Quais políticos brasileiros substituiriam estes tiranos?
Telmo Kiguel
Médico Psiquiatra
Psicoterapeuta
Peças substituem marido por líderes tiranos
A violência doméstica não é um problema local. Mesmo em alguns dos países mais desenvolvidos do mundo, os incidentes do gênero fazem inúmeras vítimas, algumas delas fatais, inclusive. Na Suiça, por exemplo, uma mulher morre a cada duas semanas nas mãos de seus parceiros, maridos ou apenas namorados.
A campanha abaixo, apesar de ser aparentemente bem simples, surpreende pela sacada dramática: colocando alguns dos maiores tiranos da humanidade na pele do “companheiro” de mulheres anônimas. Nas peças estão figuras sombrias como Muamar Kadafi, Josef Stalin e Saddam Hussein.
O trabalho foi criado pela Publicis de Zurique para a Frauenzentralen, uma entidade independente que defende o interesse das mulheres.
Fonte: https://www.adnews.com.br/publicidade/pecas-substituem-marido-por-lideres-tiranos
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https://saudepublicada.sul21.com.br/2015/12/21/o-natal-aumenta-a-violencia-domestica/
Por Carlos Rivorêdo
Olá, Telmo e demais pessoas humanas.
O tema importa pela sua atualidade, pela sua permanência e pela sua gravidade.
A título de contribuição para o diálogo, teço alguns comentários:
1) a propósito das imagens. Atento para o detalhe da origem dos homens demonizados nelas mesmas. E das mulheres fetichizadas que representam as milhares (ou milhões) de mulheres vítimas das mais diversas formas de violência nesta nossa sociedade doente.
Desejo ressaltar que não estou eximindo de culpa o papel que os homens representados tiveram para História. Contudo, os homens que aqui aparecem reforçam outros preconceitos. São todos inimigos políticos do que se convencionou denominar de "Ocidente". Um é russo, os outros dois, muçulmanos. Poderíamos cogitar que esteja, sob a explicitude da imagem, uma espécie de demonização que tem mensagem eminentemente política. Vejam, não é Hitler, Mussolini, Franco, Garrastazu Médici, Peron, O J Simpson, George W. Bush, Constantino, Vespaciano ou qualquer outro tirano dos muitos que proliferaram na história. São todos "inimigos do Ocidente".
E as mulheres? Essas são a expressão das housewives. Todas dignas representantes das senhoras daquela camada da população identificada como WASP.
As imagens revelam intenções para aLém do óbvio.
2) o racismo é uma doença pandêmica. Ele povoa o Globo inteiro, desde os conflitos raciais entre chineses e japoneses até as expressões mais sutis, como as nossas lutinhas internas (comparadas às expressões mais violentas, como aquelas contra os negros norte-americanos ou as guerras de extinção no oriente médio).
3) boa parte das manifestações do racismo estão calcadas na origem médico-biológica herdada dos ideais eugênicos do final do século XIX e primeira metade do século XX. Todavia, o racismo é apenas uma expressão de outro fenômeno muito mais presente na textura social.
4) a origem dessa espécie de luta também tem elementos religiosos importantíssimos. Trata-se da afirmação do "seu" sistema de crenças como o único possível e expressão universal da verdade.
5) o fato é que a luta mais primitiva, ou primordial, é historicamente identificada com uma luta de raças, sendo raça aqui compreendida como tudo que é próprio de um sujeito ou de um grupo e que é necessário e automaticamente colocado como oposição a outro sujeito ou outro grupo. Nossa sociedade assumiu uma estrutura binária que se resume emblematicamente na dicotomia eu-outro; bem-mal; justo-injusto; racional-irracional; belo-feio, etc e tal.
6) Por fim, a origem. Para variar está na Grécia. Está em Sócrates. Está em seu discípulo, Platão. O sistema de valores que até hoje nos obriga a desqualificar o outro como menos, desvalorizado e, pior, passível de submissão e servidão e, no limite, aniquilação, se originou nesses dois brilhantes mentirosos.
A República , de Platão, impressiona pela sua atualidade. Porque? Simples e cruamente porque o livro nada mais é do que um tratado de moral que foi posteriormente e com a contribuição do judaísmo e do estoicismo, assimilados pela doutrina cristã. Mas essa origem também oferece outra mentira. Os valores que, no nosso tempo, justificam o racismo, o sexismo e todas as demais expressões da guerra das raças são tidos como universais.
E mais. A concepção dos homens e da convivência humana na visão de verdades absolutas socrático-platônicas implica a aniquilação do outro para afirmação de uma só verdade.
Enfim, a luta pela restauração do homem passa pelo reconhecimento do humano como linguagem (a inexistência da verdade absoluta), da transitoriedade das coisas (do tempo sem fim), da multiplicidade dos tipos (a inexistência do Mal e, por conseguinte do Bem), da restauração da disputa sem a aniquilação do outro (ou o retorno do Ágon grego antigo).
Mulheres, crianças, negros, índios, muçulmanos, cristãos, judeus, pobres do mundo, uni-vos revelando e exercendo a potência que cada um e todos têm pelo simples fato de serem humanos, demasiadamente humanos.
Beijo todos.
Carlão.