesão aos ideais da eleite burguesa. Nisto são decadentes e vencidos. Abdicam do seu lugar na luta pela efetivação da cidadania plena e universal e responde  positivamente à convocação burguesa.

Ora, se tomo para mim o discurso que me nega, como posso aspirar ter ouvidos acolhedores justamente entre aqueles que só tem a me oferecer nada mais do que a servidão?

Pergunta que deixo em aberto para o debate.

Beijo  todos

Carlão

Ótimo esse texto,nos permite entender a visão do sociólogo com relação aos saberes…bem verdade quando diz que as universidades não ensinam o conhecimento para os vencidos.Imprescindivelmente a valorizaçã dos saberes populares é fundamental para a transformação dp conhecimento.Onde a vertente da realidade também há um saber.
Muito bom Emília!

Oi Carlão,

Muito pertinentes as suas reflexões! Não há como negar essa decadência da sociedade.  Existe uma perda visível de prumo,  de respeito pelo outro, de tolerância, de noção das coisas em todas as instâncias.

Entretanto, percebo que há uma luz no fim do túnel. O povo, os vencidos  estão acordando, voltando às ruas, ocupando espaços, querendo mudanças. Parece pouco, mas põe um pouco de freio. Os políticos, os gestores, doravante, vão ter que repensar seus valores, suas práticas. “O povo está de olho”

Aspirar acolhimento entre os trabalhadores que também são carentes de acolhida, realmente é uma tarefa nada fácil! Exige mudanças nos modelos de gestão e de atenção,  com  fomento da valorização do trabalho, dos trabalhadores, do protagonismo das pessoas. Um grande desafio na produção de saúde.

Que tenhamos um 2016 melhor!

Abraços!

Emília

"Ora, se tomo para mim o discurso que me nega, como posso aspirar ter ouvidos acolhedores justamente entre aqueles que só tem a me oferecer nada mais do que a servidão?"

No penúltimo dia do ano penso nesta pergunta do Carlos Rivoredo.
Conheço pouco Boaventura, o seu livro "Conhecimento Prudente para uma Vida Decente", em que ele dialoga com vários autores o método científico e o seu distanciamento da prática e do quotidiano da vida da maioria das pessoas, não consegui ler. São mais de 800 páginas em que uma leitura superficial não me permitiria assimilar seu conteúdo, me falta tempo para a cognição, ou simplesmente, deficit cognitivo!…rsrsr

Mas acho que a pergunta do Carlos envolve uma questão mais pragmática, que seria refletirmos sobre o poder e os valores que defendemos. O modo de pensar está contaminado com a ideia de "nós contra eles", em que os grupos, os guetos, as tribos nas redes virtuais, se unem, mesmo que provisoriamente, para ser contra um outro grupo na base do ódio e da revanche. E quando isso extrapola para a realidade vemos as brigas de torcidas marcadas pelo Facebook e os atentados cruéis organizados pelas redes.

Parece que pensamos diferente nestes novos tempos de Internet, mas para realizar as mesmas formas de poder, seja pela acumulação do capital, ou pelo simples prazer de dizer que agora, eu mando sobre aqueles que antes mandavam em mim, na organização política e hierárquica da sociedade. Uma forma de pensar que não mudou através dos séculos de História humana.

Se o "humano" é esta forma de se comportar, como mudar? A intuição me diz que seria pela arte, pela alteridade, mas a razão, que é a forma dominante de nos organizarmos pede um método, uma autoridade que a sensibilidade não tem.

O SUS fala muito de organização EM REDE atualmente. Precisaríamos pensar que rede é essa que queremos, se a luta pela autoridade dentro do sistema hierárquico, ou a fraterna alteridade pelo bem-comum, numa forma diferente de organização. Água e óleo que não se misturam, sem solução?

Prefiro continuar acreditando que ainda não conseguimos encontrar a solução, a mistura de autoridade e alteridade que está nas mãos de um mago que ainda, infelizmente, não teve a chance de mostrar que isso é possível, é miscível. O poder litigioso do "status quo"  não deixa, mas um dia, terá que ceder. É só não desistirmos.

Feliz 2016 a todos!