SOFRIMENTO HUMANO EM GESTÃO PÚBLICA DE SAÚDE DEFICITÁRIA.

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Sem menor intenção de parecer semeador de cizânia, ao contrário, persistente na busca de harmonia que viabilize acesso à saúde e o bem-estar de todos, particularmente, de pessoas de menores posses materiais, não posso omitir descontentamento diante do atual estado caótico da saúde pública no Brasil. O amadorismo persistente nas administrações públicas do setor saúde, de fato resulta em graves consequências para quem dependa exclusivamente de seus serviços.

Por inobservância de questões básicas de planejamento estratégico nos mecanismos de compras, armazenamento, distribuição e controle de materiais, equipamentos e insumos essenciais ao seu bom funcionamento, deixam-se de atender ou se postergam atendimentos inadiáveis para muitos, que, sem outra opção, amargam dor e sofrimento. Qualquer estudante de administração, logística, ou áreas afins, aprende que a organização dos estoques deve ser norteada pela data de fabricação e vencimento dos produtos, então, não há o que justifique desatenção para com mecanismos de controle de estocagem, entrada, saída e acondicionamento sequencial, para se evitar desperdícios.

A propósito, desperdícios quase exclusivos da administração pública, tidos lapsos inadmissíveis no setor privado. Curioso que na administração pública, partidarizada por demais, quando constatados tais prejuízos, ainda são majorados pela impulsiva decisão de gestores leigos prontos a apagar vestígios, decidindo por incinerar o que, muitas vezes, deveria ser objeto de troca com fornecedores. Ocorre que tais servidores públicos desconhecem regras dos processos de licitação e compras, tampouco são informados por quem de competência, ou se apresentam interessados em saber sobre seus detalhes.  

Não é por falta de pauta que somos frequentemente informados pelos meios de comunicação, do sofrimento humano decorrente da gestão pública inconsequente, irresponsável, omissa, quanto ao planejamento, execução e avaliação dos resultados, em termos de metas que atendam as demandas das populações. O erário não tem sido concebido pela grande maioria dos gestores públicos de saúde, como objeto para uso a favor do coletivo, mas, bem ou propriedade privada, passível de especulações, fonte inesgotável, elemento a serviço das suas ambições.

Com isso, o que vemos em abundância, são milhares de pessoas expostas ao descaso, cruelmente notificadas que terão suspensos tratamentos oncológicos fundamentais a manutenção da vida, seja por falta de equipamentos de exame e diagnóstico, seja pela indisponibilidade de medicamentos. É isso mesmo, informadas da própria sentença de morte, pois muitos não dispõem de recursos para recorrer ao tratamento na rede particular de saúde.  

Compadeço do sofrimento daqueles que dependem de sessões de hemodiálise até que recebam chamada do sistema, informando a identificação de doador renal compatível, livrando-lhes das máquinas. Sessões de hemodiálise cada vez mais escassas para usuários do Sistema Único de Saúde – SUS, tendo em vista a falta de materiais e equipamentos nas unidades públicas, além das restrições de agenda nos serviços conveniados.

Ao se recorrer aos serviços credenciados pelo SUS, na esperança de conseguir atendimento, muitos apenas encontram vagas a perder de vista, como se fosse possível ficar sem o tratamento, que deveria ser oferecido em caráter sistemático, inclusive, imediato, a depender da evolução do quadro. Na verdade, as tabelas de valores definidas pelo SUS para pagamento dos serviços credenciados fica deveras defasada, fazendo com que esses serviços decidam pelo atendimento mínimo estabelecido pelos órgãos de controle.

É notória persistência de escândalos envolvendo serviços credenciados pelo SUS. Denúncias e constatações de provas sobre planilhas superfaturadas de materiais que não foram utilizados, procedimentos não realizados, mas registrados, enfim, todo tipo de irregularidade por parte das empresas credenciadas. Porém, tivessem sido utilizados instrumentos eficazes de avaliação, controle e auditoria dos gestores públicos nas empresas conveniadas, bem poderiam ter sido evitados.

O que nos falta é que a gestão pública seja exercida por profissionais habilitados, bem remunerados, criteriosa e efetivamente avaliados no que diz respeito aos compromissos para com o público-alvo dos serviços a que estejam envolvidos, além de conscientes de que o erário pode lhes ser útil quando dele necessitarem.

 

Wiliam Machado